O fato da Covid-19 ser uma doença nova e, com isso, trazer todos os desafios de se encontrar ou desenvolver um tratamento capaz de curá-la, é apenas um dos motivos que explicam a complexidade da pandemia que vivemos.
A alta capacidade de contágio do novo coronavírus (Sars-CoV-2) é outra característica que o torna ainda mais perigoso.
Soma-se a isso a possibilidade de pessoas estarem infectadas, sem qualquer sintoma aparente, mas podem contaminar outros indivíduos: os assintomáticos.
Eles são um agravante nesse cenário, pois não contam com as evidências que poderiam alertá-los para a necessidade de se tomar precauções.
Esse cenário torna qualquer indivíduo perigoso ao convívio social e aumenta a gravidade desse momento vivido pela humanidade.
Considerando as dificuldades de se realizar testes em massa e a necessidade de se repetir os exames de tempos em tempos em função da instabilidade dos resultados, este perfil de paciente é realmente uma faceta cruel da Covid-19.
De acordo com a campanha “Se Liga no Corona”, da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, cada pessoa infectada pode transmitir o vírus para até outras três. E, ao fim de dez passos do contágio, chega-se a mais de 10 mil pessoas infectadas.
Com a escala de contaminação geométrica, o resultado é o colapso do sistema de saúde. Afinal, a proporção de casos graves, que demandam internação, se amplia paralelamente à curva de contágio.
Os relatos dos profissionais que estão na linha de frente dos hospitais, como os da Rede D’Or São Luiz e do sistema público, são claros quanto à dramaticidade da situação.
E, nesse momento, muitos cidadãos são hospedeiros do novo coronavírus e, sem saber, estão contaminando pessoas do seu convívio.
Assintomáticos como perigo exponencial
Entre 2002 e 2003, a China passou por um surto de Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pelo coronavírus Sars-CoV-1. No entanto, a sua transmissão só se dava depois de afetar o pulmão. Isso ajudou a controlar a doença.
O grande problema do paciente assintomático ser vetor de transmissão é que ele fica relaxado em não adotar as medidas de segurança contra o vírus, por não perceber que pode estar infectado. Isso tende a acelerar o processo de contaminação comunitária.
Há estudos que apontam que até 60% das transmissões do novo coronavírus ocorrem por meio de pessoas sem sintomas. E estima-se que 80% dos casos, ou seja, a grande maioria, serão de assintomáticos – pessoas que, ainda que testarem positivo, não ficarão doentes.
Apesar de, naturalmente, excretarem uma quantidade menor de vírus por não estarem acometidos por tosse ou espirro, a carga viral de uma pessoa assintomática pode ser similar à de uma sintomática. Ou seja, ambos os casos têm o mesmo potencial de transmissão.
A Covid-19 consegue se replicar na mucosa nasal e pode estar presente na saliva e nas secreções do infectado.
Ao expelir gotículas com o vírus em uma simples conversa ou crise alérgica, por exemplo, um assintomático tem capacidade de contaminar pessoas, objetos e superfícies.
Cuidados essenciais para todos
As evidências acerca dos impactos dos assintomáticos no aumento do contágio da Covid-19, identificadas com a evolução das pesquisas, mudaram as orientações para a prevenção do vírus.
As indicações quanto ao uso de máscaras foram revisadas, passando a ser indicadas a todos e não somente para as pessoas com sintomas ou do grupo de risco e profissionais da saúde, como era anteriormente.
A higienização constante das mãos, com água e sabão ou álcool gel, também segue reforçada. Assim como a orientação para evitar tocar os olhos, a boca e o rosto.
Da mesma maneira, o isolamento social foi reforçado como a medida mais eficaz para conter a transmissão.
Em muitos lugares do mundo e do Brasil, governos adotaram a sua opção mais rígida, o lockdown. Neste contexto, as pessoas estão proibidas de saírem de casa, a não ser com justificativas adequadas ao contexto, e sob vigilância dos serviços de segurança pública.