O Município nunca foi tão lido na história: entenda como a transformação digital fez o jornal romper barreiras
Jornal ampliou sua abrangência e relevância desde que passou a ter equipe dedicada à produção de conteúdo para a internet
Jornal ampliou sua abrangência e relevância desde que passou a ter equipe dedicada à produção de conteúdo para a internet
Fundado em 1954, o jornal O Município conviveu, ao longo das décadas, com mudanças no mundo, na tecnologia e no modo de fazer jornalismo. O século XXI, porém, causou grandes mudanças no consumo de notícias, não só entre os leitores do jornal, mas entre todos os consumidores da mídia tradicional. A democratização do acesso à internet fez com que os veículos de comunicação enfrentassem grandes desafios no modo como produzem conteúdo.
Ao longo dos anos, veículos que pareciam consolidados e praticamente imortais, principalmente com a crescente facilidade de acesso à internet móvel, perderam relevância e força. O Município, porém, fez o caminho contrário. Nunca se leu tanto o jornal como nos dias atuais.
Em média, o portal omunicipio.com.br recebeu 2,3 milhões de visualizações mensais em 2023. Já o Grupo O Município, que inclui os portais de Brusque, Blumenau e Joinville teve 6,4 milhões de acessos, em média, no mesmo período.
Só em maio de 2024, mais de 523 mil pessoas acessaram o site do jornal O Município, o que encheria 523 vezes a Igreja Matriz de Brusque – a capacidade é de 1 mil pessoas sentadas. E lotaria mais de 104 vezes o estádio Augusto Bauer, que comporta cerca de 5 mil pessoas.
O sucesso digital do jornal O Município, porém, só foi possível graças a muito planejamento, estudo e trabalho.
“O jornal sempre teve uma audiência muito grande, mas restrita a assinantes e a quem comprava a edição impressa. Hoje, ampliamos para todos que tiverem acesso à internet. Ampliamos nosso número de leitores e a frequência que a pessoa lê o jornal. Quem lê o impresso, normalmente o faz pela manhã. Com a cobertura no digital, passamos a impactar as pessoas ao longo do dia. O jornal nunca foi consumido por tanta gente e nunca teve um volume de notícias como tem agora. O jornal chega aos 70 anos mais forte do que quando tinha 40, 50, 60”, analisa o diretor de Jornalismo e Operações do grupo O Município, Andrei Paloschi.
Durante muito tempo, o jornal foi reconhecido como força no interior de Santa Catarina, mas com influência restrita à região. A internet, no entanto, rompe a barreira do jornal físico. Hoje, O Município é mais reconhecido pelo estado do que era quando tinha apenas a versão impressa.
“A força da marca do impresso foi importante, mas isso não era uma garantia. O processo digital sempre foi de muita tentativa e erro. Hoje somos reconhecidos pela nossa qualidade em várias esferas, o que chancela a nossa credibilidade”, destaca Claudio José Schlindwein, diretor geral de O Município.
Apesar de ter investido no digital mais tarde do que outros veículos pelo Brasil, O Município fez a transição com muito sucesso: assumiu a liderança de audiência no digital em poucos meses e passou a ser referência para outros jornais. “Quando planejamos e nos propusemos a fazer essa transição, fizemos com muita consistência. Um diferencial importante foi pensar o conteúdo em duas frentes de trabalho: a cobertura factual, do que acontece, e os conteúdos exclusivos”, ressalta Andrei.
A primeira página do jornal O Município na internet foi criada em 2000, cinco anos após o primeiro portal de notícias surgir no Brasil, a Folha de São Paulo. Na época, o destaque era o jornal em “modo folhear”, em que a versão impressa era disponibilizada em PDF.
O site passou por reformulações em 2005 e 2009, mas ainda sem uma atenção especial para a produção de conteúdo digital.
Já em 2012, foi lançado o portal Município Mais. Na época, a ideia era utilizar conceitos da Web 2.0, onde o conteúdo do impresso era ampliado no digital, com informações extras, links e galerias, entre outros elementos.
