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O dever de ser otimista

Eu sempre fui um tanto quanto amargo e pessimista em relação
ao futuro da humanidade. Mas tenho mudado meu modo de ver e sentir as coisas,
por perceber que há pessoas excelentes, que precisam e merecem minha fé e meu
trabalho para que as coisas fiquem cada vez melhores.

No entanto, nem sempre consigo manter esse otimismo tão
aceso. Minha sensibilidade, vez ou outra, se deixa abater um pouco com as
inúmeras mazelas que nos assolam. No meio de uma cultura terrivelmente
decadente, de uma educação frouxa e ineficaz, de um sistema político cada vez
mais corrupto e cara de pau, não é fácil segurar a onda.

Mas, na semana passada, assisti a um vídeo na internet que me
emocionou e me fez recobrar o ânimo. Os produtores do vídeo entrevistaram
alguns adultos pessimistas, falando da sua desesperança no futuro, da falta de
perspectivas no cenário político, da ignorância, das guerras, da destruição da
natureza. Logo após desfiarem seu rosário de lágrimas, são convidados a
assistirem a um vídeo feito anteriormente com seus filhos, falando sobre o que esperavam
do futuro. Com aquela alegria impagável das crianças, diziam que queriam ser artista,
médica, ginasta ou estilista, com a esperança pura de quem espera o melhor. Ou
seja, foi um contraste enorme entre a alegre perspectiva das crianças e o
pessimismo amargo dos pais. Enquanto assistiam, os pais se emocionavam, e
alguns não conseguiram controlar o choro. Ao final, uma frase é deixada na
tela: “Como os sonhos dos seus filhos vão se realizar se um mundo melhor não
existir?”

Então me convenci de que o otimismo não é uma escolha. É
simplesmente uma necessidade, uma espécie de obrigação. Se nos deixarmos abater
pelas agruras da vida, já estaremos derrotados e colaborando para que o futuro
seja tão ruim quanto o pintamos hoje.

Escrevo este texto no dia em que se celebra a memória de São
Sebastião. A história desse mártir nos leva a pensar sobre o quão terrível eram
as perspectivas dos primeiros cristãos, que viveram sob o domínio de Nero ou Diocleciano.
Ali, a única perspectiva no horizonte era a morte violenta. A tenacidade e a
esperança desses milhares que enfrentaram um destino tão cruel chega a me
envergonhar.

Não deixarei de apontar e criticar o que está errado e deve
melhorar. Mas o farei sempre na perspectiva da melhora que há de vir, nunca com
desânimo ou fatalismo. É preciso acreditar no que é bom, para que os bons lutem
pelo que acreditam e fiquem ainda melhores. Dessa forma, o futuro melhor estará
sendo plantado.