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A música que não existe

Antigamente, quando a gente ouvia uma música menos óbvia na rádio ou de passagem, na rua, não era nada fácil descobrir que música era. Até em filmes, quando a trilha era muito extensa e o disco muito raro ou caro, ficava difícil achar a autoria de uma música determinada. Foi assim que fiquei anos até descobrir Go, do Tones on Tail, que tocava em uma cena do excelente Matador em Conflito (Grosse Pointe Blank), de 1997, com John Cusack. O filme tinha, sei lá, duas trilhas duplas, dezenas de faixas. Foi um alívio e uma vitória, finalmente, poder ouvir a música a qualquer momento. Ela parou de me assombrar.

Mas isso foi antigamente. Agora a gente tem tecnologias incríveis, não tem? Como os aplicativos Shazam e Soundhound. Quem usa esses apps e não fica com o queixo no chão, cada vez que eles realmente acham uma música desconhecida, é de uma frieza assustadora. Eu, heim, não confio em gente assim. Quero ver quem vibra, aplaude, mostra para a família, corre para o YouTube para ouvir a música inteira, essas coisas de gente com sangue nas veias. Porque, por mais que eles não sejam mais uma novidade, seu funcionamento é quase milagroso. Que banco de dados é esse, que descobre em segundos músicas obscuras e nada óbvias? É quase tão incrível quanto a sensação eterna de não entender como um avião voa. Temos que admitir que o ser humano tem momentos de glória. Pena que, em todos os outros, seja um projeto bugado.

Mas… voltemos. O canal Investigação Discovery veicula, bastante, a chamada para um dos seus programas de criminhos diversos, chamado Irmãs Perversas. Depois de ouvir várias vezes, percebi que a música usada era uma versão assustadora, em inglês, da velha musiquinha infantil Cabeça, Ombro, Joelho e Pé, que teve até versão da Xuxa. Fiquei chocada e curiosa para saber quem tinha tido a ideia louca de transformar canção para crianças em tema bom para filme de terror. Mas era um daqueles casos em que nem o Google sabe.

Apelei para o app de reconhecimento de música que tinha no meu celular, o Shazam. Que também não me devolveu resposta. Caramba. A gente não tem mais o hábito de não achar respostas para as nossas dúvidas, usando a tecnologia como ferramenta. Na verdade, a fé é tanta que instalei a outra opção, o Soundhound. E aí, finalmente, eu confirmei que a música existia.

Ela foi lançada (embora não conste do site deles) pelo selo Cavendish Music e foi gravada por Dead Astronaut que é, aparentemente, o pseudônimo do músico inglês James McKeown, que faz parte de uma banda chamada Hi Fiction Science.

Deve ser esta do clipe abaixo…

Agora, pense. Antigamente, com os recursos de antigamente, a pessoa teria que ter muita sorte para, um dia, descobrir essa informação. E mais sorte ainda para conseguir ouvir a música, fora das chamadas na TV.

Apesar de tudo, das fake news, das estratégias para nos dessensibilizar em relação ao que é verdade… a tecnologia que temos à mão é assombrosa. Se vale o preço… bom, aí é outra história. E bem atual.