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O paraíso que vira inferno

Você sabia que fevereiro é o mês de conscientização sobre a violência nos relacionamentos adolescentes? Nem eu. São muitas as datas ligadas à saúde e à conscientização. A gente se perde. Mas esta a gente não vai esquecer mais, aposto, depois de ver o vídeo que a ONG norte-americana Day One publicou em seu site, e que foi divulgado em muitos portais e nas redes sociais. Está aqui, para facilitar a sua vida.

O vídeo de animação tem pouco mais de dois minutos e a trilha é uma música bem conhecida, Walking on Sunshine, do grupo Katrina and the Waves. É uma música alegre. A história começa fofinha, como toda história de amor teen. Menina e menino se conhecem, começam a sair, ele é atencioso, carinhoso, envolvente. Aos poucos, ele se torna exigente, mandão, sufocante, sujeito a ataques de raiva. Ela se deixa envolver e aceita os pedidos de desculpas. A relação vira uma montanha russa, com cada vez mais baixos do que altos.

Você conhece essa história? Ela acontece em todas as idades, mas adolescentes costumam ter menos ferramentas para lidar com o abuso “não físico”.

Os comentários nas postagens do vídeo nas redes sociais são do tipo que alimentam a tristeza. Não, como costuma acontecer, por ter uma chuva de discurso de ódio. Mas pelas pessoas que se identificam com a historinha. Repare.

A gente acaba se afastando de todo mundo pra tentar fazer com que aquela pessoa não fique com raiva ou chateado ou magoado, porque no final de ‘a culpa é nossa’. Esse sentimento de culpa é aterrorizante, sair de um relacionamento abusivo é difícil pra caramba.”

“Ele não achava que eu era a vítima. Me tratava como se eu o irritasse e fosse culpada pelo estado de humor dele. Quando eu terminei, agiu como se nada tivesse acontecido e como se ele não ligasse. Depois me procurou por telefone e me xingou, quando não cedi. Depois me tratou bem. Depois me xingou. E foi assim até eu bloquear.”

“A primeira violência é com palavras, depois com o tempo vem a física. Num momento bate, no outro se ajoelham e diz que amam. E você segue numa gangorra emocional, em que se sente culpada por nada.”

“É exatamente assim! Primeiro te enche de amor, depois te tira a vontade de viver…”

 

Saber que isso é um comportamento comum, que a pessoa que está sendo vítima deste abuso não está sozinha no mundo, pode ser um ponto de partida, um impulso para sair do relacionamento. É por isso que iniciativas como esta merecem aplauso e divulgação. Porque podem fazer uma enorme diferença.

A Day One também aproveitou fevereiro para estimular o uso da hashtag #TellThemNow, junto com coisas que as pessoas gostariam de dizer hoje (ou quando eram mais novas) para os pais, sobre problemas nos relacionamentos. Mas nada impede que a gente estique a campanha através do ano! O importante é quebrar o silêncio e procurar apoio.


Claudia Bia
– jornalista e entusiasta do uso positivo da internet