Número de contratações de caminhões para fretes cai
Fretistas que há poucos meses engatavam trabalhos, agora permanecem horas estacionados
Fretistas que há poucos meses engatavam trabalhos, agora permanecem horas estacionados
Antes da Copa do Mundo do ano passado, o fretista Hélio Antonio conseguia selecionar os trabalhos que lhe garantiriam o melhor resultado financeiro, tamanha era a demanda. A partir do Mundial, no entanto, a procura por fretes e mudanças caiu. Ainda assim, os serviços de transporte realizados para as empresas – principal renda do fretista – continuavam. A queda brusca ocorreu apenas no mês passado. Desde lá, devido à falta de trabalho, Hélio deixa o caminhão estacionado durante horas.
“Durante os 23 anos que eu trabalho com fretes, eu nunca havia visto uma crise como essa. Meus outros dois irmãos também têm caminhões e sempre deixávamos um para os serviços fixos com as empresas e os outros dois para as mudanças residenciais e para outras empresas que chamavam. Mas agora ficamos os três muito tempo parados”, explica Hélio.
Para tentar driblar a crise que atingiu as empresas e refletiu nos fretes, Hélio intensificou os serviços de mudanças. Em média, dois caminhões fazem de 40 a 50 viagens por mês em períodos de fartura. Desde o último mês, porém, esta categoria de transporte também decaiu. A queda, segundo Hélio, está relacionado ao preço praticado por ele – R$ 100,00 a hora.
“Nós cobramos mais caro para conseguir manter o caminhão. Precisamos cuidar de toda a estrutura do veículo, além do combustível que ficou mais caro. Também tem toda a documentação, como a renovação do registro da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que custa caro”, diz.
Diferente de Hélio, Joacir Fugazza – também proprietário de um caminhão de frete -, afirma que não aumentou o preço dos serviços neste ano mesmo com o acréscimo no valor dos combustíveis. Com o caminhão estacionado ao lado de outros quatro veículos de frete próximo à Italianinha, ele diz que a forte concorrência afastaria os clientes se o preço do frete e das mudanças subisse. Os serviços, para Joacir, caíram desde o início deste mês.
“Eu não posso reclamar muito porque faz um ano que trabalho com isso e já rendeu bastante. Mas desde que comecei, esse é o mês mais fraco. Geralmente no início dos meses, o pessoal costuma contratar mais, mas até agora está ruim. Acho que é culpa da crise geral”, diz.
Para mudanças que envolvem edifícios, Joacir cobra em média R$ 60,00 por hora. Para casas, o valor fixo – ele não calcula a hora – varia de R$ 100 a R$ 120. O frentista não demonstra confiança quanto à melhora nos serviços, em especial, pelo aumento no número de concorrentes: com a redução das contratações das empresas, os caminhões estão disponíveis ao transporte de mudanças.
Há dez anos na área, Valdir José Pinotti também convive com a queda na procura. Em média, ele realiza 15 fretes por mês e cobra preço fixo de R$ 150 – R$ 40,00 a mais do que o valor que praticava antes do aumento dos combustíveis. Ao relembrar dos tempos de fartura do ano passado, ele também lamenta a crise econômica atual.
“Eu não dava conta de tanto serviço no ano passado. Era o ano todo. No fim do ano intensificou mais ainda. Mas no início desse, começou a cair e está bem reduzido. Fazíamos mais fretes para empresas, mas com a queda tivemos de atuar também com mudanças”, diz.
A crise no setor não atinge apenas proprietários de caminhões, os proprietários de camionetes, que realizam serviços de fretes menores, também sofrem com a redução na procura. No ramo há um ano, João Gomes conta que a busca caiu nos últimos 90 dias, mesmo que ele não tenha aumentado o valor do serviço – R$ 100 a hora.
“Se aumentar o valor, eu perco o resto dos clientes”, diz. Enquanto permanece estacionado ao lado dos concorrentes, João aproveita o tempo para distribuir cartões e atrair clientes. “Ficamos expostos aqui e o pessoal acha curioso tanto veículo de frete junto. É uma estratégia para tentar chamar o pessoal”, completa.