Moradoras de Brusque falam sobre os motivos que as levaram a decidir por não ter filhos
Assunto que já foi tabu hoje é encarado com mais naturalidade pela sociedade
A decisão de não ter filhos para algumas mulheres é nato e intrínseco. Para outras, é uma escolha originada de determinada situação ou a soma de vários acontecimentos. O fato é que hoje é possível falar com mais naturalidade sobre o assunto, encarado por muitos como um tabu.
As idades e profissões são diferentes, no entanto, quatro moradoras de Brusque compartilham da mesma decisão quando o assunto é filhos: não querem ter. A assistente administrativo de 25 anos, Larissa Martendal, do Guarani, diz que não existe uma explicação para a escolha.
“Desde que me entendo por gente optei por isso”. Ela conta que gosta de crianças, mas não se imagina gerando um filho. Atualmente, Larissa tem namorado e ele respeita a decisão, assim como a sua família.
A analista de sistemas Renata Back, 34, do Centro, afirma que nunca quis ter filhos. Ela considera a responsabilidade muito grande. Para a analista, é obrigação prover condições de saúde e educação para o filho. “É responsabilidade para a vida inteira. E se eu não for capaz de assumir, prefiro não ter”. Renata diz ainda que gosta de realizar o que tem vontade e que uma criança atrapalharia a sua rotina. “Parece egoísta, mas sou acostumada a fazer o que me dá na telha. Com um filho precisaria pensar na outra pessoa e acredito que me frustraria ser impedida de fazer o que tenho vontade”.
A preocupação com a educação e com a situação financeira foram decisivas para que Lidiane Cristina Patz Traesel escolhesse não ser mãe. A costureira, de 34 anos, moradora do São Pedro, afirma que desde pequena não cogita essa possibilidade e que uma criança precisa de assistência integral. Casada há nove anos, o seu esposo concorda com a decisão. “Nós dois trabalhamos e não teríamos com quem deixar nossos filhos, sem contar que a situação financeira não é fácil”, diz Lidiane, que completa: “É muita responsabilidade, quando se é pequeno é bonitinho, mas depois cresce e um filho é para a vida toda”.
Vários acontecimentos foram preponderantes para que a produtora cultural de 37 anos, Lieza Neves, moradora do bairro São Luiz, decidisse por não ser mãe. Ela afirma que nunca teve “a vontade louca de ter filhos” e que a vida é feita de escolhas, embora essa não seja tão simples. “Não é uma decisão que se pense num dia e se decide no outro. É um processo que se vai desenvolvendo relacionado ao contexto que se vive. Pra mim é uma decisão séria, talvez a mais séria da vida, pois é irreversível”.
Lieza conta que há dois anos tem um namorado e que ele, além de apoiar sua decisão, também optou em não ter filhos. Ela ressalta que hoje o assunto é debatido com mais naturalidade pela sociedade, porém, os julgamentos sempre existirão. “As pessoas falam que eu posso me arrepender mais tarde, mas podemos nos arrepender de qualquer coisa, não é? Mesmo assim acho que atualmente temos a liberdade em pensar e optar com menos pressão do que há tempos atrás”.
Cultura machista
A psicóloga Janaína Mafra diz que a sociedade está inserida numa cultura que conduz à maternidade. Ela aponta que antigamente os homens precisavam de famílias grandes para trabalhar na terra e que deixar as mulheres em casa garantiria uma casa cheia. “Vivemos em uma cultura machista, uma sociedade patriarcal como a nossa ainda mostra resistência significativa à ideia da total liberdade da mulher para ter filhos ou não, pois isso mexeria nas relações de poder das mulheres. Quanto mais liberdade, mais espaços poderão ocupar”.
Janaína afirma que por muitos anos as mulheres que optaram por não ter filhos sofreram cobranças, sendo interrogadas e acusadas de egoístas. No entanto, para a psicóloga, as mulheres podem, nos dias atuais, encontrar o sentido da vida fora da maternidade. “Estas mulheres estão inventando um novo arquétipo feminino, e para elas, ter tudo não significa um bebê. Tornar-se mãe não é o que vai definir o seu valor como mulher”.
Menos filhos
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que em 2010, 14% das mulheres brasileiras não tinham planos de engravidar. Na pesquisa anterior, a porcentagem era de 10%. Em pesquisa mais recente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o número de domicílios no país sem crianças pulou de 13,5% para 18,8% em dez anos – de 2004 para 2014.
Fonte: IBGE/Ipea