O cabelo embranquecido, os remansosos passos, as memórias que já não chegam à mente, estes e tantos outros pressupostos negativos do envelhecimento não devem ser motivos de apreensão, muito menos razões para se crer que a melhor idade se resume a um período de mágoas e distúrbios. Nossas preocupações, quando ainda jovens, não podem ser direcionadas somente aos empecilhos corpóreos que virão, mas também, à implacável atenuação dos sentimentos de empatia e altruísmo da humanidade. Vincular um corpo sadio com uma sociedade saudável é o que garante uma velhice repleta de felicidades e conquistas. Não é vantajoso adquirir na velhice boas condições físicas e mentais, quando, ao nosso redor, a sociedade é corroída pela indiferença e pelo egoísmo.
Mais importante do que planejar o futuro é conquistar no presente as iniciativas que darão fim aos males que assombram a sociedade. Não é preciso chegar à velhice para entender que a fome, a sede, as mortes derivadas das impulsivas guerras, os maus-tratos às mulheres, aos negros, aos idosos, aos homossexuais, são na verdade, resultados da indolência humana perante tais perversidades. Se for para envelhecer sem ter lutado por uma sociedade mais justa, então seria mais sensato abdicar ao direito de ver os ponteiros do relógio passar e morrer tentando construir um futuro melhor, não só em favor próprio, mas para todas as outras pequeninas crianças que ainda nascerão neste mundo.
Não há maiores motivos para nadar contra a maré do tempo, e tentar impedir a chegada dos sinais da idade, de fato, faz bem envelhecer, mas sabendo que, com o passar dos anos, as experiências adquiridas nos proporcionaram a construção de um bairro mais consciente, de uma cidade mais sustentável, de um país menos corrupto e de um mundo mais justo. É em uma sociedade como esta que aprenderemos a saborear cada novo momento com muito mais ardor no olhar, no sentir e no palpar.
A idade avançada não é sinônimo de ineficiência. O rosto pode ressaltar a marca do tempo através de inúmeras rugas, o corpo pode não ser tão atlético quanto antes, mas os longos anos que se passaram dão à mente a maior das conquistas: a sabedoria. É preciso mudar o falho pensamento de que a velhice é uma patologia, quando, na realidade, é o prolongamento das oportunidades de fazer do nosso mundo um lugar mais prospero. Assim, com passar do tempo, conquistaremos uma evolução em nosso modo de pensar e agir perante as diferenças do próximo.

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Pedro Rabelo de Araújo Neto – 16 anos – terceirão

 

 

 

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ilustração: Fernanda Almeida