Missões Urbanas oferecem abrigo e oportunidade de ressocialização para dependentes químicos
Casa de pastores na avenida Primeiro de Maio é habitada por 42 pessoas
Há sete anos em Brusque, o Ministério Terremoto Move Alicerces, Portas e Prisões (TMAPP), também conhecido como Missões Urbanas, acolhe homens jovens, adultos e idosos e realiza um trabalho ministerial, oferecendo abrigo para os que são encaminhados pelas famílias ou se apresentam voluntariamente à casa, localizada na avenida Primeiro de Maio. As atividades são conduzidas pelos pastores Tarcílio e Lucia Quirino, que vieram de Porto Alegre (RS) para se estabelecer na cidade.
“Levamos muitas pessoas daqui para Porto Alegre, aí surgiu o convite para vir pra cá e acabamos nos envolvendo no trabalho em Brusque”, conta o pastor. Hoje, ele e Lucia abrigam 42 pessoas na casa, que também é a residência deles.
Os moradores costumam permanecer no local por até um ano e, nesse meio tempo, recebem auxílio para abandonar a dependência das drogas e/ou a criminalidade. “Recebemos todos, sem preconceito nem critério. O único critério é ajudar quem precisa”, resume Quirino.
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A casa é mantida com a ajuda de amigos e voluntários, que fazem doações de mantimentos e ajudam com as contas do local. Além disso, entidades parceiras colaboram promovendo campanhas de arrecadação de mantimentos que são doados ao TMAPP.
Dia a dia
Na casa, os residentes têm atividades diárias, que começam às 7h e vão até as 22h. São quatro reuniões e quatro refeições todos os dias, além das tarefas da casa e dos momentos de devoção e estudo bíblico.
O dia só começa mais cedo para Alessandro da Costa, que é o “obreiro” da casa. Morador do TMAPP há quase quatro anos, que serão completados em janeiro, ele é responsável por acordar toda a turma e fazer a primeira devoção. Após, eles tomam o café da manhã e depois começa a laborterapia, que é quando os moradores da casa se dedicam às tarefas, como cuidar do pátio, da cozinha, dos quartos e banheiros.
A rotina deles é variada: a cada semana, cada um fica responsável por alguma atividade diferente, e isso é definido em reunião toda segunda-feira. Os moradores trabalham em equipe para cumprir as tarefas, como lavar a louça, por exemplo: a cada refeição, uma dupla é designada para fazer a limpeza.
São eles também que preparam toda a comida que é servida no local. Por dia, são preparadas 160 refeições – o que significa, por mês, 4,8 mil.
Outro momento importante na vida no TMAPP são os estudos bíblicos: 85 por mês. Os pastores enfatizam o trabalho espiritual que é desenvolvido na casa: “Temos apoio das igrejas católica e evangélica. Trabalhamos com cristãos”, explica Lucia.
Mudança de vida
João Carlos, Eduardo, Alessandro, Rubens e Marco Antônio são alguns dos moradores das missões. Mesmo tendo vindo de lugares diferentes, eles possuem histórias parecidas: todos, por algum motivo, caíram nas drogas ou na criminalidade e, quando decidiram mudar de vida, encontraram o TMAPP.
Eles contam que os novos moradores chegam, muitas vezes, arrasados, se sentindo culpados e distanciados da família – alguns até mesmo revoltados com a situação em que se encontram. Às vezes, leva um tempo para a adequação às regras e tarefas da casa. “É uma limpeza moral e espiritual. Deus ajuda na reconstrução”, resumem.
“Eu sou natural de Paranaguá (PR), e vim para cá na intenção de me recuperar das drogas e ter esse encontro com Deus. Eu já era da igreja antes, mas tinha me desviado”, conta Eduardo, que descobriu o local junto com familiares. Ele teve o apoio da mãe para vir para Brusque e, para ele, o reencontro com Deus foi também o reencontro consigo mesmo.
Assim como ele, João Carlos, que mora na casa desde agosto, procurava renovar os laços com Deus. Ele também é natural do Paraná, mas seus pais moram em Itajaí – ele veio sozinho até Brusque e quer permanecer nas missões até que se sinta preparado para sair. “Lá fora tem muita chance de recaída. O encontro com Deus muda o caráter, agora tenho que esperar a ordem Dele antes de voltar pro mundo.”
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Rubens, morador do local há um ano, conta que esta é a sua segunda vez na casa. “Fui acolhido aqui depois de muitos anos de drogadição. Saí, comecei a trabalhar, mas tive uma recaída e precisei voltar. Mais uma vez fui acolhido, hoje sou líder aqui dentro, transmitindo a palavra, coisa que eu nunca imaginei fazer.”
Marco Antônio também está pela segunda vez no TMAPP. Durante sua primeira estadia, ele noivou e saiu quando casou – porém, teve uma recaída e se afastou da família, que hoje mora na Paraíba. “Estou tentando me reconciliar, tenho dois filhos. Foi uma falha minha, mas fui recebido aqui de novo, é um lugar muito acolhedor.”
O reencontro com a família também faz parte da história de Alessandro, que passou 20 anos sem contato com os parentes. Já morando nas missões, foi contatado por familiares e agora se prepara para conhecer os netos, que ele ainda não teve a oportunidade de ver pessoalmente. “Quando a gente está no mundo, está sem nada. A história é uma só, só precisamos ter esse encontro com Deus”, finaliza.