Nos 100 anos do rádio no Brasil, radialistas relembram início em Brusque
Setembro de 1922 marcou começo do rádio no país, que se mantém vivo por um século
No mês passado foi comemorado o aniversário de 100 anos do rádio no Brasil. No dia 7 de setembro de 1922, nas comemorações do centenário da independência, foi dado o “pontapé inicial” para o começo das transmissões de rádio. A primeira delas contou com o discurso do ex-presidente Epitácio Pessoa.
Em Brusque, a história do rádio começa a ser escrita por meados dos anos 40. Inicialmente, o radiojornalismo tinha como papel informar o ouvinte em uma época em que as pessoas sequer tinham telefone. Sendo assim, o rádio se tornava a única forma de levar a informação.
A Rádio Araguaia, fundada no dia 6 de setembro de 1946, é a rádio mais antiga de Brusque. O idealizador e fundador foi Raul Schaefer, que também é o fundador do jornal O Município. Inicialmente, a Araguaia funcionava na rua Conselheiro Rui Barbosa, em frente à antiga panificadora Koehler. Depois, teve como sede um imóvel de Otto Schaefer, pai de Raul. A Araguaia, atualmente, está no Centro Comercial Geschafthaus, no Centro.
O radialista Saulo Tavares, que possui anos de atuação no radiojornalismo de Brusque com o programa Informativo, nasceu no ano seguinte à fundação da Araguaia, e acompanhou grande parte do processo de mudanças do rádio na cidade.
Saulo relembra as coberturas de enchentes, ainda na época que nem todas as pessoas possuíam telefone. O rádio, então, tinha o papel de funcionar como um instrumento de comunicação direta entre as pessoas, como se exercesse a função de um telefone comum.
“A única forma de informação sobre a situação do rio era por meio da Araguaia. Havia um papel social muito importante também, pois, quando alguém era internado no hospital em Brusque, o meio de comunicação com as famílias dos pacientes que moravam em Vidal Ramos e no interior de Guabiruba era o rádio, que informava como as pessoas estavam”, relembra.
Fidelidade nos rádios do exterior
Os anos passaram e, com a chegada das novas tecnologias, Saulo avalia que elas contribuíram com o rádio, citando o aumento da audiência por meio da internet. O radialista comenta que, atualmente, possui ouvintes no exterior, diferente de como era nos primórdios da Araguaia.
“A tecnologia veio para beneficiar o rádio. Quando as pessoas pensavam que o rádio iria acabar, a internet chegou e deu sobrevida. Anos atrás, nosso público se limitava à nossa microrregião. Agora, com a internet, tenho, por exemplo, ouvintes que moram no Japão. São brusquenses que moram lá”, conta.
Rádio romântico
Saulo comenta que começou a trabalhar com o rádio na fase do chamado “rádio romântico”. O radialista relata que recebia cerca de 600 cartas por mês e, inclusive, algumas vinham de ônibus de Vidal Ramos. Os ouvintes do interior pediam para o motorista deixar as cartas na Araguaia. Nas mensagens constavam pedidos de músicas, além contar com aromatizantes que eram colocados dentro das cartas.
O radialista da Araguaia conta ainda que, décadas atrás, era muito caro comprar um rádio e, por isso, nem todas as pessoas possuíam o aparelho. Sendo assim, elas tinham que encontrar maneiras para acompanhar as programações.
“Em algumas ruas, apenas uma pessoa tinha rádio. Então, no fim da tarde, quando eram transmitidas as novelas radiofônicas ou os programas noticiosos, os familiares que eram vizinhos da pessoa que tinha o rádio se reuniam na casa dela para escutar a programação”, diz Saulo.
Cobertura esportiva
O radialista Dirlei Silva, da Rádio Cidade, iniciou a trajetória no rádio em meados de 1980. O começo foi na Araguaia, atuando como operador de áudio. Já no início, ele fazia alguns programas e trabalhava como repórter de campo. Quando deixou a Araguaia e foi para a Cidade, local em que está até hoje, ingressou fortemente na cobertura esportiva, trabalhando como setorista do Carlos Renaux e do Paysandu.
Dirlei se recorda de momentos marcantes de sua trajetória no rádio. Formado em Jornalismo, ele chegou a fazer programas de entretenimento. Um deles terminava com a famosa “oração”, muito conhecida pelos ouvintes de Brusque que acompanhavam o antigo programa entre 8h e meio-dia.
