O que pensam jornalistas brusquenses e manauaras sobre a final da Série D
O Município convidou quatro profissionais para opinarem sobre os dois jogos entre Marreco e Gavião do Norte
O Município reuniu jornalistas do Norte e do Sul do país: de Brusque e de Manaus, as cidades que protagonizam a final da Série D do Campeonato Brasileiro, para compartilharem suas opiniões sobre os jogos decisivos.
Os jornalistas Alain Rezini e Jaison Lorenceti comentam a partida disputada no domingo, 11, e trazem perspectivas sobre o jogo final, na Arena da Amazônia, no dia 18. Do Norte do país, opinam o jornalista Marcos Dantas, ex-repórter do G1 e do GloboEsporte.com, e Leanderson Lima, editor-executivo do jornal Manaus Hoje e vencedor do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2015.
Equilíbrio raro
Alain Rezini
Jornalista, setorista do Brusque pela Rádio Cidade de 2013 a 2018
Arrisco-me a dizer que esta é a final da Série D mais equilibrada dos últimos anos. Desde que o Brusque retornou, em 2016, nenhuma final da quarta divisão nacional foi tão equilibrada quanto o primeiro jogo entre Brusque e Manaus. Esta igualdade só foi possível porque as duas equipes querem, e muito, o título. As finais de 2016, 2017 e 2018 foram marcadas por resultados elásticos, frutos de equipes que já estavam cansadas de jogar a competição.
Apesar do jogo ter tido pitadas de inconsistência das duas equipes, o que é normal por se tratar de uma decisão nacional, pudemos notar uma partida de times corajosos, que abrem mão daquele estereótipo de finais chatas, com times que têm como única preocupação não tomar gols e não estar em desvantagem.
Acredito em um jogo bastante aberto na Arena da Amazônia, assim como no Augusto Bauer, mas com uma diferença importante. Na minha opinião, o Brusque perde muito sem Zé Mateus.
Desde que chegou ao time, para a disputa da Série D de 2018, ele vem crescendo nos momentos decisivos. Fez jogos muito consistentes durante a campanha do tetra na Copa Santa Catarina e participou de gols decisivos desde então, como as cobranças que fecharam a conquista de 2018 e a classificação para a final da Série D contra o Ituano, além do segundo gol contra o Manaus, no último domingo.
Por outro lado, o Brusque tem a volta de um jogador tão decisivo quanto Zé Mateus. Fio tem se provado muito importante nessa reta final. Acredito que com ele o time possa ganhar em qualidade para o início do jogo, e também guardar uma opção para o segundo tempo, que é Thiago Henrique.
Enfim, concordo com o que Waguinho disse ao final da primeira partida. Não se pode baixar a cabeça por conta de um resultado que foi diferente do que se esperava. Ainda mais quando nos lembramos da Copa SC de 2018, com os dois jogos empatados e o título decidido nos pênaltis. A final está tão aberta justamente pelo fator que apontei no começo do texto, pois diferente dos outros anos, os dois times querem o título nacional, seja pelo ineditismo ou por uma conquista que não vem para o estado de origem há algum tempo.
Épico, como tem que ser
Jaison Lorenceti
Radialista e repórter da Rádio Diplomata FM
O Brusque pode ser campeão sim, na Arena da Amazônia. Não é só questão de acreditar – como diz o slogan. Nem a vantagem no 2 a 0 que o Brusque cravejou no segundo tempo, antes do empate solapado que Manaus conseguiu sob muita catimba, seria certeza de título.
O adversário mostrou-se qualificado, mas tem suas falhas. Na decisão, as condições podem favorecer o Brusque, pois o Manaus perde por suspensão o perigoso Rossini, autor dos dois gols no Augusto Bauer e o grandalhão Hamilton, vice-artilheiro da competição.
Em contrapartida, o Brusque jogará sem Zé Mateus e Romarinho, perdendo força de meio-campo. O retorno de Fio dá ao treinador a possibilidade de reconquistar a conexão com o ataque. Fatores surpresas, é nisso que Waguinho apostará. O quebra-cabeça pode ser dos mais variados, todavia, o título vai girar em torno do teste final – para ambas as equipes, diga-se. Faltam só 90 minutos de jogo para terminar a saga do Brusque nesta épica Série D, que marcará gerações.
Ao longo da competição, o time brusquense passou por todas as provas, não se mostrou perfeito, porém, soube lutar em conjunto – abraçou a cidade e o torcedor retribuiu publicamente. Foram numerosas demonstrações de paixão pelo clube.
A chegada à Série C teve a proporção de um passo lunar na história do Brusque – repito o que disse; foi um passo que exigirá grandezas futuras – desde um novo estádio até o profissionalismo e o poder financeiro que a atmosfera do futebol exige atualmente. Sobre o título da Série D, caso a taça fique em Manaus, não será pormenorizada a campanha do Bruscão.
