Moradora de Guabiruba cria casa missionária para acolher mulheres com dependência química
Ela teve a ideia de criar o local após a filha morrer aos 20 anos, devido ao uso de drogas
Após perder a filha para o mundo das drogas, Katia Campos Mendes, 44 anos, decidiu criar a Casa Missionaria Nossa Jerusalém para acolher mulheres que sofrem com a dependência química. O local funciona há um ano e dois meses e já atendeu mais de 60 mulheres. Na casa elas aprendem a abandonar o vício e encontram ajuda nas palavras de Deus.
O local escolhido era conhecido por ser uma boate. Hoje, a casa abriga mulheres que buscam um novo caminho de vida. Atualmente, acolhe oito moradoras. São mulheres de várias idades, desde os 20 a mais de 50 anos. “O problema atinge toda sociedade desde família rica até a miserável. Não tem classe ou cor. A droga e o álcool tomam conta”, enfatiza Katia.
A casa não cobra mensalidade das moradoras. O espaço vive de doações da igreja e moradores da região, ou familiares das moradoras que querem ajudar. Katia diz que as pessoas conhecem a casa por meio das igrejas. O local conta com 20 suítes que abrigam uma moradora por cômodo. No entanto, Katia diz que se for preciso eles colocam camas extras nos quartos para acolher a todas. “Nossa intenção é de ajudar o próximo, sem interesse ou maldade. Fazemos um trabalho cristão”.
Apesar de ser uma casa missionária, o local acolhe a todos. “Não temos nome de igreja, não é Assembleia de Deus, batista, adventista ou católico. Aqui é a casa de Deus. Nossa visão aqui é de reino dos céus e o único caminho para chegar no reino é por meio de Jesus”, esclarece.
Além de Katia, o esposo Marcio Mendes, 42, também ajuda a cuidar do local. Ela diz que o marido já foi dependente químico, mas conseguiu se recuperar em uma casa missionária masculina. “
Motivação por experiência pessoal
Katia se sentiu motivada a montar o local após perder a filha, Katheleen Aline Guapiano Campos Raiser, aos 20 anos de idade. Ela era usuária de drogas. A mãe conta que tentou ajudar a filha, mas não encontrou uma casa que atendia meninas menores de idade. A maioria acolhia apenas homens, e poucas eram destinados para mulheres, que deveriam ter mais de 18 anos.
Katia lembra que a filha começou a usar maconha quando tinha 13 anos. “Eu sofria muito para encontrar um lugar para ela, e com isso foi agravando. Da maconha foi para cocaína e acabou caindo no maldito crack”, conta. Neste mês a morte de Katheleen completa sete anos.
Foi no luto que Katia buscou forças. Com o intuito de ajudar as demais mulheres que passaram pelo mesmo problema da filha, criou a casa missionária. Hoje, Katia cuida dos dois netos, filhos de Katheleen, um menino de 12 anos e uma menina de 9.
Como funciona o atendimento
Katia gosta de enfatizar que o local não é uma clínica de recuperação nem uma comunidade terapêutica. “Aqui nós trabalhamos com a palavra de Deus. É a minha casa e eu coloco para morar quem eu quiser”, diz.
Quando elas chegam na casa, Katia conversa com a pessoa e questiona se ela quer essa mudança de vida. Após ter certeza de que a pessoa quer se transformar, ela é aceita no local.
Além disso, é feita uma revista nas mulheres pois não é permitida a entrada de álcool ou outras drogas.
Diariamente são realizados quatro estudos da bíblia: um antes do café matinal, um à tarde e outro à noite. “Acreditamos na mudança de caráter, de dentro para fora. Não adianta trocar a roupa e não haver transformação do caráter”.
O local é destinado para pessoas que querem ajuda. Além disso, a pessoa poderá ficar por quanto tempo quiser, não existe tempo máximo em que ela pode morar na casa. Outro requisito é que as moradoras, enquanto estiverem na casa, não podem consumir drogas, álcool ou remédios.
A casa segue uma rotina, com horários determinados para café, almoço, janta e os estudos da palavra. As moradoras da casa também precisam ajudar nas tarefas da casa, como cozinhar, lavar e limpar. Semanalmente é feito um rodízio nas funções para que as moradoras possam atuar em todas as atividades. “Fazemos um rodízio para que uma dê valor ao serviço da outra”.
“É como uma lagarta. Ela passa por uma transformação e vira uma linda borboleta” explica Katia, por meio de uma metáfora sobre a transformação das moradoras da casa.
O retorno para casa
Katia também conta que o projeto ajuda aqueles que querem retornar para a sua cidade natal. Na sexta-feira, 4, ela ajudou um casal que passou seis meses em casas missionárias. Eles retornaram para Goiânia. As passagens foram pagas pela mãe do esposo da ex-moradora da casa.
Ela diz que quando alguém deseja ir para casa, os responsáveis vão em busca de ajuda para pagar a passagem, caso a família não tenha condições.
Quando sentem que estão prontas, as moradoras deixam a casa e voltam para a vida que tinham antes da dependência. No entanto, também há casos de mulheres que não resistem a abstinência e acabam voltando ao vício.
“Tive duas moças que estiveram aqui por duas vezes e hoje estão bem. Elas saíram, recaíram, mas foi só uma vez. Foi uma mancada e já pegaram o telefone, ligaram pedindo socorro e nós fomos buscar”, afirma.
Katia conta que também ajuda as mulheres que quiserem continuar na casa depois da recuperação. “Se não tiver família e quiser ficar nós vamos ajudar a voltar para sociedade. Ela se mostrando determinada e nós ajudamos a arrumar um emprego para que ela fique aqui até ter dinheiro para alugar uma casa e comprar seus móveis”, enfatiza.
Serviço
Casa Missionária
Rua Cristiano Albrecht, nº 420, no bairro São Pedro, em Guabiruba
Contato: 967-393-567 (WhatsApp) ou 996-967-071