Menos de mil jovens com idade entre 16 e 17 anos estão aptos a votar em Brusque
Baixa procura pelo título de eleitor mostra que os adolescentes estão desacreditados da política
Sete adolescentes que completam 16 anos até o dia 7 de outubro, quando será realizado o primeiro turno das eleições 2018, foram até o Cartório Eleitoral de Brusque para fazer o seu título de eleitor e garantir o direito a voto neste ano.
Outros 206 adolescentes, com 16 anos já completos, e mais 629 com 17 anos, também fizeram o título de eleitor dentro do prazo e, por isso, poderão votar para deputado estadual, federal, senador, governador e presidente da República em Brusque.
O número, entretanto, é baixo, levando-se em consideração os 128,8 mil habitantes de Brusque, de acordo com a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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O mestre em Sociologia Política e professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Eduardo Guerini, afirma que o baixo número de adolescentes que foram em busca do título de eleitor para este ano é reflexo de um desinteresse do jovem pela política. “Com o cenário caótico que estamos vivendo, é natural. Não só o jovem, mas todos os eleitores estão desencantados com o quadro político atual”.
O professor destaca que desde a década de 1990, o jovem não tem uma participação efetiva na política, o que acontece porque, segundo ele, a maioria dos partidos não são abertos à participação do jovem. O afastamento do jovem de movimentos sociais, acadêmicos e de associação de bairros também é visto pelo professor como um fator fundamental pelo desinteresse na política.
“Com o tempo, os movimentos sociais que se reconstruíram ficaram muito polarizados: ou são de direita ou de esquerda. E essa polarização deixou grande parcela dos jovens afastados do interesse pela política. Nenhuma agremiação tem conseguido captar os jovens porque eles não se sentem representados”.
Guerini observa ainda que esta geração está amadurecendo mais tarde, o que também influencia diretamente no jeito de pensar a política. “Aos 16 anos, a maioria está em ritmo escolar, muito diferente de anos atrás. Antigamente, a vida profissional iniciava aos 15 anos e, com isso, a política acabava atraindo os jovens, eles tinham ambição”, diz.
“Há um desencanto, um desalento, uma desesperança sobre a política atual no país, não só por parte dos jovens, mas de toda a sociedade. No jovem, esse sentimento é potencializado”, completa.
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Exercer a cidadania
Lucas Matheus de Souza Quintino, 17, Maria Eduarda Hoffmann, 17, e Maria Eduarda de Souza, 17, estão entre os jovens que fizeram o título de eleitor neste ano e poderão votar pela primeira vez em outubro.
Os três são estudantes do terceirão do Colégio Cônsul Carlos Renaux e decidiram fazer o título, principalmente, por este ser um ano eleitoral. “Fiz para exercer a cidadania, fazer o meu papel como cidadã. Esta é uma forma de mudar o país”, diz Maria Eduarda de Souza.
Os jovens foram bastante incentivados pelos pais e, desde já, procuram pesquisar sobre a vida e o trabalho dos pré-candidatos. “Temos acesso muito fácil à internet, então é muito simples conhecer melhor os candidatos, a única coisa é que temos que tomar cuidado com as fake news (notícias falsas)”, diz Maria Eduarda Hoffmann.
Para eles, o baixo número de jovens que poderão votar nestas eleições é resultado de todas as notícias relacionadas à política nos últimos anos. “O jovem está desacreditado que um dia as coisas podem funcionar, por isso, não querem ter a responsabilidade de dar o voto e depois descobrir que a pessoa não mereceu”, destaca Lucas.
Os três estão bastante ansiosos para votar pela primeira vez e, ao mesmo tempo, com medo por tamanha responsabilidade. O principal desejo dos estudantes é que o cenário político atual mude para melhor. “Esperamos que os políticos parem de governar para si, e comecem a governar para o povo. Parece uma frase clichê, mas é isso o que falta para o país”, resume Maria Eduarda de Souza.
Para os estudantes, entretanto, uma política melhor começa com a mudança de pequenos hábitos da população. “Não adianta só cobrar dos políticos e não fazer a sua parte”, diz a jovem.