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O que mamãe quer de presente

Minha mãe nasceu no norte de Minas Gerais, no início da década de 1920. Nunca foi à escola, porque meu avô entendia que mulher não carecia de saber ler e escrever. Casou-se com meu pai e vieram para o norte do Paraná, na década de 1940, para trabalharem nas lavouras de café. Como sou o […]

Minha mãe nasceu no norte de Minas Gerais, no início da década de 1920. Nunca foi à escola, porque meu avô entendia que mulher não carecia de saber ler e escrever. Casou-se com meu pai e vieram para o norte do Paraná, na década de 1940, para trabalharem nas lavouras de café.

Como sou o último de uma prole de dezesseis irmãos, dos quais sobreviveram doze, não vivenciei o período das quase anuais migrações entre uma fazenda e outra. Da minha infância, lembro-me dela, já quase sexagenária, trabalhando de empregada doméstica durante o dia e, não poucas vezes, limpando escritórios nas fábricas de móveis à noite, para que não nos faltasse o necessário.

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Fui cedo para o seminário, o que, depois de um tempo, acabou me trazendo a Brusque. Quando deixei o seminário, fiquei no dilema entre voltar para lá e ajudar a cuidar dela e de meu pai ou dar prosseguimento aos meus projetos de vida, que incluíam a formação filosófica já iniciada.

Como na música que diz “que depois que cresce, o filho vira passarinho e quer voar”, eu, que já havia deixado o ninho tão cedo, sentia que o futuro, do modo como eu o concebia para mim, não incluía essa volta. Fiquei, e mesmo sabendo que ela era cuidada pelas minhas irmãs, sempre mantive, num canto escondido da alma, um sentimento de culpa por essa distância. Minha mãe faleceu em 2002, mas esse sentimento permaneceu, como uma dúvida sobre o que eu poderia ou não ter feito a mais em benefício dela.

Mas já me libertei dessa neura! Afinal, o que minha mãe poderia querer de mim senão o que fosse melhor para mim? Que felicidade ela teria com minha presença se sentisse que, por causa disso, eu estivesse comprometendo meus próprios projetos? É claro que se ela dependesse dos meus cuidados tudo seria diferente, mas esse não era o caso. Tenho certeza de que minha mãe estava e continua estando muito satisfeita comigo, porque minha realização e minha felicidade são o maior presente e a maior homenagem que posso lhe prestar.

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Acredito que a melhor maneira de agradecer a vida que recebemos de nossos pais é fazer com que ela valha a pena. Pode ser que haja dissensões pontuais entre o desejo dos pais sobre o futuro dos filhos e o que estes realmente pretendem para si. Mas, no fluxo do tempo, a única coisa que interessa é que o filho se realize, que seja feliz, que sinta que a vida recebida é realmente uma dádiva que não pode ser desperdiçada, mas que deve ser aprimorada com amor, honestidade e sabedoria. Dessa forma, independente de quanto dinheiro se ganha ou de qualquer outra conquista, os pais saberão que todo sacrifício terá valido a pena.

Se você quer realmente acertar no presente da sua mãe, então valorize sua vida, fique longe das drogas, dos vícios, da malandragem e de qualquer coisa que suprima sua liberdade ou sua dignidade. Faça sua vida brilhar, e o coração da sua mãe fulgurará como um diamante raro.