Micro e pequenas empresas correspondem a 90% dos negócios de Brusque
Início das dificuldades das grandes indústrias têxteis da cidade coincidiu com o surgimento das pequenas
Boa parte desses negócios estão no setor têxtil. De acordo com o Pedem, 476 micro e pequenas empresas atuam no ramo têxtil, mas nem sempre esta foi uma característica da cidade que tem 137,6 mil habitantes, de acordo com projeção do IBGE em 2020.
Brusque já teve grandes indústrias têxteis que foram responsáveis pela maioria dos empregos no município durante muitos anos. Porém, com as dificuldades iniciadas no fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, as três principais indústrias da cidade – Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, Cia Industrial Schlösser e Buettner Indústria e Comércio – pouco a pouco foram abrindo espaço para as pequenas empresas.
As centenárias
Fundada em março de 1892, a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux foi a pioneira na cidade. A indústria, inclusive, foi a responsável pela primeira fiação de Santa Catarina, o que rendeu a Brusque o título de Berço da Fiação Catarinense.
Logo depois, surgiu a Buettner Indústria e Comércio, em 1898, ampliando a vocação de Brusque para o têxtil e dividindo a geração de emprego com a Renaux.
Quase 20 anos após a fundação da Fábrica Renaux, a terceira indústria têxtil inicia suas atividades em Brusque: a Cia Industrial Schlösser, em 1911, demonstrando toda a força da economia da cidade e a dependências das grandes indústrias.
Por muitas décadas, as três indústrias foram a base da economia da cidade, porém, a abertura comercial do Brasil trouxe impactos diretos nas grandes têxteis da cidade. A agonia das fábricas centenárias, que durante muitos anos foram símbolo do progresso do município, foi acompanhada com tristeza e preocupação por toda população até o fim, nos anos 2000.
Em 2011, na tentativa de salvar as histórias de mais de um século, as três indústrias entraram em recuperação judicial.
Começava um longo período de reformulação, visando resgatar o sucesso de outrora. Apesar das tentativas, a Fábrica Renaux, pioneira do setor têxtil em Brusque, sucumbiu e teve falência decretada em 15 de julho de 2013. A Buettner teve o mesmo destino, três anos depois, em 2016.
O processo de recuperação judicial da Schlösser chegou ao fim em 2018. Das centenárias, é a única que conseguiu concluí-lo sem decretar falência. Em 2011, apostou em uma parceria com a Buettner, utilizando parte da estrutura da empresa para manter as atividades. Com a falência da Buettner, o que restou da centenária Schlösser também teve que desocupar o espaço. Teoricamente, a Schlösser segue existindo, mas está paralisada.
A força do empreendedorismo
A decadência das grandes indústrias têxteis poderia ter provocado um colapso econômico em Brusque, mas quando os problemas iniciaram, muitas famílias decidiram empreender, abrindo a própria empresa dentro do mesmo segmento.
“As dificuldades das grandes propiciaram o aparecimento de várias outras empresas, que tomaram o espaço das centenárias com folga, tanto que o setor continua com geração de riqueza e sendo a principal economia da cidade”, observa Marcus Schlösser, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Brusque (Sifitec) e membro do Conselho de Administração da Schlösser.
Para o ex-presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque (Ampebr) e atual secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Ademir José Jorge, o espírito empreendedor do brusquense foi fundamental para que a cidade não fosse tão impactada pela crise das centenárias.
À medida que os anos avançavam, o número de empregados nas fábricas diminuía. Porém, muitos trabalhadores foram absorvidos por outras empresas que surgiram ao longo dos anos.
“Muitos ainda, devido à experiência que tinham, criaram suas próprias empresas, atuando como terceirizados. Com certeza, as centenárias trouxeram uma experiência grande para muitas pessoas que hoje são grandes empresários. A cidade não sentiu o número de desempregados porque rapidamente se recolocaram no mercado de trabalho”, observa o secretário.
De acordo com ele, atualmente, mais de 60% dos empregos em Brusque são gerados por micro e pequenas empresas. “São elas que sustentam e são responsáveis por grande parte da economia do nosso município”.
Rua Azambuja: berço das pequenas empresas
Um fato que contribuiu na transição das gigantes centenárias para as pequenas empresas em Brusque foi o surgimento do comércio na rua Azambuja, no bairro de mesmo nome, por volta de 1986.
O início das dificuldades das três principais indústrias coincidiu, justamente, com a criação de pequenas empresas de confecção naquela região. Em pouco tempo, o endereço ficou famoso. As empresas não paravam de surgir e compradores de todo o país absorviam a mercadoria. O local teve uma ascensão meteórica, puxada pelas pequenas empresas. Chegou a ter mais de mil lojas, a maioria voltada ao vestuário, o que rendeu à cidade o título de capital da pronta-entrega.
Assim como o sucesso, a queda ocorreu na mesma velocidade. Diversos fatores contribuíram para a decadência da rua Azambuja, em meados de 1995. Porém, muitas empresas conseguiram sobreviver e se mantêm ativas e produzindo até hoje, mas em outros endereços.
A Pronegócio, como já vimos, teve papel fundamental na sobrevivência das empresas durante a pandemia de Covid-19, mas também foi importante no período pós-queda da rua Azambuja.
Em 1997, a Associação das Indústrias e Comércio da Rua Azambuja (Aica), vinculou-se a Fampesc e se transformou na Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque (Ampebr).
Reestruturada, a entidade conseguiu implementar iniciativas para capacitar mão de obra e profissionalizar a gestão das empresas. Uma das ações criadas naquele ano foi a Pronegócio, que se transformou em uma ferramenta essencial para o micro e pequeno empresário do setor de confecção, garantindo a sobrevivência daquelas que chegaram para preencher a lacuna das grandes centenárias e manter a economia de Brusque, mesmo nos momentos mais turbulentos, como da Covid-19.