Quis o destino que a decisão fosse numa arena de Copa do Mundo.
Se o Brusque sonha em ser um gigante, é assim que precisa ser o teste, para mostrar o quanto é capaz de superar a si próprio e mostrar que não chegou a final só vencendo em casa. Jogar diante de 40 mil pessoas e atuar com honra neste capítulo derradeiro – que seja assim. Da arquibancada soará um grito longínquo da campanha “eu acredito”, dos torcedores presentes na Arena. Aqui do Vale a corrente positiva vai direto pelo Itajaí-Mirim ao rio Amazonas. Que os jogadores em campo possam ouvir o brado de “eu não desisto”.
Gavião sem armas
Leanderson Lima
Editor-executivo do jornal Manaus Hoje e comentarista esportivo da TV A Crítica
No quesito futebol, os times do Manaus e do Brusque se equiparam e isto ficou muito nítido no jogo de ida, pela final da Série D do Campeonato Brasileiro. Inclusive o placar da partida 2 a 2 nos mostra isso.
São equipes que chegaram à final e não foi por um “acidente de percurso”. No jogo do acesso, o Gavião do Norte enfrentou uma grande equipe, o Caxias (RS), e fez o melhor jogo de sua história até aqui. A semifinal, contra o Jacuipense (BA), foi um pouco mais tranquila. Já o Brusque derrubou um gigante na semifinal, o Ituano (SP), e garantiu sua classificação para a final de forma épica.
Então são duas equipes que mereceram a final. Que fizeram por onde.
O grande trunfo do Brusque, nesta altura do campeonato, são os desfalques do Manaus, que não terá o atacante Rossini e nem o meia Hamilton – ambos suspensos pelo terceiro cartão amarelo.
Hamilton é aquele tipo de jogador que se assemelha a Romário, não pelo futebol, evidentemente, muito menos pela estatura – já que ele é um “gigante”. Mas ele tem aquele “jeito Romário de ser”, de um jogador que pode entrar em campo e ficar 99% do tempo inoperante e, de repente, de uma hora para outra, ele faz uma jogada que é capaz de acabar com a partida. Por isso fará falta ao Gavião.
Já o atacante Rossini vem em sua melhor fase desde que chegou ao tricampeão amazonense. Foi dele dois dos gols que ajudaram o time a conquistar o acesso diante do Caxias. Ele também deixou suas marcas no empate contra o Brusque.
O Manaus vai precisar buscar uma força extra no coletivo para superar essas baixas. O técnico Wellington Fajardo tem um bom grupo nas mãos, que pode dar conta do recado. Só que vai ter que ser na base da superação. Da raça.
Prevejo um jogo muito difícil para as duas equipes. Eu diria até que os torcedores de Manaus e Brusque devem esperar uma decisão épica, que vai entrar para a história do Brasileiro da Série D. Não tenho dúvidas disso.
Quem viver, verá, e quem tiver coração suficientemente forte para resistir, vai contar a história deste jogo por muitos e muitos anos.
Papéis invertidos
Marcos Dantas
Jornalista, ex-repórter do G1 e do GloboEsporte.com
O Manaus conseguiu o que parecia inimaginável neste confronto, que era inverter o favoritismo diante do Brusque. O empate buscado fora de casa, após o Gavião estar perdendo por 2 a 0, fez com que a equipe amazonense saísse do duelo muito maior do que entrou. Estando neste momento, mais perto da taça.
Contando com a força da torcida, que mais uma vez deve lotar a Arena da Amazônia, o Manaus jogará com a confiança num trabalho de três anos, que se especializou em desafiar favoritos, e mais que desafiá-los, vencê-los.
Mesmo neste momento, quando os papéis se invertem provisoriamente numa análise meramente subjetiva do confronto como um todo, o papel do Manaus ainda é surpreender, e é isto que mantém o ânimo em busca do título: a necessidade de mostrar o futebol amazonense para o restante do Brasil.
Ao Brusque, que promete ser uma das novas sensações do futebol brasileiro, cabe usar a experiência de seus jogadores e a qualidade do futebol jogado até aqui para inverter outra vez o cenário, fazendo com que o caldeirão transborde de pressão e jogue contra o time da casa.
É preciso estar preparado para aproveitar um possível novo apagão dos mandantes, assim como aconteceu no jogo de ida, usando uma paciência que pareceu em falta quando o quadricolor liderou o placar em Santa Catarina.
O drama será um fator primordial nesta equação. E que com a Arena enfim lotada para uma final de Campeonato Brasileiro, tenhamos uma grande tarde de futebol em Manaus. Que vença o melhor.