“Quando resolvi deixar de fazer o programa de entretenimento, me paravam no supermercado e diziam que tinham saudade da oração que eu fazia ao meio-dia. Se tornou uma identificação das pessoas. Ainda hoje em dia algumas pessoas as vezes passam e falam ‘a minha mãe escutava a tua oração’”, conta.
Ele então deixou a área do entretenimento para atuar com informação, principalmente no jornalismo esportivo, e mantém boas memórias do trabalho nas cabines das arquibancadas. Dirlei guarda as histórias que coleciona no estádio Augusto Bauer, palco dos jogos do Brusque, e nos estádios ao redor do Brasil em que cobriu jogos.
“Na cabine, às vezes os ouvintes olham para trás para dizer alguma coisa para nós. Antigamente, a maneira de se ter noção de audiência era tirar o fone e ouvir o giro do tempo e placar. Aí dava para escutar o pessoal com o rádio na arquibancada enquanto passava o giro. Atualmente, a maneira de medir a audiência é olhar os torcedores interagindo com a cabine”, afirma.
Entre as coberturas marcantes, Dirlei cita a primeira eleição que acompanhou como jornalista, ainda na época em que a apuração de votos acontecia na sociedade Santos Dumont. No esporte, o radialista destaca a cobertura da final da Série D do Campeonato Brasileiro em 2019, quando o Brusque venceu o Manaus na Arena da Amazônia e levantou o título da quarta divisão nacional.
Mudanças na comunicação
O radialista afirma que nunca acreditou que o rádio fosse morrer com a chegada das novas tecnologias. Ele acredita, porém, que aconteceram mudanças na forma de comunicação entre os radialistas e os ouvintes. Um dos aliados, conforme cita Dirlei, é o celular.
“Esses dias fui assistir ao jogo do Carlos Renaux e, quando estava saindo faltando quatro ou cinco minutos, o rapaz no alambrado se virou para mim e disse que estava nos escutando pelo YouTube. Esta é a nova maneira. Lá da cabine, vejo o pessoal com o celular na orelha escutando. O ouvinte que tinha o rádio agora utiliza o celular”.
Com as mudanças ao longo dos anos, muitas rádios passaram a ter, também, os sites como mais uma forma de se comunicar com as pessoas. Dirlei avalia que a criação dos portais de notícias pelas rádios contribuiu muito e caminhou junto com os avanços tecnológicos que o rádio precisou se adaptar ao longo dos anos.
Foco em entretenimento
Em 1990, foi fundada em Brusque a Rádio Diplomata, inicialmente com foco em entretenimento. Os fundadores são Marise Westphal Hartke e Rolf Kaestner. Atualmente, a Diplomata é de propriedade somente da família Hartke.
A sócia-diretora da rádio, Marise, relembra os tempos que antecederam à fundação da Diplomata. O marido dela era juiz e foi chefe de gabinete na época do ex-prefeito César Moritz. Eles pertenciam a grupos políticos e tinham interesse em ter uma rádio. Assim, o grupo se tornou proprietário da Cidade. Marise, na ocasião, também começou como sócia e, posteriormente, assumiu a rádio.
Ela tinha interesse em iniciar um trabalho diferente e, depois, tentou fundar a própria rádio. Na época, as concessões de radiodifusão aconteciam por meio de “concessões políticas”. Sendo assim, foi indicada a falar com políticos que poderiam ajudar a conceder a autorização para que a rádio pudesse ser colocada no ar.
“Na época, foi ampliado o mandato do ex-presidente José Sarney de quatro para cinco anos, e isso envolvia questões políticas. Um deputado federal disse que poderia dar o voto para os cinco anos desde que conseguissem uma concessão de rádio FM em Brusque. Ela foi adquirida por uma concessão política”, conta Marise.
Após a inauguração da Diplomata, a sócia-diretora relembra que não contava com muito dinheiro para investimento na empresa, que ainda não tinha tanta expressão como tem atualmente. Inclusive, os trabalhos no começo necessitaram de recursos que vinham do próprio salário de juiz do marido de Marise.
O jornalismo da Diplomata foi implantado somente em 1998. Um dos serviços prestados à população no qual Marise se recorda é o da enchente de 2008, que deixou parte da cidade devastada.
“Passamos por um período em que os jornalistas vieram para cá e dormiram aqui na rádio para fazer a cobertura da enchente. Em todas as coberturas, tanto antigamente quanto hoje em dia, o jornalismo suspende qualquer programação e fica cobrindo”, diz.
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