O que os olhos não veem
E se de repente, todos deixassem de enxergar? Essa foi a questão que inspirou o escritor José Saramago em “Ensaio sobre a cegueira”, de 1995. Na história, uma doença não diagnosticável se alastra rapidamente e dá margem a discursos filosóficos e sociológicos acerca do tema, valendo-se da metáfora da cegueira que, segundo o autor, é branca.
Uma profusão de brancos surge até que tudo vira um mar de leite. Esta é uma das referências imagéticas que o Duo A Corda em Si propõe no show musical LivreMente, que será apresentado em Brusque nesta sexta-feira. Formado pela cantora Fernanda Rosa e pelo contrabaixista Mateus Costa, o espetáculo coloca a plateia em uma situação experimental: na completa escuridão.
Os dois são deficientes visuais e se conheceram ao dividir preocupações e soluções ao longo da graduação em Música, na Udesc, há 10 anos. Hoje, dividem com o público um pouco do seu cotidiano e propõem outras formas de ver o mundo.
O show já esteve nas cidades de Canoinhas, Joinville, Itajaí e Blumenau. Depois de Brusque, segue para mais quatro cidades, por meio de projeto aprovado no último edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, da Fundação Catarinense de Cultura.
Antes de entrar a plateia recebe orientações sobre as marcações táteis no chão, o uso de vendas e auxílio de guias para, assim, usufruir da proposta do duo. Além das canções apresentadas, o espetáculo é composto por audiodescrição, feita ao vivo.
Depois de uma década de estrada, com circulações estaduais, apresentações fora do país e dois CDs gravados, o A Corda em Si proporciona uma experiência sensorial única com este show, capaz de fazer a plateia refletir, pensar sobre acessibilidade e exercitar a empatia.
O show LivreMente ocorrerá no auditório do Instituto Federal Catarinense, no bairro Jardim Maluche, às 19 horas, com entrada franca. A produção fará a distribuição dos ingressos uma hora antes do início.
Lieza Neves – atriz, escritora e produtora cultural