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o canto do cisne

 

 

lembrar-me de ti sorrindo

(não consigo)

 

 

tento desesperadamente

ser mulher,

algo como é pré-concebido

aquele quadrado de:

maturidade e frieza

 

mas

as feridas não cicatrizam

invadem e reinvadem o corpo

o adoecem

todo pai,

um filho

todo filho, um pai

é a ordem natural

 

 

a vida rompe a própria vida

e nos confunde

 

 

 

fui dizer-te adeus

e já não ouvias

os olhos cerrados estavam

tuas mãos abraçavam o peito gelado

 

(não te reconheci)

o amor, sempre foi de vermelho

afogueado

 

 

é uma constante despedida

que não se pode despedir

 

uma reza

noite e dia

que estejas

 

 

apenas, estejas

 

a súplica desesperada

da companhia que acalenta

me guia,

me observa,

amém!

 

toda manhã acordo cedo

e pinto o mesmo quadro

sento ao teu lado

e com cores alegres

abraço o meu corpo ao teu

 

(é sem dúvida meu melhor retrato)

 

 

 

tudo que me falta

quando rodeada por tudo estou

 

hoje, (re)pinto

acostumada estou

minha próxima obra:

contigo estarei

te amo e jamais te esquecerei

 

 

Méroli Habitzreuter – escritora e ativista cultural

 

 

 

Poesia do Livro “Spleen”, que será lançado dia 15 de março, em Guabiruba.