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Moça, você é machista?

Imagino que você conheça a página do Facebook que tem o nome aí do título desta conversa – só que sem a interrogação. Imagino que alguém na sua lista de amigos já deva ter compartilhado alguma publicação da página Imagino que você tenha parado para pensar um instantinho no nome da página.

A figura da mulher machista não é novidade. Quando pensamos nisso, tendemos a pensar em sogras dominadoras que criticam as noras em potencial ou em mães que criam as filhas “para a casa” e os filhos “para a rua”. Mas será que o nosso pensamento vai longe o suficiente?

Vamos fazer um teste simples. Tão simples que se resume a uma só palavra: piriguete. Você já chamou, ainda que mentalmente, alguém de piriguete? Então, moça, você é machista. Mas não se ofenda. Todas nós somos ou já passamos por isso. É difícil desvestir os conceitos que a sociedade teve como inquestionáveis por tanto tempo.

Fui perguntar para o Google qual o significado de piriguete, para começar. Um site, Significados, diz que “piriguetes são as mulheres independentes e liberais, que procuram ter várias relações sexuais sem estabelecer um critério muito assertivo para as suas escolhas. Frequentemente, esta palavra é usada com sentido depreciativo, para qualificar uma mulher fútil, que só pensa em diversão e prazer”. ​ Diz também que “a piriguete não costuma ser muito bem vista pelo público feminino e, muitas vezes, nem mesmo pelo público masculino, pois são tachadas de vulgares ou prostitutas”. Eita. Continua: “as piriguetes são estereotipadas pela sua forma de vestir. As chamadas ‘roupas de piriguete’ costumam ser bastante apelativas sexualmente, com muitas partes do corpo que não são cobertas. O objetivo é atiçar a libido e o desejo sexual das outras pessoas”.

 

Quem nunca rotulou a mulher que usa roupas muito curtas ou muito justas como piriguete, que atire a primeira expressão de superioridade. Você não sabe nada sobre ela. Você não sabe se ela vai pisotear os conceitos de sororidade e tentar roubar seu parceiro (que, mesmo que isso aconteça, vai ser considerado por você menos culpado do que a moça). Você não sabe se ela se veste assim porque gosta, para se sentir melhor ou para ter uma sensação de suficiência e pertencimento. Você não sabe se ela não aprendeu a usar outras “armas” além do próprio corpo. Você, simplesmente, não sabe.

Mas fareja a ameaça e ataca jogando o rótulo recheado de preconceito. Piriguete. Piriguete não merece respeito. Merece distância. Se você for mais longe, deixando-se envolver pelo ódio ou pelo medo, vai entrar para o exército dos que pensam que ela merece tudo o que acontecer de ruim – passando pelo assédio e pelo estupro. Em última análise, você está pronta para culpar a vítima.

Forcei? Talvez. Mas de repente esse seja um bom jeito de fazer você pensar, repensar e rever um conceito tão básico, na próxima vez em que for tentada a rotular alguém de piriguete. Nessa hora, dê uma ré e substitua o pensamento por aquele outro, libertador: toda mulher pode ser o que ela quiser.

Claudia Bia – jornalista combatendo o próprio machismo

Ah, sim: a imagem que ilustra o alto desta conversa foi compartilhada pela página Moça, você é machista. Não trata exatamente do que estamos falando aqui… mas talvez seja muito mais útil. As outras também vieram de lá.