O cão branquinho
O cão branquinho
- Por João José Leal
- 04/09/2019
- 4:48
Até então, as duas mulheres, passeando com seus cães, como é moda nas ruas das cidades deste país que mais parece um paraíso da raça canina, não se conheciam. Mas, bastou uma rápida parada para que os dois cachorros se cheirassem e as duas já pareciam amigas de outros encontros. Afinal, o cão não é apenas um amigo do ser humano moderno, tão carente de carinho e de um pouco de afago solidário. É, também, uma ponte entre as pessoas. Especialmente, entre as que conhecem a intimidade da vida canina e que, por isso, sabem sustentar um bom papo sobre o comportamento e os caprichos dos cachorros confinados ao interior de um apartamento.
Quem tem cachorro, já conhece pelo porte, pela pelagem e não questiona sobre raça. Assim, as primeiras perguntas foram dirigidas ao nome, sexo, à idade e à procedência dos dois animais que ainda se cheiravam, naquela operação de reconhecimento mútuo e de demarcação de território, coisa instintiva que os vira-latas fazem questão de garantir com ferozes lutas, porque vida de cão de rua não é moleza.
Cachorro também sente inveja e o vira-la deve invejar os privilegiados de sua raça, com sofisticado nome estrangeiro na coleira, que desfilam nas calçadas, penteados, com roupinhas e fitinhas, recebendo cuidados como se fossem uma criança. Alguns, porque não podem se cansar, desfilam no colo da devotada dona ou no cesto de uma bicicleta. Outros, ainda, passeiam de automóvel, em pé, junto à janela, o focinho fora do veículo para melhor contemplar a paisagem. Toda essa mordomia é negada ao vira-lata, que vive o drama de ser um morador de rua.
Mas, cão de pedigree é outra coisa. Com certificado de origem racial, amestrado e de boa família, sabe que é preciso compartilhar o espaço sem luta e sem briga. E os dois cães, um Poodle Toy, o outro um Buldogue francês, cachorro de pescoço torto, que olha enviesado para as pessoas, foram educados para viver num espaço de liberdade do tamanho da trela. Portanto, sabiam se comportar muito bem um com o outro e já brincavam como amigos do mesmo quintal.
A mulher mais velha, uma senhora já no final da idade sexagenária, falou para a mais nova, dona do buldogue, que nunca pensou em ter um cachorro. Mas, agora, com os filhos casados que pouco lhe visitam, os netos menos ainda, com o marido que não sai de casa e só quer assistir televisão, resolveu comprar um poodle para ter uma companhia nesta idade da saudade, porque velhice rima com solidão, disse ela.
“Dei-lhe o nome de Branquinho para lembrar do tempo que vivi em São Joaquim, quando vi neve cair algumas vezes e muita geada branca cobrir os campos durante os gélidos invernos de fazer frio abaixo de zero, naquela terra catarinense”.