São poucos os que conhecem o rio Itajaí-Mirim tão bem quanto José Carlos Gonzaga, 26 anos. Apesar da pouca idade, são muitas as histórias que ele tem para contar às margens do rio que abastece Brusque.
Desde os 16 anos, ele passa a maior parte de seu tempo livre pescando. Tudo começou na brincadeira, como uma forma de passar o tempo com os amigos. Ele, entretanto, tomou gosto, principalmente depois que viu um pescador pegar uma carpa de 8 kg.
“Estava com meus amigos pescando perto da ponte do Trabalhador. E tinha um bombeiro que sempre pescava lá. Naquele dia ele pegou essa carpa de 8 kg, nós ficamos muito impressionados e ele nos deu o peixe”, conta.
A partir desse momento, José Carlos começou a se dedicar ainda mais à pesca. Também teve uma ajudinha dos amigos: foi desafiado a pescar peixes grandes no Itajaí-Mirim.
Desde então, a maioria dos fins de semana são dedicados a isso. Já foram quatro carpas, a maior com 15 kg. “A minha vontade é sempre pescar os peixes grandes. Nem sempre consigo, é difícil, tem que ter muita paciência. Quando os grandes não vêm, pego jundiá, bagre”, afirma.
José Carlos já pescou em vários pontos do rio. Atualmente, seu ponto preferido é nas proximidades da ponte do Trabalhador, no bairro Santa Rita. Ele é a prova viva que, apesar da poluição, a natureza ainda impera. “Tem muita gente que acha que nosso rio não tem peixe por causa da poluição. Mas tem peixe, sim. Acho que se não fosse isso [poluição] até poderia ter mais”.
A gente fica triste, o rio é um bem de todos e deveria ser melhor aproveitado. Infelizmente, temos que conviver com isso
A poluição, inclusive, é uma presença constante em suas pescarias. Ele conta que já flagrou muito lixo nas margens e até dentro do rio. Além disso, já visualizou muitos dos descartes realizados pelas empresas de Brusque. “Já vi muitas situações, é bastante comum. A gente fica triste, o rio é um bem de todos e deveria ser melhor aproveitado. Infelizmente, temos que conviver com isso”.
Mesmo ciente dos despejos de produtos químicos e esgoto doméstico, o pescador não se importa de consumir os peixes que consegue na pescaria. “Como todos os peixes que pesco. Quando pego os grandes, convido os amigos para saborear também. O gosto é normal, não tenho medo de contaminação”.
Mini pescador
Em algumas pescarias, José Carlos tem a companhia do filho Cauã, de 3 anos. O menino, bastante esperto, já está acostumado com a rotina às margens do rio e adora pescar com o pai. Uma das suas partes favoritas da pescaria é poder manusear a vara, sempre sob a supervisão atenta do pai.
Já José Carlos se orgulha em ver o filho seguindo os seus passos. Ele é o único da família que pesca e acredita que Cauã manterá o hobby. “Não tem nada melhor do que ficar aqui perto do rio. Sempre que eu posso passo o dia aqui. Gostaria muito que as pessoas respeitassem mais o meio ambiente. O que temos aqui é uma riqueza”.
Especialistas desaconselham consumo de peixes do Itajaí-Mirim
Embora a pescaria seja uma atividade comum em Brusque, o consumo de peixes do rio Itajaí-Mirim é desaconselhável por especialistas, já que os pescados podem ser contaminados devido ao esgoto doméstico e ao frequente descarte de produtos químicos.
O professor e membro do Grupo de Estudos Pesqueiros da Univali, Paulo Ricardo Schwingel, diz que há tendência de contaminação, já que as empresas descartam metais pesados, como mercúrio, chumbo e arsênio. Ele observa que o ideal seria realizar um estudo aprofundado no rio para saber as condições dos peixes.
Porém, para quem não abre mão de consumir o peixe do Itajaí-Mirim, o especialista em Produção e Propagação de Peixes e professor aposentado do curso de Biologia da Furb, Pedro Wilson Bertelli, enumera alguns cuidados a serem tomados na hora de preparar o pescado e que podem contribuir para minimizar os riscos.
Se o animal está contaminado, acaba passando para o restante do corpo. O correto seria utilizar facas e luvas diferentes para cada parte cortada, sem deixar que elas entrem em contato
De acordo com ele, as partes do peixe mais contaminadas são os intestinos, as vísceras e os músculos. No caso dos dois primeiros, a solução seria não cortá-los, assim as substâncias não atingiriam o restante do animal. Já no caso dos músculos, não há o que fazer, pois são partes da carne consumida.
“Quando abate-se um frango há todo um processo de higienização e as pessoas nunca cortam o intestino, já no caso do peixe, elas logo cortam o intestino. Se o animal está contaminado, acaba passando para o restante do corpo. O correto seria utilizar facas e luvas diferentes para cada parte cortada, sem deixar que elas entrem em contato”.
O professor também explica que fritar o peixe elimina alguns contaminantes biológicos. No entanto, a parte química não é eliminada. “Alguma coisa acumula no fígado, outra vai para o músculo. Nós consumimos o músculo, se tiver contaminado também vai acumular no organismo humano”. Por outro lado, Bertelli ressalta que nunca recebeu informação sobre morte de pessoas em função do consumo de peixes.
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