Nove décadas de lutas: Sintrafite de Brusque celebra aniversário de 90 anos
Sindicato dos funcionários têxteis de Brusque e região desempenha papel socioeconômico importante
Desde a assembleia conduzida por Gastão Reis em maio de 1933, que deu origem ao então Sindicato dos Operários em Fiação e Tecelagem, até os dias atuais, o Sintrafite passou por muitas mudanças, graças ao empenho dos associados, que desde então mimetizam a arrojo e audácia dos 138 operários que compareceram à primeira assembleia e elegeram Elpídio Cruz como primeiro presidente.
A história de nove décadas do Sintrafite é, claro, marcada por grandes movimentos, como as greves de 1950, quando empresas do ramo não cumpriram ordem judicial, e a de 1984, quando os trabalhadores surpreenderam o desfile do aniversário de Brusque no que ficou conhecido com o “movimento das fiandeiras” e que resultou em um reajuste salarial de 25% à categoria.
O trabalho do sindicato, porém, é diário e contribui para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Atualmente, a estrutura do Sintrafite está presente em Brusque, Guabiruba, Botuverá e Nova Trento, disponibilizando serviços para mais de 35 mil pessoas, entre associados e dependentes. A sede em Brusque tem 1.790 metros quadrados, contando com ambulatório, consultórios médicos, farmácia, sala de fisioterapia, auditório, entre outros.
Além disso, o Sintrafite promoveu diversos eventos ao longo de sua história, o mais marcante deles o Baile do Trabalhador, que foi realizado até 2013 e lotava o pavilhão da Fenarreco, distribuindo vários brindes aos associados.
“Para Brusque e nossa região, ele tem um papel fundamental tanto do lado econômico como do lado social. O resultado disso tudo é que nós temos hoje essa estrutura resultando economicamente socialmente aos nossos associados. Tudo também fruto da participação desses trabalhadores, principalmente de nossos associados, tanto os da ativa quanto os aposentados”, resume Aníbal Boettger, presidente do Sintrafite desde 1997.
Empenho de associados e trabalhadores
Aníbal participa ativamente do Sintrafite desde que tinha 17 anos, quando começou a trabalhar na Schlösser, em 1975. Em 1986, ele foi convidado a fazer parte da administração do sindicato. E, desde 1997, é o presidente da entidade. Dos 90 anos da entidade, ele participou de mais da metade.
Para o presidente, que passou a maior parte da sua vida envolvido com a entidade, é um orgulho a magnitude que o sindicato se tornou. Atualmente, o Sintrafite fornece aos associados e dependentes serviços médico, odontológico, fisioterapia, farmácia própria, clínica de ultrassom, assistência jurídica, corte de cabelo. Pela quantidade e qualidade de benefícios oferecidos, se tornou referência estadual e nacional.
“A gente é questionado sobre como é que se dá a assistência a um público desse somente com valores da mensalidade. Toda a receita é exclusivamente dedicada ao associado, ao seu bem-estar, ao retorno a ele e a seus dependentes, não só aqui dentro. Mas também temos um auxílio-saúde para exames ou procedimentos mais complexos. Não existe segredo. É administrar voltado aos nossos associados”, explica.
Além da participação ativa dos associados, Aníbal destaca o esforço diário dos quase 90 funcionários responsáveis por prestar os serviços diariamente nas quatro sedes do sindicato espalhadas pela região.
“ Só é possível atender essa demanda antes de mais de 35 mil vidas devido à dedicação desses 90 colaboradores que trabalham com a gente nas sedes e subsedes. Temos que agradecer aos profissionais, muitos de longa data, que tem participação efetiva nesse êxito do sindicato em 90 anos de existência”.
As batalhas do Sintrafite
Nos 90 anos de história, o Sintrafite passou por várias dificuldades e momentos de tensão. Aníbal recorda principalmente greves, onde muitos trabalhadores inclusive acabaram desligados por justa causa, como na paralisação de 1987, que durou oito dias, quando 250 operários perderam o emprego.
A primeira greve aconteceu em meados de 1930, através dos tecelões da Renaux, que reivindicaram contra a redução de salário provocada pela implantação de uma nova legislação trabalhista pelo governo Getúlio Vargas, que reduziu a jornada de trabalho para oito horas diárias.
A categoria como um todo se movimentou para greve pela primeira vez em 1950, quando os trabalhadores paralisam as atividades por 30 dias. Naquela oportunidade, as empresas não cumpriram decisão judicial que definiu um reajuste salarial.
Em 1984, quando os trabalhadores participaram de surpresa no desfile do aniversário de Brusque, e em 1986, quando toda a categoria paralisou os trabalhos por três dias, as fiandeiras e fiandeiros atingiram o objetivo de reajustes salariais.
Já em 2002, após uma grande assembleia, os trabalhadores foram em passeata até o pavilhão da Fenarreco, onde acontecia a Fenajeep. Diante de uma grande concentração de turistas, manifestaram-se contra a sobrecarga de trabalho ao longo das décadas e conquistaram avanço nas negociações com os patrões.
“Quando se chega em um impasse, os trabalhadores têm, em uma correlação de forças, a opção de paralisar as atividades econômicas para que lutem por sua justa reivindicação. Às vezes, no diálogo, não se chegou ao consenso e decidiu-se paralisar as atividades”, explica.
Nos últimos anos, o Sintrafite vem trabalhando no apoio aos seus associados que trabalharam nas três centenárias que encerraram suas atividades e que, desde então, precisam aguardar questões jurídicas para receberem seus direitos.
“Com o encerramento das atividades das empresas centenárias, houve um boom muito grande de outras pequenas e médias, que absorveram a mão de obra em Brusque, Guabiruba, Botuverá e Nova Trento”, conta. “Vários poré, aguardam os débitos serem quitados”.
Os processos relacionados à Renaux já foram encerrados, mas ex-funcionários de Buettner e Schlösser ainda aguardam o fim desta saga.
“Mais de 90% desses ex-funcionários da Buettner receberam assessoria jurídica aqui do Sintrafite. Foi apurado, individualmente, quais os créditos que cada um têm direito. Para receberem, eles agora aguardam as vendas dos patrimônios”, conta.
“Já para a Schlösser, para facilitar, já que os imóveis têm mais de 600 proprietários, foi constituída uma sociedade, administrada por mim e pelo Vanolli do Sindimestre. Aparecendo uma proposta decente, chamamos os legítimos proprietários e eles decidem se é um preço justo”, completa.