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O que foi que aconteceu com a profundidade?

Não quero criar polêmica nem ofender o gosto musical de alguém, mas preciso tirar do peito um descontentamento que me persegue. Até porque, começar com a palavra NÃO já mostra que não estou tão preocupada com os padrões. Quero mesmo é ter coisas a pensar, e poder dividir com vocês esses pensamentos. Que me diz?

 

arte: Silvia Teske

Quando criança eu dançava É o Tchan! na viagem de férias, mas quando voltava pra casa eu queria saber como é que um cara podia dizer que ele era “suspeito de um crime perfeito, se crimes perfeitos não deixam suspeitos”! Ou me questionar “quanto vale a vida longe de quem nos faz viver?”

Minha pergunta vem da feliz notícia de que poderei assistir meu ídolo musical desde infância, ao vivo e a cores, no próximo sábado! São cerca de 17 anos ouvindo dizer que “as nuvens não são de algodão”, e só há pouco tempo perceber o quanto isso é verdade.

O quanto os ventos mudam mesmo de direção, e isto nunca se torna banal: as mudanças continuam sendo necessárias, pois “é inútil ter certeza” e, em algum ponto da vida, até a ingenuidade é necessária, se “eu soubesse antes o que sei agora, faria tudo exatamente igual”… Afinal, são nossos erros que nos impulsionam, nossos tombos que nos fazem levantar e, lá de quando em vez, surge a oportunidade de ir um pouco mais alto. Ou mais fundo… Tudo depende de onde se quer chegar.

Sempre fui uma entusiasta de reflexões, desde criança a, então, miniadulta aqui queria saber o que significavam palavras diferentes: conceitos avançados demais para uma criança entender… “Mãe, o que é libido?” ou “como faço pra saber quanto dura um minuto?”

Preciso admitir que me entristece saber que as músicas que esta geração de crianças escuta vão lhes ensinar que “esse lance de amar” não dá pra querer, ou que “ todo dia é farra/ Ostentação: viver no poder”. Quem, em sã consciência, quer levar para vida a ideia de que “continuar se afogando no álcool/ O som do carro no talo /Manda a multa que eu vou pagar” é uma coisa válida?

Talvez as pessoas estejam sofrendo demais, para terem desistido de amar, se entorpecendo com pensamentos assim. Vejo tanta gente comendo pelas beiradas, evitando amizades profundas e paixões quentes. Todos com medo de sofrer, esqueceram-se que é na dor que sentimos o coração acelerar e lembramos que ainda estamos vivos!

Até mesmo o instinto primitivo que carregamos conosco nos lembra disso: o medo é uma resposta do organismo em frente alguma ameaça, que faz com que a gente se prepare para lutar ou fugir. É o medo que nos move e nos mantém vivos, e ele nos dá duas alternativas.

Quando foi que as pessoas acharam que só havia a oportunidade de fugir, seja do compromisso de um amor ou da profundeza de um questionamento existencial. “Será que existe vida em Marte?”

Só sei aquilo que até hoje aprendi, de que “não adianta entrar na dança depois que a música parou”, mas sei que posso manter ela tocando! E que seja música que nos permita mais que “na boca invés de um beijo um chiclet de menta”; que nos permita discussões verdadeiras, trocas importantes (de ideias, de fluidos… por que não?), entregas e paixões, que vez ou outra podem machucar, mas somente elas deixarão as marcas que constituem nossa real personalidade.

 

 

Eduarda Paz Padoin – psicóloga