Talvez, durante o final de semana, você tenha ficado sabendo da morte da veteraníssima atriz global Eva Todor, aos 98 anos. Natural que você se lembre dela e das muitas novelas que ela fez. Mas a morte do pensador underground Luiz Carlos Maciel pode ter passado batida por você.

Também é natural. Ele foi uma daquelas pessoas fundamentais para quem estava no lugar certo, no tempo certo. Fundamental para quem teve o Pasquim como referência (sim, assim tão afastado no tempo… se você nasceu depois, não se culpe. São coisas que acontecem. De repente, você até tem influências daquele período, através de profissionais mais recentes, que levaram adiante esse legado. Nada é impossível.) ou que teve a primeira versão da Rolling Stone brasileira como referência. Para quem leu seus livros e para quem se sente, até hoje, meio cria da cultura underground que, milagrosamente, conseguiu criar algumas raízes no Brasil nos anos 60 e 70 do século passado. Sim, assim tão afastado no tempo.

Maciel morreu no último sábado, aos 79 anos, a tempo de entrar na lista das grandes perdas deste ano pesadelístico, por falência múltipla causada por uma doença pulmonar obstrutiva crônica que se agravou. O pensador da contracultura não teve, em seus anos finais, a valorização prática que merecia. Chegou a publicar uma nota tocante e tristíssima sobre estar desempregado. Que país é esse?

Sobre sua morte, jornalistas e intelectuais mais recentes se manifestaram, nas redes sociais. Que eles falem.

Começando pelo amigo Luiz Avelima: “fui considerado um desses participantes da chamada contracultura da qual Luiz Carlos Maciel, que nos deixou hoje, era um dos principais pensadores, uma espécie de guru. À sua leitura devo bastante. Tenho constante, ainda, o seu “Geração em Transe – Memórias do Tempo do Tropicalismo”, e ele sabia disso. (…)  Ah, Maciel, como lamento sua partida! Estou muitíssimo mais pobre.

Alex Antunes, que a “geração Bizz” conhece bem, também não deixou esta morte passar sem comentário: “maciel foi a primeira piscada da contracultura pra mim. lendo a coluna dele no pasquim, ainda criança, eu intui que tinha uma jogada ali que era revolucionária, mas não no sentido linearmente político que meu pai comuna ensinava. o mesmo feeling que tive ao ver o walter franco cantar cabeça. esse contexto foi muito definidor das minhas percepções futuras de mundo. rip

Quando alguém é importante para os importantes, a gente consegue perceber melhor o tamanho de sua envergadura.

Para completar, minha ídola pessoal, Ana Maria Bahiana, participante do mesmo ambiente fértil que Maciel: “Espero que o Brasil saiba quem ele perdeu hoje. Mas desconfio que não. Hoje eu perdi um mentor, uma inspiração e uma das pessoas que, como se dizia, fez a minha cabeça e me deu o rumo no jornalismo, especialmente num jornalismo que, como ele,está sendo abandonado, ignorado, desprezado até – o jornalismo que pensa. Hoje eu perdi uma das pessoas mais importantes da minha vida profissional. Zequinha, põe os Novos Baianos na vitrola e acende um, Maciel tá chegando. Salve aquele que se vai! O que é lembrado, vive.

A gente pode ter a esperança de mesmo quem seja esquecido receba um resgate, talvez pela velha e suspeita “necrofilia da arte”, talvez por um sentimento de saudade e culpa de quem ficou por aqui, tocando o bonde. Mesmo que sejam poucos (e bons?). Mesmo que sejam os que estão entrincheirados em alguma academia que ainda tenha espaço para o pensamento. Ou em coletivos mais livres e mais atentos à História, aquela que merece ser manuseada com atenção, cuidado, carinho. Basicamente porque é dela que a gente pode correr o risco de engendrar um futuro mais complexo, mais rico e menos idiota. Não sejamos idiotas, please.