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Bastidores da política e do Judiciário, opiniões sobre os acontecimentos da cidade e vigilância à aplicação do dinheiro público

Nossa gasolina é fogo

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Nossa gasolina é fogo

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A expressão popular “é fogo” significa algo difícil, complicado e nada ilustra melhor esta situação que o assunto dos combustíveis.

Conforme publicamos na quarta aqui n’O Municipio, o litro da gasolina estava em Brusque acima dos R$ 4, chegando em alguns casos a R$ 4,20. Esta alta é reflexo da política de preços da Petrobras adotada desde julho de 2017, que deixa o preço flutuante.

Na terça-feira o governo interveio, sinalizando com um corte em impostos para tentar brecar os sucessivos aumentos de preço.

Veja o que sabemos sobre a greve dos caminhoneiros em Brusque e região

Conforme a matéria, “a queda do preço da gasolina ocorre depois de 11 aumentos consecutivos nos últimos 17 dias e o preço do produto ter fechado os primeiros 21 dias de maio com alta acumulada de 16,07%.”

Este fato tem efeito direto na vida dos cidadãos, pois nosso modelo logístico é rodoviário e este aumento vai ter um efeito cascata em outros setores.

Mas como a conta não é tão simples, não há como fazer um aumento de preços na mesma proporção num cenário de recessão, daí a insatisfação crescente dos brasileiros.

A greve dos caminhoneiros que está desde segunda-feira implodindo no Brasil e chegou também em nossa região é apenas uma ponta deste iceberg de insatisfação.

Para entender melhor este cenário vamos analisar a origem do problema dos combustíveis: a Petrobras. Há dois anos ela era uma empresa com a maior dívida corporativa do mundo, estimada em R$ 500 bilhões. Este endividamento causado pelo seu uso político e esquema de corrupção revelado pela Lava-Jato chegou a ameaçar a sua sobrevivência.

Com a mudança no governo federal, assumiu a Petrobras o executivo Pedro Parente. Em sua estratégia para recuperar a estatal vendeu ativos, reduziu o tamanho da máquina e focou no negócio da empresa.

Mas o principal feito foi ter a liberdade para aumentar o combustível em linha com as variações da cotação internacional da matéria-prima.

Desde então a escalada de preços não para de crescer. A Petrobras resolveu o seu problema e anunciou um lucro de R$ 7 bilhões no primeiro trimestre. Também não está muito preocupada com a alta do dólar, pois repassa instantaneamente para os consumidores os aumentos que recebe.

Assim ela achou a fórmula mágica e em menos de dois anos toda a conta da corrupção, incompetências, desvios e malfeitos está sendo paga pelo consumidor que não teve nada a ver com tudo isso.

Este modelo, que vinha funcionando, chegou no limite de tolerância e o governo está tentando abaixar o fogo para a panela de pressão não explodir.

Ele sabe que a greve dos caminhoneiros pode ser o estopim para levar as pessoas à rua, tal qual aconteceu nas grandes manifestações que iniciaram em 2013. Há até uma certa semelhança entre os dois, pois na ocasião a manifestação era pelo aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte público e acabou ganhando a forma de manifestação contra a corrupção.

Outro ponto semelhante é a baixa popularidade dos presidentes. Em 2013 a popularidade de Dilma caiu quase 30% após os protestos. A avaliação positiva de Temer é somente de 4,1%. Ambos sem condições mínimas de apoio popular para governar.

Neste momento todos focam a insatisfação num fato mais perceptível, como o aumento dos combustíveis, mas não há como perder de vista outros questionamentos.

Precisamos mesmo ter estatais que em 95% dos casos dão prejuízo? Precisamos ter um monopólio da União na exploração, produção, refino e transporte de petróleo no Brasil? Precisamos ter quase 50% de impostos incidindo na gasolina?

Os caminhoneiros sabem a resposta e não querem qualquer barganha para parar o movimento. É preciso muito mais que baixar 10% o diesel para resolver o problema.

A grande verdade é que os combustíveis são só uma das faces que se apresenta o estado brasileiro, que para manter suas benesses, seu gigantismo e incompetência apela para aumento de tributos, mesmo que indiretos como no caso em tela, colocando assim mais gasolina nesta fogueira de descontentamento.

O resultado não pode ser outro, “é fogo”, que queima na insatisfação do povo e alimenta as manifestações. Ninguém mais quer levar esta carga pesada, nem os caminhoneiros nem os demais brasileiros.

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