Moradores de Brusque criam estampas de roupas manualmente para grandes marcas

Conheça a história de três profissionais que se dedicam à liberdade artística da moda

Moradores de Brusque criam estampas de roupas manualmente para grandes marcas

Conheça a história de três profissionais que se dedicam à liberdade artística da moda

Um mercado de infinitas possibilidades, liberdade artística, constante atualização sobre tendências de moda e conhecimento sobre as mais distintas culturas. Assim pode ser definido o universo em que trabalham três moradores de Brusque, que diariamente criam estampas de roupas manualmente para renomadas marcas do país.

Deivid Hodecker, 26 anos, do Thomaz Coelho, formado em Design Gráfico; Luiza Helena, 24, do Santa Rita, formada em Moda e Kesley Souza, 28, do Centro, formada em Design de Moda, compartilham da mesma paixão e são designers de estampa na empresa RenauxView. Ambos também são freelancers e prestam serviço para empresas de vários estados do Brasil.

As estampas – imagens impressas colocadas na superfície dos tecidos e personalizadas -, são criadas para deixar uma peça mais atrativa. Na RenauxView, cada um dos designers de estampas tem uma especialidade para o desenho manual e um estilo diferente. Ambos utilizam aquarela, canetinha, lápis e giz para a produção. Kesley é a única que exerce a função de maneira diferente, já que ela utiliza a “mesa digitalizadora”, ou seja, desenha como se estivesse no papel, mas a arte sai direto na tela do computador.


Etapas da estamparia
Kesley, que é paulista, mas mora em Brusque desde os 13 anos, conta que não sabia para qual curso prestar vestibular. No entanto, se identificava com Moda e resolver fazer Design de Moda na Uniasselvi/Assevim. A escolha não poderia ser mais acertada, pois aos poucos ela foi percebendo que realmente era disso que gostava.

Durante os estudos se identificou com a disciplina de Design de Superfície (uma atividade em que se desenvolvem projetos de constituição e/ou revestimentos de superfícies, conferindo qualidades estéticas, funcionais e estruturais a um objeto), que lhe motivou a fazer seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre estampas.

Foi por meio deste trabalho que a jovem teve a sua primeira oportunidade profissional e foi atuar na Fore, em Guabiruba, onde desenvolvia estampas localizadas e sublimáticas [ver no detalhe]. Depois disso, ela foi trabalhar com estampa rotativa com cilindro na Gravacor, em Gaspar. “Tive muito aprendizado nestes locais, pois passei por todas as etapas da estamparia”, diz Kesley.

A designer conta que prefere trabalhar com estampas étnicas e florais, principalmente para o público feminino. Para ela, é imprescindível para uma boa criação pensar na qualidade do elemento e no que o cliente quer usar na coleção. A partir disso, pesquisar e trabalhar a “parte criativa”.


Talento nato
A arte sempre permeou o universo de Hodecker, que aos quatro anos, na escola, começou a desenhar. Na Fundação Cultural de Brusque, ele buscou subsídios para aperfeiçoar seu talento e fez diversos cursos voltados ao desenho. Quando entrou na faculdade, já tinha uma bagagem, o que lhe inspirou, depois de formado, a trabalhar com estamparia. Ele revela que buscava sim algo mais artístico, voltado à ilustração e à fotografia.

“Na estamparia consegue-se tudo isso, desenhar e reproduzir texturas. É um segmento que propicia maior liberdade de criação”. Hodecker, inclusive, já chegou a desenhar suas próprias camisetas, pois buscava peças mais descoladas e exclusivas. Ele prefere fazer roupas masculinas com florais e folhagens.

O profissional já trabalha há mais de dois anos na RenauxView, e conta, que para a produção de qualquer peça, sempre se pensa em proporcionar elementos ricos. “Temos vários briefings, em algumas coleções temos mais liberdade para criar, mas desenvolvemos a proposta dentro das tendências de pesquisa”.

Deivid Hodecker desenha desde os 4 anos / Foto: Arquivo Pessoal

O processo começa em pensar os elementos que se quer para determinado desenho – “se serão seis flores com quatro folhas diferentes”, por exemplo. Após isso, se desenha o elemento, às vezes só faz com traço preto e depois coloca cor no Photoshop, ou às vezes pinta com aquarela e depois escaneia o elemento e trata no Photoshop. Depois, recorta e começa a compor uma imagem com este elemento. A produção de uma estampa pode demorar de cinco minutos a um dia, dependendo ao que se propõe o desenho.

Assim como Hodecker, a blumenauense Luiza Helena, que se mudou para Brusque recentemente, desde a infância gostava de desenhar e de “coisas manuais”. Ela chegou a participar de concursas na escola e no Ensino Médio fez um curso de Estilismo, onde, de fato, se encontrou e teve certeza que esta era a profissão que queria.

A jovem trabalhou por quatro anos na indústria têxtil como estilista, depois exerceu a função de ilustradora e ainda participou de feiras – ação importante para sua carreira -, já que após isso recebeu muita procura para fazer estampas de coleção. “O mercado de estampas é novo. Somos a geração que está aprendendo ainda. Eu particularmente considero mais prazeroso fazer essa criação mais livre e gosto de todos os segmentos, mas tenho uma paixão a mais pela estamparia feminina e infantil, que oferece mais liberdade por ser lúdico”, diz Luiza.


Trabalho gratificante
Para ambos os designers, a criação de estampas é uma paixão. Luiza afirma que por mais tecnologias que existam, “cada um sabe o que toca mais e a arte toca”. Segundo ela, o manual é muito do ser humano e as coisas manuais tocam a alma. “É um nicho que está engatinhando, mas saber que as pessoas te procuram por se identificarem com a tua arte é gratificante”.

Para Luiza Helena, o trabalho manual toca a alma / Foto: Arquivo Pessoal

Hodecker analisa que a cada momento a moda se atualiza e exige que os profissionais estejam com a mente aberta para absorver o que o mundo mostra, no entanto, sem perder a essência. “É preciso estar aberto a tudo e conhecer os mais distintos estilos e culturas, pois ver alguém na rua usando uma peça que você fez é motivo de muita alegria”.

Kesley diz que a estamparia proporciona que o trabalho seja aplicado não somente em moda, mas em produtos de decoração, cama, mesa e banho. Além disso, a designer afirma que passar em frente a uma loja que vende uma estampa que ela fez é gratificante. ” A personalidade da pessoa se expressa com um trabalho que você fez parte. Ver as pessoas se sentirem mais bonitas, confiantes, é um sentimento maravilhoso”, finaliza.


Mercado em ascensão
A criação de estampas vem ganhando evidência em Brusque. Em 2016, a RenauxView teve um crescimento de mais de 30% por investir neste segmento. Há quatro anos era apenas uma estampadora, agora, além dos três profissionais citados na reportagem, mais um profissional atua no setor da empresa. Hoje, a RenauxView tem uma cartela de clientes conceituada, como a Dudalina, Beagle, Colcci, Mycris Camisaria.


 

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