Nova Trento faz 130 anos: conheça história da criação do município
Família de origem da Suíça francesa possui destaque no processo de emancipação da cidade
Há 130 anos, a terra de santa Paulina e capital do turismo religioso foi emancipada, após quase duas décadas como colônia. Do distrito de Alferes ao município de Nova Trento, a cidade carrega mais de um século de história, sendo anos de desenvolvimento e progresso na economia.
Nesta segunda-feira, 8, é o aniversário de Nova Trento. Os moradores da então colônia contaram com os esforços e com as boas relações políticas da família Boiteux, de origem da Suíça francesa, no processo que fez com que a cidade fosse criada.
O distrito de Alferes, que anos depois se tornaria o município de Nova Trento, foi fundado em 1874. De acordo com jornais que contam a história da fundação da colônia e emancipação, os primeiros colonos chegaram em 1875.
A maioria deles eram do Tirol Meridional, uma região da Europa Ocidental em que uma parte fica na Áustria e outra parte no Trentino-Alto Ádige, na Itália, região em que a capital é Trento. Foi inspirada na cidade dos colonos que surgiu o nome Nova Trento.
Vivendo em meio à Mata Atlântica, eles enfrentaram problemas estruturais, doenças e conflitos com povos indígenas. Jornais da época contam que os primeiros moradores alertaram aos colonos os cuidados que teriam que ter com os “bugres”, denominação dada a indígenas que, segundo os europeus, não eram cristãos.
Alferes se torna Nova Trento
A emancipação aconteceu em 1892. A família Boiteux possui destaque no processo de criação da cidade justamente graças às boas relações políticas que tinham na capital do Brasil, o Rio de Janeiro, e na Ilha do Desterro, hoje Florianópolis.
A família havia emigrado para o Rio de Janeiro e lá morava. No entanto, por volta de 1830, passou a morar na Ilha do Desterro. Em 1836, Luc Monthandon Boiteux foi convidado para administrar a colônia Nova Itália, que depois se tornaria o município de São João Batista.
Assim, nasceu Henrique Carlos Boiteux, no dia 11 de fevereiro de 1838. Ele se casou com Maria Carolina Jacques e foi residir em Tijucas, onde tinha uma casa comercial. Henrique era um comerciante, político e coronel da Guarda Nacional.
Em 1876, percebendo a movimentação de imigrantes do Império Austro-Húngaro e da Itália no distrito de Alferes, coronel Henrique resolveu abrir uma filial do seu comércio na colônia. Em 1880, foi morar com a família no território que futuramente seria Nova Trento e passou a lutar pela emancipação.
“É assim que entra a importância das boas relações políticas da família Boiteux, tanto no Rio de Janeiro quanto na Ilha do Desterro, pois, foi apenas 17 anos após a chegada dos imigrantes que a nossa terra conseguiu sua emancipação”, afirma o diretor do Centro de Memória de Nova Trento, Juliano Martins Mazzola.
Em 1890 foi criado o Distrito de Paz. O primeiro juiz de Paz foi o coronel Hyppolito Boiteux, filho de Henrique. O primeiro escrivão era Crispim José Martins. Com o progresso dos trabalhos, Henrique e Hyppolito, junto com os comerciantes Francisco Gottardi Primo e João Valle, trataram da emancipação da colônia com o governo do estado.
Rumo à Ilha do Desterro
O quarteto apresentou ao então governador Manuel Joaquim Machado o desejo da emancipação político-administrativa. Eles foram até a Ilha do Desterro tratar do assunto e apresentaram dados estatísticos, justificando a necessidade de a então colônia ser emancipada.
“Nossas conexões com a alta hierarquia da Igreja Católica também eram boas, por meio dos padres jesuítas que, em seus institutos de formação tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, eram os formadores da elite política nacional da época”, comenta Mazzola.
Na edição de julho de 1926 do Boletim Commercial está a história da emancipação de Nova Trento. Lá, consta que, quando Hyppolito, Henrique, Francisco e João retornaram da Ilha do Desterro, a colônia “explodiu de entusiasmo”. Houve marchas nas ruas em agradecimento ao governador e às autoridades políticas locais, além de uma missa solene.
Primeiros governantes
Por determinação do governador, foi marcada a data para instalação do Conselho Municipal de Nova Trento, o que seria, na prática, a “câmara de vereadores” da cidade. O ato aconteceu no dia 26 de dezembro de 1892. Coronel Henrique presidiu o primeiro conselho.
O primeiro superintendente (prefeito) escolhido em eleição foi coronel Hyppolito. Ele ficou no cargo por quatro anos. Depois dele, os superintendentes da cidade foram Giacomo Poli, de 1899 a 1910; Emilio Ovidio Gottardi, de 1911 a 1918; e Nicolau Bado, de 1919 a 1923.
O Conselho Municipal na época em que coronel Hyppolito era superintendente era formado por Eron Diedrich, Ernesto Wika, Antonio Marchiori, Christovão Moresco e Benjamin Battisti. Os juízes de Paz eram João Piazza, João Bottamedi, Domingos Busnardo e José Visintainer.
Crescimento comercial e industrial
Os poucos anos que antecederam e sucederam à emancipação foram de crescimento da cidade. Em 1890, dois anos antes do distrito de Alferes se tornar Nova Trento, foi inaugurada a estrada que liga Nova Trento e Tijucas, graças aos esforços de coronel Henrique.
“Os primeiros anos foram de progresso econômico para Nova Trento. Entretanto, o relevo acidentado, impróprio para a agricultura, e as grandes distâncias que separavam as propriedades rurais produtoras dos centros de distribuição dos produtos para o consumo foram aspectos negativos para a continuidade do progresso”, pontua Mazzola.
Membro do primeiro Conselho Municipal em 1892, Francisco construiu uma pequena usina hidroelétrica no ribeirão dos Alferes, para suprir com a energia elétrica de sua propriedade, local em que funcionava um grande comércio.
Coube ao então superintendente Nicolau Bado contratar o comerciante João Bauer, de Brusque, para o fornecimento da energia elétrica que foi distribuída para as residências do centro da cidade na década de 1920.
Tecelagem Neotrentina
Ainda nos anos finais da década de 1920 foi instalada no município a Tecelagem Neotrentina, filial da Renaux, de Brusque, que operou por 40 anos na cidade. De acordo com o diretor do Centro de Memória de Nova Trento, a tecelagem foi a indústria pioneira do município e teve papel fundamental na contribuição com o desenvolvimento econômico.
Ainda antes da emancipação, a primeira seda produzida em Nova Trento obteve medalha de bronze em uma exposição de Paris, em 1889. “O coronel Henrique animou a rudimentar indústria da seda, trazida pelos imigrantes do Tirol. Ele distribuiu aos colonos, em larga escala, as cepas de amoreira, em que folhas serviam de alimento para o bicho da seda”, conta Juliano Martins Mazzola.
Mais tarde, em 1914, foi construída uma ponte metálica que ligava as duas margens da cidade. A estrutura foi construída por determinação do então governador de Santa Catarina, Vidal Ramos. A ponte tinha 42 metros de comprimento.
“Não podemos nos esquecer que os camponeses trentinos e italianos que aqui chegaram não eram habituados ao trabalho nas fábricas. Portanto, não possuíam uma ‘cultura operária’. Isso sem dúvidas dificultou a implantação de mais unidades fabris”, finaliza o diretor do Centro de Memória de Nova Trento.