Milhares de fiéis fazem peregrinação ao Santuário Santa Paulina na Sexta-feira Santa

A pé, de bicicleta ou a cavalo, peregrinos realizaram a penitência tradicional

Milhares de fiéis fazem peregrinação ao Santuário Santa Paulina na Sexta-feira Santa

A pé, de bicicleta ou a cavalo, peregrinos realizaram a penitência tradicional

Nem o friozinho, o longo e íngreme caminho ou mesmo a densa neblina que pairou sobre a região na manhã desta Sexta-Feira Santa, 19, impediu que milhares de fiéis realizassem a tradicional peregrinação até o Santuário Santa Paulina, em Nova Trento. Um dos caminhos mais percorridos foi por meio do bairro Cedro Alto, em Brusque, em uma estrada de chão que sobe por morros e paisagens em meio à mata, que pode chegar a até 20km dependendo do ponto de partida.

Grupos dos mais distintos lugares do estado se reuniram para a aventura que reúne espiritualidade, prática esportiva e o contato com a natureza. Os meios de locomoção foram os mais variados: a pé, de bicicleta ou até mesmo a cavalo, os quilômetros até a terra de Santa Paulina foram cumpridos como forma de sacrifícios, agradecimentos por graças alcançadas, pagamento de promessas e penitências.

Cada um a seu modo, por suas motivações pessoais, fazia o esforço que exigia do preparo físico. Alguns paravam para descansar e secar o suor da testa, logo seguindo para não desistir. Na mochila não faltavam os itens básicos, como barras de cereal e muita água.

Enquanto os carros e motos ficaram na garagem, os fiéis aproveitaram o longo trajeto para refletir sobre o significado da Páscoa. Os grupos eram os mais variados possíveis. Solitários caminhantes, casais, grandes turmas de amigos e colegas de pedal se juntavam à peregrinação.

Décadas de experiência

Elias Riffel e José Moacir Cesari fazem a caminhada desde a década de 1990. Foto: Cristóvão Vieira

A dupla de amigos José Moacir Cesari, o Zeca Bombeiro, e Elias Riffel completa desde os anos 90 a caminhada até o santuário, realizada anualmente. O objetivo é espiritual, realizando a penitência para entrar em contato com Deus e refletir sobre o sacrifício de Jesus Cristo.

No começo, conforme explica Zeca, havia menos pessoas, mas em grupos maiores. “Quando iniciamos, na época, o incentivador era o padre Eli Lobato dos Santos. Nós vínhamos em centenas de pessoas, todas juntas. Agora vemos que ainda existe um grande número de pessoas, mas em grupos mais espalhados”.

A dupla partiu do bairro Rio Branco. Segundo Riffel, a Semana Santa é um momento propício para o encontro com a espiritualidade e a exaltação de Jesus. “Saímos por volta das 5h15. Temos uma devoção, é um sacrifício que vale a pena”.

Longa penitência

Tairine Pereira Costa e Janete Severino fizeram trajeto a pé de Camboriú. Foto: Cristóvão Vieira

Moradora de Itapema, Tairine Pereira Costa foi de carro até a casa da amiga Janete Severino, em Camboriú. De lá elas iniciaram a peregrinação a pé até o Santuário Santa Paulina, também passando pelo Cedro Alto em meio à neblina e aos diversos outros peregrinos que cruzaram pelo caminho das mulheres.

A caminhada começou às 20h de quinta-feira, 18. Por volta das 7h elas já estavam na subida de estrada de chão da Estrada do Imigrante, que liga os bairros Dom Joaquim e Cedro Alto até Nova Trento. “Eu já fiz esse trajeto quatro vezes. Tenho um propósito, venho para agradecer e buscar a minha superação”, afirma Janete.

Tairine confessa que a jornada não foi fácil. “Dá vontade de desistir no meio do caminho, mas a gente segue em frente. Gostamos muito daqui, e eu percebo que a preservação da natureza está ótima, ninguém joga lixo, as pessoas são educadas”.

Prática esportiva

Lucas de Souza Medrado e Jucélio Ademir Vieira Junior pedalaram desde Camboriú. Foto: Cristóvão Vieira

Há também quem aproveite os grupos de ciclistas para ganhar mais resistência e aperfeiçoar o pedal. Também vindos de Camboriú, Jucélio Ademir Vieira Junior e Lucas de Souza Medrado fizeram uma pequena pausa no pé do morro para ganhar fôlego, já que pedalavam desde as 3h.

