O itinerário de uma revolução
O projeto de Lei apresentado pelo deputado Orlando Silva, do PC do B, que pretendia instituir o “Estatuto das Famílias do Século XXI”, foi retirado de pauta na semana passada, após uma enxurrada de críticas. Muitos jornalistas e blogueiros de esquerda classificaram como fake news a crítica de que o tal estatuto legalizava o incesto. […]
O projeto de Lei apresentado pelo deputado Orlando Silva, do PC do B, que pretendia instituir o “Estatuto das Famílias do Século XXI”, foi retirado de pauta na semana passada, após uma enxurrada de críticas. Muitos jornalistas e blogueiros de esquerda classificaram como fake news a crítica de que o tal estatuto legalizava o incesto.
Ora, o texto do projeto diz que “são reconhecidas como famílias todas as formas de união entre duas ou mais pessoas que para este fim se constituam e que se baseiem no amor, na socioafetividade, independentemente de consanguinidade, gênero, orientação sexual, nacionalidade, credo ou raça, incluindo seus filhos ou pessoas que assim sejam consideradas”.
Ora, esse “incluindo seus filhos” pode ser interpretado tanto como os filhos das pessoas que se juntam nessa suruba legalizada como também que os filhos podem ser considerados parceiros da união. E o que é consanguinidade? Ou o redator é um analfabeto funcional, ou a ambiguidade é intencional. Quem conhece a história do comunismo certamente vai apostar na segunda opção.
Estrategicamente, a revolução sexual precisa se desenrolar de modo que, gradualmente, possamos aceitar cada vez mais “liberdades” sexuais. Primeiro se aceitam as uniões homossexuais (de duas pessoas), como equivalentes ao casamento. Usa-se a palavra “homoafetividade” para se referir a tais relações, deslocando a linguagem e o pensamento para o campo do “afeto”, e não do sexo. Esses pares homossexuais adotam crianças e faz-se ampla campanha midiática em prol das “novas famílias”.
No passo seguinte (esse é o projeto do PCdoB), passa-se a considerar que se pode sentir afeto e se relacionar com várias pessoas, liberando a poligamia ou “poliamor”. Uma vez digerido esse processo, passa-se a considerar que pais e filhos, irmãos e irmãs também sentem “afeto” uns pelos outros, e não há nada de mais em incluí-los como parceiros. É a volta da família primitiva, descrita por Engels no século XIX.
Na última etapa, já que alguém pode se casar com a própria filha, ninguém vai estranhar que essa filha tenha apenas 7 ou 8 anos, afinal como tudo é construção cultural, o conceito de infância também é discutível (a ideologia de gênero já vem trabalhando nesse objetivo). Esse é um projeto de revolução que tem na destruição da família cristã seu foco principal.
O livro de Fernando Haddad, de 1998, chamado “Em defesa do socialismo”, já faz alusão à criação de uma “sociedade erótica” como forma de destruir a família. Uniões poligâmicas produzem muitas meninas que se tornam escravas sexuais do clã (há um programa da TV americana sobre isso). A dignidade da pessoa humana vai se perdendo a cada round desse “avanço”. Acrescente aí a liberação do aborto e da eutanásia, chacoalhe bem e veja para onde estamos indo.
O movimento contrário aconteceu quando a Roma pagã foi sendo convertida ao cristianismo. Os cristãos, no segundo século, eram acusados de perverter a família, porque defendiam a dignidade da mulher e combatiam o infanticídio. Agora, a cultura está se paganizando, e eu vejo muitos cristãos mais preocupados com o politicamente correto que com sua fidelidade ao Evangelho. Talvez o projeto do PCdoB tenha sido um tiro no pé precipitado, mas o recuo é apenas momentâneo. O movimento revolucionário não dorme nem cochila.