O que as testemunhas de assassinato do homem em situação de rua em Blumenau falaram à polícia
Juiz transformou a prisão em flagrante do autor em preventiva
A reportagem do jornal O Município Blumenau teve acesso aos depoimentos das testemunhas e à decisão do juiz Eduardo Passold Reis, que transformou a prisão em flagrante de Gleidson Tiago da Cruz em prisão preventiva. Ele é o autor do homicídio contra o morador de rua, identificado como Geovane Ferreira da Silva, de 29 anos, que ocorreu na frente do Supermercado Giassi em Blumenau, na sexta-feira, 3.
O depoimento de três testemunhas do fato constam no documento e foram levados em consideração pelo magistrado.
Versão das testemunhas
Um funcionário do supermercado relatou que ouviu uma gritaria na parte externa e quando chegou no local, viu o autor aplicando golpes de faca no peito da vítima. Ele conteve Gleidson até a Polícia Militar chegar ao local do crime.
A segunda das testemunhas foi um homem que estava no supermercado pra fazer uma refeição. Quando saiu do estabelecimento, ele encontrou Geovane caído no chão com a faca cravada no peito. Ainda segundo o relato, ele acreditou que o motivo da agressão foi uma paçoca, que a vítima teria oferecido para a filha do autor do crime. Também acrescentou que não viu o momento do esfaqueamento.
Já a terceira testemunha, uma mulher que estava na porta do estabelecimento, relatou que viu Gleidson golpear a vítima com uma faca, mas não soube informar a motivação do crime.
Versão da defesa
Geovane morreu após ser esfaqueado por Gleidson em frente ao supermercado Giassi na última sexta-feira, 3, por volta de 18h20. Conforme o advogado de defesa dele, Rodolfo Warmeling, inicialmente houve uma discussão entre o homem e a vítima, um vendedor ambulante.
Segundo o advogado, a discussão teria ocorrido pelo desrespeito por parte da vítima, “seguida por uma ameaça velada à integridade física da filha menor de idade do autor”.
“A vítima, insatisfeita com a ameaça proferida à integridade física da filha menor do autor, prosseguiu com ofensas de baixo calão e desferiu chutes no carrinho de bebê com novas ameaças. A ação foi instintiva de um pai [autor do crime] que estava na iminência de uma grande ameaça que colocava em risco não somente à sua integridade física, mas também, a de sua filha menor que conta com pouco mais de 2 anos de idade”, conta o advogado.
Após isso, ambos entram em luta corporal. Conforme Rodolfo, neste momento, o autor do crime teria desarmado a vítima, que estaria com a faca. Em seguida, ela foi usada no homicídio.
Ele salienta que o fato se trata de uma verdadeira tragédia. “É um fato lamentável oriundo de um pai que se viu ameaçado por um cidadão que desrespeitou todos os limites toleráveis, sobretudo, ao ameaçar a integridade física de uma criança com menos de 3 anos de idade”, continua Rodolfo.
Prisão preventiva do autor
Em sua decisão na audiência de custódia, o juiz afirma que é “inviável dizer que o indiciado agiu em legítima defesa, ao menos nesse momento embrionário das investigações, porque não há nenhum elemento concreto até o momento que pudesse corroborar tal versão”. A hipótese de legítima defesa chegou a ser ventilada em redes sociais e apoiada pela defesa.
O juiz acrescentou ainda que o “crime foi praticado de forma violenta e cruel, sendo a vítima atingida por ao menos quinze golpes de faca, tendo o instrumento cortante inclusive ficado preso ao tórax da vítima, que caiu à beira da calçada em local de intenso fluxo de pedestres e veículos”.
E vai além, levando em consideração depoimentos das testemunhas: “Portanto, mesmo que a provocação tenha partido da própria vítima – o que não é possível ainda confirmar e nem parece ser o caso – não há como ignorar que o desdobramento que se seguiu, ao que tudo indica, foi desproporcional ao contexto narrado e extrapolou os limites jurídicos de uma eventual legítima defesa”.
Imagens mostram que facadas começaram pelas costas
Novas imagens mostram que Geovane Ferreira da Silva teria sido esfaqueado pelas costas na última sexta-feira, 3. Ele teria fugido da calçada até a entrada do supermercado de Blumenau, mas foi perseguido por Gleidson.
O ataque continua após a vítima cair no chão. Geovane foi encontrado pelos socorristas sem vida e o autor aguardou no local até a chegada dos policiais. A filha dele, com pouco mais de 2 anos, assistiu ao crime.
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