De acordo com pesquisa divulgada recentemente pelo Serasa, o número de brasileiros com dívidas atrasadas e CPF negativado bateu novo recorde e chegou a 63,2 milhões, o que representa 40,4% da população adulta do país. Na comparação com 2018 (61,2 milhões), são 2 milhões de pessoas a mais, uma alta de 3,3%. Além de assistirem ao crescimento de suas dívidas como bola de neve, graças à incidência diária de multa, juros e correção monetária, as pessoas com o nome sujo na praça perdem o acesso a empréstimos bancários, cheque especial e cartão de crédito.

A explicação mais latente para a alta inadimplência está na situação econômica do país, já há alguns anos delicada, com salários baixos e desemprego elevado. Mas essa não é a única causa. O alto índice de brasileiros endividados também tem um componente individual, que é o que hoje chamamos de analfabetismo financeiro. A expressão, que deriva do analfabetismo funcional, é recente e vem sendo utilizada no meio acadêmico e por instituições globais como o Banco Mundial.

O indivíduo é considerado analfabeto financeiro quando não sabe lidar com o dinheiro de forma plenamente consciente e racional. Ele, por exemplo, não faz ideia de quanto gasta por mês. Não tem preocupação em classificar suas despesas (alimentação, transporte, educação, telefone, lazer) nem em determinar o peso que cada categoria tem no orçamento pessoal. Compra frequentemente por impulso e não reflete se o produto adquirido é necessário e urgente.

Além de tudo isso, o analfabeto financeiro é capaz de fazer parcelamentos sem considerar o peso dos juros no valor final a ser pago. Também entra no cheque especial e paga apenas o valor mínimo da fatura do cartão de crédito sem perceber que em ambas as situações está contraindo empréstimo, e um empréstimo com juros altos. Quando vê oportunidades vantajosas de empréstimos, como as facilidades do crédito pessoal online, faz acordos sem uma avaliação mais profunda.

Outra mania do analfabeto financeiro é deixar o dinheiro parado na conta corrente, e não aplicado em investimentos de baixo risco. A maioria deles nem sequer poupa. E esse comportamento independe de classes sociais – existem analfabetos financeiros em todas as faixas de renda.

Endividamento é alto até entre os que tem o nome limpo

Mesmo presente em todas as classes sociais, o analfabetismo financeiro tem maior impacto nas camadas mais baixas da sociedade. Mesmo entre os que não possuem o CPF negativado, o endividamento tem sido alto. Dois em cada dez brasileiros recorreram ao cheque especial nos últimos 12 meses, segundo pesquisa divulgada pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito). O estudo também mostra que 40% dos brasileiros bancarizados têm o hábito de utilizar o saldo do cheque especial todo mês. As classes mais baixas (C, D e E) da população apresentam esse comportamento ligeiramente acima dos demais, com 48%.

O cheque especial é uma linha de crédito pré-aprovada pelos bancos, que é utilizada pelos usuários quando não há saldo suficiente para cobrir os débitos em contas bancárias. De acordo com o Banco Central, em média, os juros cobrados pelos bancos são de 320% ao ano, maiores que os de cartão de crédito rotativo.

Bancos aderem ao crédito para negativados

Com tantos brasileiros sem acesso direto ao crédito bancário, a capacidade de investimento das famílias também tem caído, fragilizando ainda mais a economia do país. Sabendo disso, alguns dos principais bancos do mercado têm buscado alternativas para resolver essa questão. A oferta de crédito para pessoas com restrições no CPF é uma dessas opções oferecidas pelas instituições financeiras, bem como cartões de crédito pré-pagos e os já conhecidos feirões limpa nome.

A entrada dos bancos digitais no mercado também tem favorecido quem busca empréstimo online para negativados. Instituições como o Banco Inter, Nubank, Just Online e Geru, estão acirrando a competição pela carta de endividados dispostos a saírem do atoleiro nos próximos meses. Isso se deve ao crescente, mesmo que tímido, otimismo em relação à retomada da economia brasileira, após a tramitação das reformas no legislativo e de algumas ações de incentivo do governo federal.

A diferença dos juros é relevante. Por isso, recomenda-se ao negativado em busca de crédito, uma minuciosa pesquisa. Só assim será possível fechar o melhor negócio. Atualmente existem empresas que reúnem as principais ofertas de crédito e comparam limites, taxa de juros e tempo para pagar. Tudo em uma página só. Depois de resolvida a questão, cabe ao cidadão trabalhar nas questões que o levam ao endividamento, para que não se repita no futuro. Afinal, se não podemos controlar a dinâmica do mercado financeiro, podemos conter nossos impulsos e utilizar o crédito com responsabilidade.