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Neurociência e religiosidade 

Há mais de duas décadas neurocientistas de importantes universidades do mundo estudam as relações existentes entre o cérebro e a espiritualidade. Esta área de conhecimentos se conhece como Neuroteologia. A paleoantropologia tem demostrado que as experiências religiosas e místicas tem acompanhado os humanos desde a época das cavernas. 

Os pesquisadores tentam responder como a espiritualidade e a religiosidade se manifestam no cérebro humano em termos de atividade elétrica cerebral e atividade metabólica usando técnicas de neuroimagem funcional.  Outra área de estudo tenta conhecer a influência da religiosidade, como fator protetor ou não, de diversos transtornos mentais como depressão, pânico, ansiedade e dependência química. 

Uma das pesquisadoras mais destacadas nesta área é a neurocientista espanhola Nazareth Castellanos, professora da Universidade Complutense de Madrid. Nazareth tem mapeado a atividade cerebral durante a meditação e mostrado que somente as pessoas com muitos anos de meditação conseguem chegar a um estado de “silêncio neuronal”, que consiste na diminuição importante da atividade elétrica cerebral. 

Há mais de cinquenta anos os pesquisadores se surpreenderam ao verificar que ao solicitar a um grupo de voluntários que ficassem um tempo sem pensar em absolutamente nada a atividade elétrica cerebral era muito intensa, eles esperavam encontrar exatamente o contrário, quer dizer, mínima atividade elétrica cerebral.  

Outra constatação da Dra. Nazareth é que durante o ato de se concentrar para orar ou rezar existe uma região dos lobos frontais que fica muito ativa, essa região é conhecida como o córtex pré-frontal dorsolateral. 

Esse achado é muito interessante porque se conhece que muitos pacientes com depressão têm atividade neuronal diminuída nessa região.  

Justamente o córtex pré-frontal dorsolateral é a região a ser estimulada quando pacientes deprimidos são submetidos ao tratamento com estimulação magnética transcraniana. 

A grande maioria de neurocientistas e psicólogos cognitivos concordam que a crença no sobrenatural faz parte dos processos cognitivos normais do ser humano. 

O pesquisador Danés Uffe Schjodt constatou que ao rezar se ativa no cérebro a região do núcleo caudado, essa região é conhecida por fazer parte do sistema de recompensa. 

É como se o cérebro premiasse com uma sensação prazerosa às pessoas crentes que rezam e conversam com seu deus. 

É bem conhecido pelos médicos que ao redor de 10% de pacientes portadores de Epilepsia do Lobo Temporal podem desenvolver uma religiosidade exacerbada que pode chegar até o fanatismo. 

Tem sido citadas algumas alterações anatómicas e fisiológicas para que isto aconteça, porém ainda não há uma definição sobre a causa deste fenómeno nesses pacientes.  

Outro aspecto interessante que é motivo de estudos é o relato de experiências religiosas intensas com uso de substâncias psicoestimulantes como a ayahuasca. 

A ayahuasca é uma bebida natural usada por diversos povos indígenas sul-americanos em rituais religiosos ou festivos. 

Sabemos que uma das vias de atuação da ayahuasca no cérebro é através das vias neuronais moduladas pela serotonina. 

Muitos usuários relatam uma mudança no seu autoconhecimento, um vínculo mais forte com as outras pessoas, com a natureza e ainda encontros com alguma entidade sobrenatural. 

Em poucos anos poderemos saber por que pessoas das mais diferentes religiões e pessoas sem nenhum tipo de credo religioso podem ter os mesmos tipos de experiências espirituais. 

Com certeza a ciência pode contribuir para explicar as bases neurais das experiências religiosas, espirituais ou místicas, isso possivelmente pode ajudar a diminuir as barreiras que separam os diferentes tipos de religiões. 

Embora seja quase impossível determinar o número exato de religiões no mundo, o filósofo Kenneth Shouler calcula que existam atualmente ao redor de 4200 “religiões vivas”.  

Tudo indica que a nível de processamento cerebral todas as práticas religiosas utilizem os mesmos circuitos e os mesmos neurotransmissores, o que significa que do ponto de vista biológico as diferenças entre os praticantes de diferentes religiões são inexistentes.