Conta a mitologia grega que um touro furioso estava tocando o terror em Creta, e ninguém podia com o bicho. Hércules foi designado para domá-lo, o que foi o sétimo dos seus famosos “doze trabalhos”. Hércules não poderia matar o animal, mas montar nele e mantê-lo sob controle. Num duelo renhido, o herói conseguiu domá-lo. A interpretação mais corrente do mito indica o touro como os instintos que habitam os seres humanos, e que precisam ser postos sob o controle da razão.

Nos últimos artigos, tenho insistido no tema da banalização da sexualidade, pregada pela revolução cultural do século XX, encabeçada por filósofos como Antonio Gramsci, Georg Lukács e Herbert Marcuse. Reinterpretando a cultura a partir de Marx e Freud, esses autores denunciaram a “repressão” sexual da sociedade cristã tradicional, e deram origem à sociedade pansexualizada de hoje. Seus discípulos se disseminaram nas universidades, suas ideias invadiram a televisão, o cinema, o mundo da música, as escolas. O Ministério da Cultura estava dominado por essa trupe nos governos Lula e Dilma, e não à toa é de lá que vêm os mais ruidosos gritos de “golpe” e “Fora Temer”, uma vez que perderam o polpudo cocho de verbas públicas. A influência desses filósofos está na cabeça da “galera”, até mesmo de quem nunca ouviu falar dos seus nomes. Mas qual era o seu objetivo? De modo algum era criar uma sociedade de pessoas melhores e mais felizes. Eles faziam parte da “Internacional Socialista”, que queria disseminar o comunismo no mundo. Sua grande sacada foi perceber que era preciso destruir primeiro a sociedade ocidental e suas bases culturais (a religião cristã, a filosofia grega, o direito romano). O objetivo era criar o caos, para que, numa sociedade fragmentada e sem rumo, eles pudessem estabelecer seu projeto de poder.

Hércules e sua luta com o touro vêm bem a calhar nessa reflexão. A cultura contemporânea, avacalhada por essa revolução cultural, pode ser comparada à ilha de Creta antes da chegada de Hércules. O touro está solto e fazendo grandes estragos. Esse papo de crianças e jovens livres para cederem a qualquer impulso ou terem satisfeitos quaisquer caprichos está produzindo uma geração de gente fraca, incapaz de qualquer esforço ou sacrifício em nome de valores superiores à sua própria sensibilidade desajustada. Ser dominado pelos impulsos é tão ridículo quanto um touro montado nas costas de um peão, num rodeio. É no enfrentamento e no esforço que se criam os fortes, os heróis. O touro deve ser enfrentado com base em regras, valores, mandamentos, que tenham em vista o ser humano integral. Não somos meros touros selvagens, mas um conjunto que inclui uma alma racional e um espírito que aspira à vida eterna. Educar-se é saber colocar esse conjunto em plena harmonia. Nada é mais urgente do que reencontrar o caminho dessa Educação.

Não se trata de simples obediência a regras externas, pois a mera repressão não educa. O touro não pode morrer nem ser anulado. Deve continuar forte, pujante, exuberante, mas sob o controle de quem tem o espírito e o cérebro ainda mais fortes e pujantes. E não precisamos descobrir a pólvora. Basta desempoeirar a lógica, o bom senso, o Evangelho e o Catecismo, que relegamos ao esquecimento, em nome dessa sabedoria de botequim que tanto nos tem prejudicado.