O que federação e clubes haviam proposto para o retorno do Campeonato Catarinense
Documento de 27 páginas propondo medidas restritivas para possibilitar término da competição foi recusado pelo governo estadual
Documento de 27 páginas propondo medidas restritivas para possibilitar término da competição foi recusado pelo governo estadual
Os clubes de futebol profissional de Santa Catarina e a Federação Catarinense de Futebol (FCF) encaminharam um guia médico de 27 páginas ao governo do estado, em uma tentativa de retomar o Campeonato Catarinense em 16 de maio, em meio à pandemia do coronavírus (Covid-19). Este documento incluía medidas como aquisição de testes, suspensão de alguns protocolos e políticas de distanciamento em viagens e demais situações, como hospedagem e convivência em dia de jogo. O governo recusou a proposta nesta terça-feira, 28.
O guia é elaborado pelo chefe do departamento médico do Avaí, Luis Fernando Funchal; pelo médico infectologista Valter Araújo; pelos membros do departamento jurídico da Associação de Clubes de Futebol Profissional de Santa Catarina (SCClubes), Sandro Barreto e Guilherme Roman, e pelo diretor-executivo da associação, Claudio Gomes.
Todas as medidas listadas no projeto estavam sujeitas a discussões e mudanças em conjunto com o governo estadual.
Consta no documento que seriam criadas comissões de médicos para acompanhamento, orientação de protocolos e realização de relatórios semanais à Secretaria de Estado da Saúde (SES). Os clubes sugerem ao governo estadual a indicação de representantes que atuem junto às equipes especiais. São cogitadas demissões e outras rescisões de contratos “em grande número” caso o retorno não seja possível.
Em dos trechos do guia, lê-se: “como sabemos o risco de exposição a esse vírus ainda é baixo para a maioria das pessoas, principalmente que é desportista.” Dezenas de esportistas profissionais já testaram positivo, incluindo o atacante argentino Paulo Dybala, da Juventus, e o ala estadunidense Kevin Durant, jogador de basquete do Brooklyn Nets.
Não consta, no chamado Guia Médico de Sugestões Protetivas na Retomada Progressiva do Futebol Profissional de Santa Catarina de Forma Segura, sobre como os testes serão adquiridos nem estimativa dos custos nos quais a execução do plano acarretaria.
O Campeonato Catarinense foi paralisado ao fim da última rodada da primeira fase. Faltam 16 partidas para a competição terminar de fato: oito das quartas de final, quatro das semifinais, duas da final e duas da repescagem. Em modo normal, o Brusque, vice-líder do campeonato, enfrenta o Joinville, decidindo o mata-mata no Augusto Bauer.
O guia é dividido em cinco fases. A primeira trata sobre retorno aos treinos, retomando práticas específicas e individuais, com pequenos grupos de atletas em espaços determinados. O treino de preparo físico e os de contato com bola ocorrem já neste momento. Há um conjunto de procedimentos sugeridos para esta fase, como percurso casa-campo-casa, jogadores equipados já em suas residências, cada jogador treinando com uma bola, medição de temperatura, comunicação imediata de qualquer sintoma.
A segunda fase aponta treinos praticamente normais, e consta que todos os jogadores e profissionais que trabalham em contato com eles poderiam realizar, novamente, testes para o Covid-19, desde que tivessem testado negativo na primeira fase.
A terceira fase trata da realização das partidas. Todas teriam portões fechados. Integrantes dos grupos de risco não poderiam fazer parte de nenhuma delegação.
A quarta fase dá detalhes sobre viagens, que precisariam ser feitas, prioritariamente, no mesmos dias dos jogos, sem pernoite. As poltronas duplas dos ônibus deveriam ser ocupadas por um único jogador. Refeições deveriam ser feitas em locais arejados, e o uso de elevadores em hotéis deveria ser evitado. O processo seria encerrado com a quinta fase, basicamente um acompanhamento dos procedimentos.
Durante todo este processo, era recomendado que houvesse o mínimo de conversas.
Havia uma série de medidas de distanciamento propostas para evitar contágio no momento do jogo:
O guia determina a aquisição de termômetros de medição rápida, oxímetro, testes para Covid-19 (preferencialmente os rápidos), máscaras e luvas e desinfetantes para as mãos. O teste rápido deveria ser disponibilizados a todos os envolvidos na partida com pelo menos 24h de antecedência de cada jogo.
Deveriam ser testados todos os membros das duas delegações e respectivos dirigentes, equipe de arbitragem, delegados da partida e de combate ao doping, funcionários essenciais do estádio e membros da imprensa.
Cada time teria um responsável por medir a temperatura dos atletas de cada delegação e da arbitragem. Caso alguém estivesse com temperatura acima de 37°C, seria excluído da partida e levado à sua casa ou confinado com máscara.
Seriam também elencadas restrições específicas de higiene e limpeza, vestiário, rouparia, academia e departamento médico.
As entrevistas com repórteres à beira do campo deveriam respeitar a distância mínima de 2 metros, e os microfones higienizados após cada uso.
Jornalistas estariam presentes em quantidade reduzida, com todos devendo realizar teste rápido. Coletivas pós-jogo seriam realizadas sem os repórteres, que enviariam suas perguntas aos assessores de imprensa dos clubes de forma online.
Forças policiais seriam acionadas para coibir aglomerações nos arredores do estádio e o deslocamento de torcedores.