O cartunista que desenha Brusque
Ler sempre foi uma ação muito presente em minha vida e uma das minhas primeiras leituras que passaram por mim foram os quadrinhos. Turma da Mônica, Garfield… porém, ainda criança, ao frequentar a casa do meu primo, sempre via pelos cantos uma tal revistinha Cartum e lia umas páginas. Com o passar do tempo, soube que ela era produzida por um brusquense e pedi para os meus pais que assinassem para mim. Então, em 2010 eu assinei – meus pais assinaram – a CARTUM. Eu ficava ansioso pra receber a revistinha de cada mês e a lia em, mais ou menos, uma hora. No mesmo ano, em dezembro, foi realizado um sorteio entre os assinantes e eu ganhei a coleção inteira da revista. Foi um presentão de Natal. A partir desse dia, eu devorei tanto aquelas páginas desenhadas que eu virei um Leitor VIP, um fã, um cartunático e fui trocando várias ideias com o escritor da revistinha, o Aldo Maes dos Anjos. Desde então, já virei personagem em uma das edições. Sempre que via minha coleção incompleta, o Aldo completava e, entre outras coisas, acabamos virando amigos. Hoje, eu trago uma entrevista com esse cara que produz, com muito carinho, a nossa revistinha local!
Aldo, onde surgiu o seu interesse pelo universo dos quadrinhos?
O interesse surgiu a partir da minha mãe, que fazia leituras diárias dos quadrinhos dos jornais depois do almoço e de gibis antes de dormir, desde os meus três anos de idade. Por conta disso, já aos quatro anos, antes de entrar no jardim, eu já sabia escrever, ler e, é claro, desenhar.
Durante a infância cheguei a ter mais de 2000 revistas em quadrinhos. Até os 15 anos eu já tinha desenhado mais de 50 revistas em quadrinhos (numa média de 30 páginas cada) com personagens próprios e roteiros originais. Com certeza é coisa de quem gosta dessa atividade.
Por que você resolveu personificar a cidade de Brusque em suas páginas, tanto no cenário, quando de maneira histórica, com a Brusque Ontem?
A tiragem de cada revista é de 3500 exemplares. Cada revista acaba sendo lida por diversas pessoas numa mesma família, ou em salas de espera, por exemplo. Levando em consideração tamanho alcance social, a revista CARTUM é projetada para levar conhecimentos úteis aos seus leitores, prestando um serviço de utilidade pública.
No caso da “Brusque Ontem”, o objetivo é resgatar a memória local, sendo fortalecida tanto nesta como nas próximas gerações. Os cenários da Brusque atual são para incrementar as histórias, mesmo, gerando uma curiosidade no leitor de reconhecer os locais e as pessoas que são ali retratadas…
Considerando que muitas vezes as HQs são umas das primeiras leituras com as quais as crianças têm contato, qual você acha que é a sua responsabilidade nesse ponto?
A ética é um compromisso desde o início da revista CARTUM, oferecendo uma opção para entretenimento sadio, sem palavrões, pornografia ou piadas de gosto duvidoso, que já ocupam um espaço considerável na mídia em geral. Com certeza minha responsabilidade é atrair os leitores de todas as idades com um bom humor autêntico e agregar informações úteis que vão aumentar os conhecimentos destes indivíduos.
Atualmente você trabalha com histórias cômicas que retratam tanto o cotidiano, como a história brusquense. Por que escolheu o estilo cômico? Você pensa em trabalhar com algo diferente, tipo super-heróis?
Prefiro o estilo cômico porque pretendo deixar os leitores mais leves do que estavam antes de pegar a sua CARTUM, livrando-o de tensões e alimentando sua serotonina (o hormônio do bem estar).
Super-heróis não estão fora de cogitação. Mas não sou um admirador de super poderes da ficção. Prefiro chamar de heróis os guerreiros do dia a dia: aqueles que cumprem jornadas de trabalho esgotantes com um sorriso no rosto, contentes e agradecidos. Aqueles que, apesar de intensas dificuldades, ainda conseguem ter fé e visualizar um futuro melhor. E também os humilhados, os excluídos e os injustiçados que apesar de tudo ainda conseguem perdoar e desejar o bem. Esses são meus super-heróis.
As personalidades retratadas na Cartum são diversas. As ideias na criação de diversos personagens surgiram através das pessoas que te rodeiam ou de outra forma?
São os estereótipos sociais: os tipos que se vê em todo lugar… tem o pão duro, o comilão, o pessimista, o obcecado pela limpeza do carro, o viciado na vida virtual, a fofoqueira, etc.
A consequência é que o leitor acaba se comparando aos personagens, refletindo até que ponto se familiariza com tais comportamentos e quem sabe, corrigindo algum defeito.
Que dica você daria pra quem tem interesse em produzir uma HQ?
Que pratique muito o seu traço, pois a evolução é consequência da persistência.
E que se mantenha aberto observando o mundo sem preconceitos, conhecendo outras culturas, outras formas de pensamento, ouvindo os mais velhos, interagindo com todas as classes sociais e todas as linhas de pensamento de uma maneira desapegada. Pois você não produz uma arte para um grupo específico, e sim, para o mundo.
Vitor Hochsprung – 17 anos – Letras – FURB