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Negócios de bairro ainda vendem fiado em Brusque

Clientes antigos que moram próximos aos estabelecimentos "anotam no caderninho"

Depois de 20 anos, a panificadora Pão Gostoso não venderá mais fiado / Foto: Daiane Benso

Comprar fiado e marcar no caderninho pode parecer uma prática muito antiga. No entanto, ainda existem estabelecimentos em Brusque e região que realizam este tipo de venda. A principal premissa para a negociação é uma só: a confiança.

Andréa Fornasa Cardoso, sócia-proprietária do mercado Cardoso, na avenida Primeiro de Maio, no bairro Primeiro de Maio, conta que desde que comprou o ponto, há nove anos, vende fiado. Atualmente são cerca de 100 clientes que têm os valores gastos anotados no fichário do local. Ela explica que a antiga dona já comercializava desta forma com alguns consumidores. “Eram pessoas são consideradas fiéis, que pagavam corretamente, por isso permanecemos”.

Andréa diz que o público que compra fiado são moradores mais velhos, do próprio bairro, que deixam de ir a lugares mais distantes do bairro para adquirir seus produtos ali. Ela afirma que o mercado realiza o serviço de entrega à domicílio, o que gera maior proximidade com estes clientes. “Pra eles é mais prático e para nós também, pois é o consumidor que faz a gente”. A proprietária conta que geralmente a venda fiado é feita na compra de verduras e frutas.

Para ela, ainda existem muitas pessoas honestas. Ela afirma que se sente em casa no seu trabalho e que os consumidores fazem parte da família. “Recebo chá quando estou doente. Um bolinho de umas senhoras. É muito gratificante”. Andréa lembra que muitas delas, inclusive, assim que recebem o seu pagamento, vão imediatamente ao mercado para pagar suas contas.

A dona ainda revela que nos nove anos à frente do estabelecimento, a inadimplência não chegou a 10%.

Em média, o consumidor do fiado gasta de R$ 400 a R$ 1 mil. A dona de casa Nizete Lauritzen, moradora do bairro, compra no mercado Cardoso desde quando era a antiga proprietária, há mais de 15 anos. Ela conta que vai comprando aos poucos e que às vezes manda os netos pegar o que é preciso. “É muito bom. É uma mão na roda. São pessoas muito queridas. Não tem palavras pra definir”, afirma.

Também na avenida Primeiro de Maio está localizada a panificadora Pão Gostoso, que durante 20 anos vendeu fiado. Porém, neste ano, segundo a proprietária Nilsa Cardoso, não será mais realizado este tipo de negócio. Ela conta que não haviam muitos critérios para a permissão da venda, e que geralmente era feita “no fio do bigode”. A maioria dos clientes eram trabalhadores e moradores dos arredores, que almoçavam na padaria. Nas duas décadas, Nilsa afirma que teve mais de 100 clientes, e que para conseguir sobreviver precisou cortar o fiado. “A situação atual não comporta mais. Tenho muitas despesas e precisei acabar”, diz. Mas também completa: “Mas tive muitos clientes bons, que pagavam certinho”.

Tradição familiar

No bairro Imigrantes, em Guabiruba, a prática do fiado existe há aproximadamente 65 anos no mercado Kohler e veio de família. Nilson Kohler, sócio-proprietário, conta que o seu pai iniciou comercializando para pessoas conhecidas, que considerava “certas”. Os consumidores pagavam mensalmente quando recebiam e as anotações eram registradas num caderninho. “Eram poucos clientes e aos poucos foi acabando. Alguns morreram e para os novos não fomos vendendo”. No entanto, mesmo assim, o estabelecimento anota fiado para alguns que são fiéis e assíduos. “Vamos manter os que já temos e que são bons. São pessoas de confiança nossa, então nem nos preocupamos”, garante.