Número de tentativas de suicídio é três vezes maior entre mulheres em Brusque
Casos são referentes aos primeiros meses de 2023; especialistas comentam dados
Brusque registrou 159 tentativas de suicídio entre janeiro e abril de 2023. Deste total, 122 foram tentativas feitas por mulheres e 37 por homens. Portanto, as mulheres representam 77% do total e o número é três vezes maior do que o das tentativas feitas por homens. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Saúde no último mês, após pedido da Câmara de Vereadores.
O documento também traz dados de 2022. No ano, o município registrou 388 tentativas de suicídios, sendo 275 tentativas feitas por mulheres e 113 por homens.
Contudo, os números de suicídios são diferentes: em 2022, o município registrou 22 óbitos, sendo 16 homens e seis mulheres. Em 2023, até abril, foram quatro óbitos, sendo três homens e uma mulher.
A coordenadora de Saúde Mental Municipal, Inajá Gonçalves de Araújo, e a assistente social da Equipe Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental (Ament), Lilian Pereira, apontam que a diferença entre os números não é uma questão exclusiva de Brusque.
Elas citam que o Mapa da Violência 2014 aponta que as taxas de suicídio no Brasil está de 15,8% entre mulheres e 84,9% entre homens, entre os anos de 1980 e 2012, confirmando uma tendência internacional.
“São vários os fatores de risco envolvido. Dentre eles destacamos os transtornos mentais, especialmente a depressão; abalos psicológicos, como perdas recentes; e restrições impostas pela perda de saúde, como doenças incapacitantes e outras. No caso das mulheres, há casos que o objetivo é comunicar o sofrimento”, conta Inajá.
O psicólogo Jones Emann, que atua no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (Caps AD), explica que estudos relacionam os resultados do suicídio com as dificuldades dos homens procurarem ajuda.
“Os que buscam, às vezes passam despercebidos nas avaliações, devido à incapacidade deles de verbalizar o sofrimento. A explicação de sobrevivência de mulheres ser maior do que os homens, no contexto do suicídio, tem a ver com a escolha do tipo do método. Homens escolhem meios mais letais, enquanto as mulheres menos letais, e, por isso acabam sobrevivendo à tentativa do suicídio”, detalha.
Jones também aponta um estudo epidemiológico no Vale do Itajaí entre os anos de 1996 e 2012. “A pesquisa revelou números interessantes. A cidade vizinha, Guabiruba, foi o município com maior média de suicídio por número de habitantes, enquanto Brusque teve a menor taxa de suicídio por habitantes”, continua.
Sobre o número de tentativas ser maior entre mulheres, Jones reflete que é preciso mais pesquisas para apurarem esse fenômeno. “Vejo, talvez, uma ligação no método escolhido. Enquanto os acabam se suicidando, as mulheres escapam, mas ainda permanecem no sofrimento mental. Isso aumenta a probabilidade de novas tentativas”, aponta.
Inajá destaca que cada caso é singular e envolve diferentes fatos. “Importante frisar que a pessoa que passa por essa situação está passando por sofrimento e que podem ser aliviados por meio da escuta sem julgamentos e principalmente por apoio, seja o incentivo ou até mesmo acompanhar a pessoa, para atendimento especializado (médico, psicológico e social). Assim, se evita novas tentativas e, principalmente, busca-se minimizar ou mesmo acabar o sofrimento”, completa.
Monitoramento
A Secretaria de Saúde afirma que monitora os casos de tentativa e conta com os cadastros de todas as notificações que ocorrem no município.
A pasta detalha que o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) atua em conjunto com a Vigilância Epidemiológica e com o Hospital Azambuja. O Caps realiza visita hospitalar semanalmente, para os pacientes que estão no hospital, como também para obtenção de dados, para a realização da busca ativa.
“Após conhecimento destes casos e o paciente não buscar pelos serviços, é realizada busca ativa para verificar a situação e realizar as orientações ou encaminhamentos necessários”, detalha Inajá.
Acolhimento
Inajá e Lilian explicam que existem serviços especializados para atendimento dessa demanda. O primeiro é o CVV, que realiza atendimento 24h por meio de ligação gratuita pelo número 188 ou por meio do site www.cvv.org.br, onde realizam atendimento por chat ou e-mail.
Já os serviços com atendimento presencial são ofertados pelo Samu; no pronto-atendimento em hospitais; no Caps II, para pessoas adultas; e no Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (Capsi) para pessoas com até 18 anos.
Para as pessoas próximas às vítimas de suicídio, elas explicam que o atendimento é realizado por vários serviços nas unidades básicas de saúde e pelas equipes especializadas de saúde mental (Ament e os Caps), conforme as demandas individuais.
A Secretaria de Saúde divulga que nos Caps atuam equipes multiprofissionais, que empregam diferentes intervenções e estratégias de acolhimento. Trata-se da psicoterapia individual ou em grupo, oficinas terapêuticas, atividades comunitárias, atividades artísticas, orientação e acompanhamento do uso de medicação, atendimento domiciliar e aos familiares, atendimento médico, terapia ocupacional, reabilitação neuropsicológica, oficinas terapêuticas, medicação assistida, entre outros.
A pasta detalha que o município conta com 12 psicólogos que fazem o atendimento na rede pública. São dois no Capsi, dois no Caps AD, quatro no Caps II e quatro na Ament.
Plano municipal
Buscando prevenir o aumento dos casos de suicídios no município, a Prefeitura de Brusque continua realizando a construção do Plano Municipal de Prevenção ao Suicídio. Conforme a Secretaria de Saúde, o documento será apresentado para comunidade em setembro.
Atualmente, a cidade segue o protocolo da Rede de Atenção Psicossocial, do Sistema Único de Saúde (SUS) estadual. Os pontos avaliados para cada protocolo são desde as características da sociedade até as formas de suicídio registradas.
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