Nesse contexto, no início de 2013 o jornal contratou Andrei Paloschi, hoje diretor, para ocupar o cargo de assistente de conteúdo. Ele tinha a função de gerar material para o portal, aumentar a interatividade, utilizando enquetes e sorteios, que também eram divulgados no impresso.
Até 2015, o jornal viveu um momento de transição, com muitos testes. O foco ainda era o impresso. Portanto, não havia uma preocupação com agilidade na maioria das coberturas. Mesmo assim, iniciativas, que tiveram um impacto positivo no futuro, foram realizadas.
“Fizemos algumas coberturas em painéis ao vivo, com jogos do Brusque – o que é feito até hoje – e também nas manifestações de junho de 2013. Me fez entender a dinâmica dessas coberturas em tempo real. Isso foi levado também para as eleições”, lembra.
Um episódio específico, porém, acabou sendo um marco para que o jornal entendesse a relevância de uma cobertura ágil. Em 2015, quando Brusque passou por uma eleição indireta, houve duas trocas de prefeitos entre a publicação de duas edições do jornal impresso – de sexta-feira e segunda-feira. Apesar do jornal ter feito uma cobertura on-line, Andrei lembra que o sentimento, para ele, foi de frustração.
“Foi uma cobertura de qualidade, mas básica. Poderíamos fazer um trabalho muito melhor se tivéssemos o hábito de uma cobertura digital. Foi um importante ponto de partida para as melhorias”, recorda.
Em 2015, Andrei, que já tinha passado por outras funções no seu período no jornal, foi convidado para ser o editor-chefe. Com as experiências que já tinha vivido, desenvolveu um projeto para um novo portal para O Município. A virada do jornal para o digital começou aí, ampliando a cobertura de notícias factuais e de eventos.
“Aquilo era um desafio porque o jornal tinha uma cultura do impresso, inclusive os repórteres. Eles não estavam acostumados a produzir conteúdo para o digital”.
A equipe foi reorganizada para atender às novas demandas. O jornal contratou os serviços de Levi de Oliveira. Falecido neste ano, ele era um radialista experiente com trajetória em cobertura factual e segurança pública na Rádio Cidade e em outros veículos.
Além disso, um repórter por período passou a ser responsável pela cobertura factual e também foi ampliada a cobertura nos plantões de fim de semana. São mudanças que, no primeiro momento, podem parecer simples, mas que causaram grande impacto.
“Hoje, parece lógico, mas na época foi muito impactante. Até então, a equipe produzia suas pautas do dia e não tinha uma atenção ao factual. Na cobertura de eventos e na divulgação, o compromisso com a agilidade era menor”, lembra.
Outra mudança importante foi a unificação da marca, realizada em 2017. Até então, o impresso era chamado Município Dia a Dia (adotado em 2002), mas o jornal também era conhecido como MDD (abreviação de Município Dia a Dia), O Município (nome original de 1954), Município e, no digital, Município Mais (nome dado ao portal). Com a experiência da internet e relatórios de busca no Google, foi montado um projeto para unificar e excluir qualquer outra nomenclatura que não fosse O Município.
“A partir daquele momento, padronizamos o uso em todas as plataformas. Também passamos a usar o símbolo adotado até hoje, com o M dentro de um círculo azul. Esse rebranding foi importante para a lembrança de marca no meio digital”. Neste mesmo ano, foi lançado o novo portal do jornal, com o layout que permanece similar até hoje.
Em 2020, a produção de notícias do jornal passou por uma nova mudança importante, que possibilitou que coberturas como a da pandemia da Covid-19 e de enchentes fossem feitas com mais agilidade e qualidade.
Naquele ano, o jornal implementou as equipes Radar e Reportagem, com o objetivo de ter uma cobertura factual o dia todo.
“Desde então, temos um repórter apurando o que acontece na região durante todo o dia, das 6h às 22h, e também um plantão de fim de semana. Passamos a ter uma cobertura todos os dias, o dia inteiro. A produção de reportagens mais elaboradas ficou com a equipe Reportagem”.
