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No Anônimos de quarta-feira, 15 de agosto, conheça Almir e seus terços

Em um ano e meio, ele já fez mais de mil rosários de sementes para doar

O costume de juntar contas em terços começou há pouco mais de um ano e meio. Durante este tempo, Almir, 47 anos, junta as lágrimas-de-nossa-senhora em rosários. Na verdade, um terço de rosário: cinco dezenas de aves-marias, entremeadas por pais-nossos e glórias e salve-rainhas mãe de misericórdia vida doçura. Ele conta que desde que se conhece por gente, o terço é costume. Aprendido em casa, numa época em que havia ao menos meia hora sagrada do dia, em que tudo poderia ficar para depois. 
Naquele tempo em que as famílias tinham muitos filhos, joelhos ao chão, cadeira de apoio para os cotovelos. Era hora de silêncio e de reza coletiva. O guia, era a fileira de contas. O terço de contas brotadas da mãe, dona Leocádia, ele tomou por herança. Foi feito há mais de vinte anos, pelo tio, Artur. Para dona Leocádia, Almir encontra uma grande palavra para descrever: amor. 
E não é por ser filho, a mãe, que não sabia ler e escrever, levava consigo a sabedoria das pessoas pessoas antigas. Quem conversasse com ela, jamais diria que não tinha frequentado a escola regular. Sabia é do conhecimento vindo dos antepassados, índios acostumados ao lugar.  Assim, Leocádia casou-se com o professor Abelardo. 
As tardes, quando ele voltava das aulas, iam juntos para o trabalho da roça, que dava sustento para os dez filhos. E assim passaram 64 anos juntos, até dona Leocádia partir primeiro no ano que passou. Aos domingos, o pai de Almir leva duas rosas: uma para o altar, outra para o pedaço de terra onde dona Leocádia descansa. De ver a fé dos pais manifestada em rosários, Almir começou a fazer os próprios. Aprendeu vendo os que o tio Artur fazia com sementes. Hoje, Almir conta que já fez mais de mil rosários.