Moradores de rua são abordados por comunidades terapêuticas em Brusque

Ação foi realizada pela primeira vez desde que convênio entre as clínicas e a prefeitura foi firmado

Moradores de rua são abordados por comunidades terapêuticas em Brusque

Ação foi realizada pela primeira vez desde que convênio entre as clínicas e a prefeitura foi firmado

As comunidades terapêuticas – Viver Bem (Balneário Camboriú) e Associação Desafio Jovem Monte das Oliveiras (Gaspar), acompanhadas da equipe do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), realizaram durante cerca de três horas, na noite da terça-feira, 1, abordagem de rua nos bairros do Centro e Santa Terezinha. Essa foi a primeira vez que a ação ocorreu com a presença das duas clínicas de reabilitação, que estão conveniadas com a prefeitura desde setembro.

Desde que o Abrigo Institucional, conhecido como Casa de Passagem, encerrou suas atividades, as clínicas de reabilitação firmaram convênio com a Prefeitura de Brusque. O convênio é de 12 meses, e a comunidade receberá o valor de R$ 1.090 por cada indivíduo que for para o local. As despesas incluem alimentação, moradia e o tratamento químico. Até o dia 31 de dezembro, outras entidades ainda poderão participar da Chamada Pública e cadastrarem-se no Creas para prestar o serviço.

No entanto, desde a assinatura do convênio, nenhum morador de rua aceitou fazer o tratamento, portanto, o serviço ainda não foi utilizado pela administração municipal.

Antes da abordagem, reunião entre representantes das comunidades terapêuticas e Creas definiu ação / Foto: Daiane Benso
Antes da abordagem, reunião entre representantes das comunidades terapêuticas e Creas definiu ação / Foto: Daiane Benso

A abordagem

O Município Dia a Dia acompanhou a abordagem. No bairro Santa Terezinha, próximo à capela mortuária e na praça atrás do Barateiro, não foram encontrados moradores. Já na região central – praça Gilberto Colzani (chafariz) e na praça Barão de Schneeburg identificaram e conversaram com dez pessoas que vivem em vulnerabilidade social. Destes, um aceitou ser encaminhado para o Creas, e posteriormente para o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-ad). Já outro, foi para o Creas, mas não quis passar pelo Caps, afirmando que gostaria de ir direto para a comunidade terapêutica. Além disso, dois foram encaminhados para que seja analisada a possibilidade de receberem benefícios, como cesta básica.

Para Sirlei dos Santos Caçapietra, presidente fundadora da Viver Bem, é preciso dar um olhar melhor para o morador. Ela diz que é difícil, mas não impossível. “É preciso ter um dom para chegar e falar com a pessoa”.

A assistente social do Desafio Jovem, Clarisse do Nascimento Silva, afirma que a experiência é nova, mas com a união das clínicas e o apoio do Creas terão forças para atingir o objetivo.

O secretário de Assistência Social, Rodrigo Voltolini, que também acompanhou a abordagem, diz que esse trabalho é uma oportunidade que os moradores têm de sair da condição de rua. Ele explica que é disponibilizado um aparato para verificar se o indivíduo precisa ou não da internação, e que somente será encaminhado à clínica depois que a avaliação do psiquiatra do Caps-ad atestar a necessidade. O morador também precisa desejar e autorizar a sua ida ao local.

O secretário afirma que por meio dessa abordagem se espera que mais moradores façam adesão ao programa de recuperação. “Para nós, assim como para os integrantes das comunidades, é um processo novo, mas acreditamos que somando as forças conseguiremos melhores resultados”.

A abordagem com as comunidades terapêuticas será realizada novamente em janeiro. Já o trabalho feito pelo Creas continuará semanalmente pelas ruas de Brusque.

Atualmente existem 80 moradores de rua referenciados e catalogados no município. Na sua maioria são itinerantes – muitos pode ser que nem estejam mais morando na cidade. Dos 80, foi diagnosticado que cerca de 80% necessita de tratamento químico.

Avaliação positiva

A coordenadora da Proteção Especial da Assistência Social, Ana Janaína Medeiros, afirma que a abordagem com os representantes das clínicas precisa de um olhar mais sensível. Ela diz que é preciso de cuidado para não forçar “uma situação” e que a experiência mostrou-se efetiva. “Foi bem positiva. A preocupação era com a receptividade e eles conversaram com a maioria das pessoas”, avalia.

O secretário também afirma que a abordagem obteve êxito. “Realmente eles (representantes das clínicas) conseguiram de um jeito diferente tal convencimento. Mostraram-se parceiras e na nossa supervisão não observamos nenhum tipo de problema”, atesta.

A vida na rua

Desde os 14 anos, o paulista Tonho, 33, como é conhecido, vive em Brusque. Há cinco anos ele escolheu viver nas ruas – “ficar na lua”, como diz. Para sobreviver, o morador faz artesanato (pulseiras, colares, brincos). O alcoolismo é o empecilho para sair das ruas. “Eu bebo pinga desde adolescente”, conta.

Ele possui irmãs que moram em Guabiruba, porém, não tem contato com elas. Tem um filho, o qual também não tem proximidade. Para Tonho, “espiritualmente cada vez mais se identifica com a rua”. Neste local, segundo o morador, ganhou amigos e aprendeu valores como humildade, respeito, confraternização.

Tonho, que já havia sido abordado em outras oportunidades pela equipe do Creas, se recusou a fazer o tratamento químico. Ele afirma que considera importante essas iniciativas. “É ótimo. Legal. Vejo um sorriso do qual eu não tenho aqui dentro”.

 

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