O aborto volta à pauta
O
presidente do Conselho Federal de Medicina anunciou na semana passada seu apoio
à aprovação do aborto no Brasil, até a décima segunda semana de gestação,
independente de laudo médico. O que ele se esqueceu de dizer foi com base em
que ele pode decidir que o direito à vida só começa no primeiro dia da décima
terceira semana. A questão fundamental acerca do aborto é: a partir de quando o
feto é considerado um ser humano? Se o feto é um ser humano, então matá-lo é
homicídio. Se é apenas material biológico, sem identidade humana, então
retirá-lo do útero não é diferente de retirar um cisto ou um tumor. Mas quando,
afinal, começa a vida humana? Eu não sei. Você, leitor(a), não sabe. O
presidente do Conselho Federal de Medicina não sabe. A Marta Suplicy não sabe e
o Papa Francisco também não. E por que ninguém sabe? Porque não existe um
método de observação que possa atestar, cientificamente, quando a “vida humana”
se faz presente num bebê em gestação. Ora, se não sabemos cientificamente,
precisamos nos valer da razão, da inteligência e tentar decidir o que é mais
razoável. Na dúvida é mais razoável matar ou deixar viver? Nós,
que somos contra o aborto, religiosos ou não, simplesmente nos colocamos em
defesa de quem não pode se manifestar. Acreditamos ser mais racional, ético e
justo considerar que a vida é plena, da concepção à morte natural, para não
corrermos o risco de cometer ou deixar de denunciar um assassinato. Quem faz ou
defende o aborto decide que o feto não tem direito à vida, portanto, que não é
um ser humano. Mas decide com base em quê? Se a dúvida serve para absolver um
réu num processo criminal, como pode ir contra o interesse de um ser indefeso e
dependente? Isso me parece totalmente irracional. Gostaria muito de ouvir um
abortista defendendo seu ponto de vista a partir dessa questão, e não apenas
repetindo, teimosamente, que a mulher tem liberdade para dispor de seu corpo
como melhor lhe convém. A liberdade de um ser humano é limitada pela liberdade
e pelos direitos do outro. Uma vez grávida, não há apenas um ser humano no
corpo em questão, mas dois. E se há dúvida quanto à “humanidade” do feto, esta
deve ser usada na proteção dele, que é a parte mais fraca, e não na defesa dos
interesses e da conveniência da mãe. Se não, vale a lógica do mais forte, ou,
para usar as palavras de Rui Barbosa, é o “direito da força contra a força do
Direito”. Se isso não for injusto, então temos que reformular completamente o
que entendemos por Justiça. O presidente do Conselho Federal de Medicina afirma
também que essa questão deve ser decidida com base na vontade da maioria da
população e não por interesses de “grupos”. Nisso estou de pleno acordo. Mas
então, que os abortistas se manifestem antes das eleições e que a maioria que
defende o aborto os eleja. Aí poderão aprovar legitimamente sua lei. Nós
continuaremos a protestar, mas nos conformaremos em ser minoria. Mas por que não
fazem isso? Por que a presidenta Dilma, que é favorável ao aborto, mudou o
discurso durante a campanha para não perder o voto dos religiosos? Que maioria
é essa de que fala o doutor presidente? Os defensores do aborto não gostam de
debater argumentos contrários, preferem repetir os seus e denegrir a imagem de
quem se opõe a eles. Mas espero que aqueles que sempre pensaram que o aborto é
simplesmente um crime reforcem sua posição, e não se deixem levar pela intensa
propaganda que deve vir por aí.