Para Jucélio, o trajeto vai contribuir com a prática esportiva. “Nós pedalamos na nossa cidade e decidimos fazer esse longo trajeto, é um desafio. Começamos a cansar quando chegamos em Brusque, mas vamos alcançar nosso objetivo”.

Natural de Andorinha, na Bahia, Lucas se disse satisfeito com a pedalada. “Para mim é a primeira vez. Viemos em um grupo de uns 100 ciclistas. Vamos voltar pedalando, vai dar em torno de 140 quilômetros. Experiência única e muito valiosa”.

Jovens fiéis

Grupo de jovens do bairro Guarani, em Brusque, vem encontrando mais adeptos. Foto: Cristóvão Vieira

A peregrinação renova a cada ano, com cada vez mais jovens interessados no trajeto até Nova Trento. Isso pôde ser visto com um dos diversos grupos que realizou a caminhada a pé, vindo do bairro Guarani. Rafael Schlindwein, Amanda Machado, Jhulia Marine de Modesti Eccel, Douglas Hassmann, Douglas Tamasia, Lucas Paulo Ricardo Riffel e Maria Luiza Fischer integraram a equipe.

Conforme explica Riffel, a cada ano surgem mais adeptos. “Já faz uns cinco anos que viemos na Sexta-Feira Santa. O grupo começou com quatro pessoas, e está aumentando. A gente vem sempre por aqui, é mais tranquilo, tem menos movimento de veículos. Nós viemos sempre para agradecer por tudo que temos, faz bem para o corpo e para a mente”.

Amizade e reflexão

Trio de amigos da academia veio do bairro Águas Claras, em Brusque. Foto: Cristóvão Vieira

O grupo de amigos da academia composto por Jeison Lacerda, Tainara Till e Bruna Natalia Faian se desafiou e subiu de bicicleta o íngreme morro da Estrada do Imigrante. Foi a primeira vez de Bruna, que afirmou ter motivação religiosa. “É um momento de reflexão. Jesus deu a vida por nós, é um pequeno esforço para compensar este feito”.

Morador do bairro Águas Claras, Jeison realizou o trajeto pela terceira vez, e explica que já conhecia o lugar e pretender realizar a atividade todos os anos. Para Tainara, o contato com a natureza também faz valer a pena. “O dia a dia da gente é muito corrido, muitas vezes não dá pra contemplar lugares bonitos como esse”.

Subida a cavalo

Grupo de cavalgada também foi até o Santuário Santa Paulina. Foto: Cristóvão Vieira

Um dos grupos que mais chamou a atenção na peregrinação foi composto por quatro homens que subiram os morros em cavalos. Lembrando tempos antigos em que colonizadores e imigrantes atravessavam as cidades na montaria, eles pediram passagem em cima de bonitos e fortes animais, que mostraram resistência e vigor físico.

Paulo Zanin explica que as motivações para a ida até Santa Paulina depende de cada um dos membros do grupo de cavalgada. “Alguns vão pela fé, outros é porque gostam do passeio a cavalo mesmo. Já participamos há anos da peregrinação e é sempre uma alegria para a gente”.

Cerca de 20 mil visitantes
O Santuário Santa Paulina estima que mais de 20 mil peregrinos e devotos visitaram o local durante o fim de semana. A organização realizou celebrações especiais e bênçãos aos visitantes.

Alguns grupos de peregrinação iniciaram a caminha ainda março, como é o caso do grupo de São Leopoldo (RS), que reuniu dez caminhantes em um trajeto de 687 km durante 25 dias. Há ainda os participantes da 7ª Pedalada Caminhos de Santa Paulina, que percorreram 50 quilômetros pedalando entre Porto Belo e Nova Trento.

1ª Caminhada Vale dos Milagres
Nesta ano, a Prefeitura de Brusque realizou pela primeira vez a Caminhada Vale dos Milagres.

Cerca de 300 pessoas saíram às 23h do Santuário de Azambuja rumo ao Santuário de Santa Paulina. Durante a caminhada, foram entregues 800 frutas aos peregrinos, além de aproximadamente três mil copos de água. Além da ambulância e da Guarda de Trânsito (GTB), outros sete carros de apoio fizeram o acompanhamento.

Presente na caminhada, a Secretaria de Saúde efetuou aproximadamente 50 atendimentos aos cidadãos, como aferimento de pressão arterial, entre outros. Na chegada ao santuário, foi oferecido um café da manhã aos participantes, que puderam retornar para a casa com os cerca de seis ônibus contratados para o traslado.

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