O apicultor e o nosso café matinal
Nesta manhã, antes de quebrar o meu jejum com suco, frutas e umas bolachas salgadas com mel, fiquei sabendo que hoje é o Dia do Apicultor, esse profissional que cuida das abelhas como se fossem suas próprias filhas para que possamos ter a doçura do mel no café nosso de cada manhã desta vida humana, […]
Nesta manhã, antes de quebrar o meu jejum com suco, frutas e umas bolachas salgadas com mel, fiquei sabendo que hoje é o Dia do Apicultor, esse profissional que cuida das abelhas como se fossem suas próprias filhas para que possamos ter a doçura do mel no café nosso de cada manhã desta vida humana, que nunca esteve livre de amargas provações.
Por meses, com o olhar de cuidador amigo, o apicultor observa o abençoado trabalho das suas pequenas operárias aladas, no vaivém incessante em busca do delicado pólen – divinal matéria-prima da doçura sem igual – escondido nas entranhas das belas e perfumosas flores que embelezam nossos jardins e os galhos das árvores que, no amanhã de mais algum tempo, se encherão de frutos para a nossa mesa.
Então, chegada a hora de colher o produto do labor coletivo das milhares de viagens das suas trabalhadoras voluntárias, vestido como um astronauta a caminho do espaço sideral, o apicultor vai em busca do tesouro guardado na colmeia, o precioso néctar que os antigos egípcios veneravam como o alimento da eternidade, a ponto de os faraós levarem consigo, nas suas majestosas tumbas, um pote de mel para enfrentar a jornada final de suas vidas. Menos sepulcrais e funéreos, os gregos diziam ser a bebida sagrada dos seus deuses.
A colmeia, dizem os apicultores, é uma comunidade de milhares de pequenos indivíduos de asas e ferrão, que convivem lado a lado e de forma harmoniosa. Nessa colônia de soberana e servas, o trabalho se organiza e transcorre com base num plano natural de perfeita divisão social do trabalho coletivo.
Uma única rainha vive no seu açucarado castelo de favos, cera e mel para ser servida e alimentada pela plebe das milhares de serva-operárias. Sua missão prescrita pela natureza é a da concepção constante para a perpetuação da espécie. Como soberana, cabe a ela com sua autoridade, também manter a ordem numa comunidade de indivíduos armados de ferrão.
Os machos – os zangões – não são muitos, apenas algumas poucas centenas. São maiores do que as operárias e, para sorte destas, não possuem ferrão. A natureza foi generosa com os zangões. Deu-lhes a nobre e sublime função, não a todos, mas a alguns escolhidos pela sorte, de fecundar a rainha durante o voo nupcial. Morrem logo depois, provavelmente, felizes por terem cumprido a sua missão.
Como na sociedade humana, as milhares de operárias vivem para trabalhar, servir e alimentar a sua rainha e aos zangões, verdadeiros nababos da corte. Suas curtas vidas não passam de dois meses e se resumem a trabalhar, a voar da manhã à noite e ao zumbido constante do vaivém da colmeia à flor. Graças ao apicultor, nós também podemos degustar o néctar dos deuses produzido pelas abelhas.
No seu Dia, o meu abraço açucarado a esse bravo profissional que cuida das abelhas e produz o mel para adoçar o nosso café matinal.