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Minha vida e minha circunstância

Na semana passada, aqui mesmo neste espaço, escrevi algumas considerações a respeito da Vida e seu sentido. Lembrava que todos nós somos responsáveis na administração do dom da vida. Dizia que “ninguém pode viver minha vida”. Sou eu que tenho que dar um rumo, um sentido, portanto. Sou eu que vou construindo meu estilo de […]

Na semana passada, aqui mesmo neste espaço, escrevi algumas considerações a respeito da Vida e seu sentido. Lembrava que todos nós somos responsáveis na administração do dom da vida. Dizia que “ninguém pode viver minha vida”. Sou eu que tenho que dar um rumo, um sentido, portanto. Sou eu que vou construindo meu estilo de vida. Claro não sozinho, de modo isolado, separado da circunstância que estou inserido. Seria impossível, viver este estilo de vida, nos tempos atuais. Por isso, já no século passado, um filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-11955) nos lembrava que ninguém se faz sozinho. E, com grande sabedoria e bela reflexão, alertava-nos que o “eu” do ser humano é construído assim: “eu-sou eu-e-minha-circunstância”.

É bom notar o acento que ele dá a “minha circunstância”. Trata-se de levar em conta tudo que me circunda, que está no meu entorno. É com essa “circunstância” que vou edificando o meu estilo de vida. Também, vou gradativamente encontrando o caminho para fazer uma escolha, uma opção fundamental da minha vida terrena: o sentido, o rumo que quero dar a minha vida. Dessa escolha depende todas as outras escolhas de minha existência. Assim, vou tecendo a história de minha existência, da minha vida. Vivendo um estilo de vida que, certamente, vai afetar outras vidas que me rodeiam.

O ser humano ao longo de sua trajetória histórica realizou, em sua existência pessoal e sociocultural, vários estilos de vida. Não só o tempo, mas os vários espaços do planeta que ocupou também tiveram sua importância na composição destes estilos de vida. Assim aconteceu com o ser humano primitivo até ao ser humano, hoje denominado pós-moderno. Cada momento histórico terá sua circunstância. Assim acontece também no decurso, na construção de minha vida. A “minha circunstância” não é uma realidade estática. Mas, dinâmica que sofre transformações com frequência.

Tem pessoas que tem dificuldade de conviver com sua “circunstância”, outros que não aceitam terem que viver, nela. Por isso, se revoltam ou se acomodam de maneira que não conseguem se situar em sua circunstância. É evidente que, com essas disposições interiores que muitas vezes se manifestam em atitudes exteriores, não conseguem fazer suas escolhas que são necessárias para encontrar um sentido, um rumo para sua vida. Então, sentem-se desajustados em sua circunstância.

É muito frequente encontrar pessoas, por exemplo, que não aceitam a sua própria família, não se conformam com o estilo de vida que, nela, se vive. Sentem-se deslocados. Não conseguem se integrar nela. Por isso não conseguem desenvolver suas capacidades e não aceitam essa situação, essa circunstância de sua existência. Pelo contrário, rejeitam-na ou se refugiam numa idealizada que é traduzida em pensamentos de ordem ideal, como “se tivesse nascido em outra família”…. seria … “se meus pais” seria tudo diferente….e assim, por diante. Não se aceita a realidade nua e crua. Como ela é, portanto.

Aceitação, aqui, não é cruzar os braços ou dizer “sou assim” e não posso fazer o que quero. Não. Aceitação ativa, isto é, “essa é minha realidade concreta, o que posso, a partir dela, fazer, realizar efetivamente”. Esse é o ponto de referência fundamental para me situar em “minha circunstância” e como posso superar os obstáculos que tenho pela frente. Portanto, é construção, é edificação. E, não tem receitas prontas, nem cópias.

Há sempre uma possibilidade de encontrar sentido para a vida, em todas as circunstâncias. Em todas, haverá obstáculos a transpor.