Normalmente, o tempo dos repórteres é dividido entre as duas equipes. A ideia é que os profissionais tenham capacidades completas para desenvolver o seu trabalho. O modelo é muito bem-sucedido e foi reproduzido para as praças de Blumenau e Joinville.
Além disso, o jornal precisa, constantemente, lidar com as mudanças nos canais de divulgação dos conteúdos. O Facebook foi um grande aliado do crescimento do portal nos primeiros anos do novo site. Hoje, é o WhatsApp. No meio do caminho, também teve uma grande influência do Instagram.
O jornal, inclusive, chegou a ter um aplicativo próprio muito parecido com o WhatsApp, que se chamava Post-up, em 2016, mas entendeu, com as experiências diárias, que o hábito das pessoas é utilizar a sua plataforma preferida para consumo de notícias. O jornal atualmente possui uma equipe de estratégias digitais focada em planejar, produzir e divulgar conteúdos para as várias redes sociais em que está presente.
Isso também demonstrou a necessidade de produção de conteúdos adaptados ao hábito de consumo dos usuários nas diferentes plataformas. “Os projetos especiais têm planejamento e visual específico para cada rede social”, destaca Andrei.
Dez anos atrás, a internet tinha uma conexão mais lenta e publicar vídeos demandava muito tempo de produção. Mas o jornal passou a testá-los a partir de 2015, o que foi um diferencial para a transição digital.
Anteriormente, na época do portal Município Mais, os vídeos eram usados apenas como imagens de contexto.
O primeiro projeto com produção de vídeo foi o Casarões, produzido pelo então repórter Marcelo Reis, hoje editor-chefe, e por Bárbara Sales. Nesse especial, os próprios repórteres gravaram, com câmeras fotográficas semiprofissionais e, para cada reportagem escrita, foi publicada também uma versão em vídeo. “A qualidade é bem inferior ao que fazemos hoje, mas foi importante como aprendizado”.
No mesmo período, o jornal contratou os serviços terceirizados de um cinegrafista e editor de vídeo, que passou a produzir reportagens periódicas junto à equipe de jornalistas. A experiência foi feita durante alguns meses.
Ainda em 2015, o jornal realizou suas primeiras transmissões ao vivo em vídeo. A primeira, através do Periscope, antiga plataforma do Twitter (atual X), foi uma coletiva do prefeito interino da época, Roberto Prudêncio Neto. No geral, foi uma tentativa bem-sucedida, mesmo com imagem e áudio travando. Mais adiante o Facebook passou a ser utilizado com frequência.
O que se tem atualmente é uma estrutura bem mais moderna e uma atenção exclusiva à produção audiovisual. Diversos especiais são produzidos com cinegrafista profissional e utilização de drone. O jornal ainda tem um estúdio totalmente equipado e um produtor multimídia contratado.
“Hoje, nosso padrão é fazer transmissões ao vivo com qualidade profissional. É instigante olhar em retrospecto e ver como avançamos. O mundo avançou e o jornal acompanhou”.
Quando realizou a transição digital, o jornal O Município percebia que o mercado já estava mais aberto à publicidade na internet. Até então, o digital era um complemento ao impresso também no setor Comercial. Clientes que anunciavam no impresso recebiam bonificações para o site.
No início, o principal produto do jornal na área comercial para o digital eram os banners. Ao longo dos anos, O Município passou a oferecer vários produtos, se utilizando da força nas plataformas.
Entre as inovações, o jornal iniciou a comercialização de anúncios na modalidade conteúdo patrocinado (branded content) em 2016, e, ao longo dos anos, passou também a publicar anúncios no Facebook, Instagram e outras redes sociais.
Uma evolução desse modelo são os projetos especiais em texto e vídeo exclusivo para o comercial. “Os investimentos em tecnologia que fizemos também deram condições para isso. Foi uma modernização bastante grande no modelo, passamos a desenvolver formatos eficientes, nativos digitais”, resume o gerente comercial Everton Caetano.
Além do bergamasco: dialeto da região do Tirol, na Itália, ainda é falado em Botuverá: