X
X

Buscar

Observador do tempo: conheça a história de Ciro Groh, blogueiro do jornal O Município há quase dez anos

Ciro Groh mantém um arquivo de medições climáticas de 1987 a 2012, todas registradas manualmente em cadernos

Apaixonado por meteorologia desde a infância, Ciro Groh construiu um acervo pessoal ao longo de décadas. Entre 1987 e 2012, registrou manualmente, em seus cadernos, medições diárias do tempo. Em 2016, ingressou como blogueiro no jornal O Município, onde conquistou o público com seus dados e análises, sob o título de observador do tempo.

Natural de Brusque, Ciro acompanhava, desde pequeno, o interesse do pai pelos fenômenos climáticos. Uma das memórias que guarda é a do gesto que o pai fazia com a mão, apontando para o céu e alertando: “Hoje ela vem feia”, referindo-se à aproximação de uma tempestade.

Registro nos cadernos

O interesse pelo tema cresceu, e no dia 1º de janeiro de 1984, aos 16 anos, Ciro começou a registrar as condições do tempo em cadernos. Um dos registros mais marcantes é o da enchente de 8 de agosto de 1984 — a maior com medição oficial —, quando o rio Itajaí-Mirim atingiu 10,30 metros. Porém, em novembro daquele ano, desanimado, ele interrompeu as anotações e se desfez do caderno.

“Eu pensei: ‘Poxa, será que alguém no planeta faz isso?’. Achei que era uma loucura e resolvi parar. Mas o tempo passou, 85, 86, e aquela vontade continuava. Então, no dia 1º de janeiro de 1987, voltei a registrar o tempo em cadernos e, dessa vez, não parei mais”, relembra.

Ciro Groh com um de seus cadernos de medições. Na página estão marcados as informações de dezembro de 1993. Foto: João Henrique Krieger/O Município

Durante a entrevista, Ciro comentou que pretende digitalizar seu acervo, reconhecendo o valor histórico de suas informações. Além disso, revela que cada página traz a lembrança de seu pai, sua principal inspiração. “Eu acompanhei os passos dele. Foi a minha inspiração”, se emociona ao falar.

Enquanto mantinha seu hobby, Ciro seguiu a carreira de tintureiro, atuando em empresas como a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux e a RenauxView, até se aposentar da profissão em 2019.

Reconhecimento e a primeira capa de jornal

Em 2012, Ciro trocou o papel e o lápis pela tecnologia, criando uma conta no Twitter (atual X) para divulgar suas observações. O perfil logo ganhou notoriedade, e muitas pessoas passaram a consultá-lo diariamente.

O reconhecimento popular chamou a atenção do jornal O Município, que o entrevistou para uma matéria publicada na capa de 25 de julho de 2013. “A entrevista foi logo após a nevasca que atingiu o Vale do Itajaí. Ainda não tinha meu blog no jornal. Foi um grande orgulho ver meu trabalho estampado na capa”, recorda.

“Na semana em que os termômetros registraram frio intenso em Santa Catarina, um morador do Rio Branco viu o hobby que cultivava desde 1987 ser de extrema utilidade para órgãos como a Defesa Civil de Brusque. Sem estação meteorológica oficial na cidade, as informações sobre as temperaturas mínimas e máximas registradas pelo tintureiro Ciro Groh têm sido utilizadas como referência”, dizia a capa.

Capa da edição do dia 25 de julho de 2013 com a reportagem sobre Ciro Groh. Foto: João Henrique Krieger/O Município
Reportagem sobre Ciro Groh publicada no dia 25 de julho de 2013. Foto: João Henrique Krieger/O Município

Em 2015, Ciro ganhou sua primeira estação meteorológica profissional, um presente do professor universitário Horácio Melo, de Palhoça, que acompanhava seu trabalho pelas redes sociais. A estação permitiu que ele monitorasse os dados em tempo real, não apenas de casa, mas de qualquer lugar. A partir daí, Ciro investiu em novos equipamentos, chegando hoje a 17 estações.

“Paralelamente às estações, sigo fotografando paisagens e fenômenos climáticos, agregando essas informações às minhas publicações. Também acompanho dados das cidades vizinhas, enriquecendo ainda mais as matérias”, explica.

O blog do Ciro Groh

Em 2016, Ciro foi novamente procurado pelo jornal O Município — desta vez, para integrar a equipe como blogueiro. O convite partiu do então editor-chefe, Andrei Paloschi. Sem experiência em jornalismo, Ciro aceitou o desafio.

“Digamos que o Andrei me chamou e disse: ‘Ciro, aqui estão o teclado e o monitor, agora escreva’. Eu me aventurei nesse novo mundo. Claro que, olhando minhas matérias de dez anos atrás, vejo muitos erros, mas, com o apoio da equipe do jornal, fui me aperfeiçoando”, conta.

A primeira publicação no blog saiu no dia 29 de janeiro de 2016, intitulada Pouca chuva refletida no nível do rio Itajaí-Mirim. Em tom breve e objetivo, o texto informava:

“2ª quinzena de janeiro/2016 com pouca chuva na região de Brusque-SC, refletida no nível do Rio Itajaí-Mirim, mostrado nesta imagem capturada por mim no entardecer do dia 28”.

Ciro Groh no seu ambiente de trabalho em casa. Foto: João Henrique Krieger/O Município

No início, Ciro publicava previsões diárias e, eventualmente, uma segunda matéria sobre assuntos variados, sob o pseudônimo observador do tempo. Hoje, mantém uma rotina de duas publicações diárias: uma previsão do tempo e uma reportagem sobre temas como paisagens, pontos históricos e histórias locais.

O alcance do blog aumentou sua visibilidade em Brusque e região. Nas ruas, Ciro passou a ser reconhecido e parabenizado pelos leitores. Recebe também sugestões de pautas, o que enriquece ainda mais seu trabalho.

“A minha vida deu uma guinada positiva. As pessoas interagem, comentam minhas matérias. Já encontrei uma família do Ceará, no Mercado de Pulgas, que conheceu Brusque por meio de uma reportagem minha. Eles acabaram se mudando para cá. É muito recompensador. Quando desanimo, essas histórias renovam minha vontade de continuar”, afirma.


Assista agora mesmo!

Brusquense, Ivete Appel foi escolhida Brotinho do Mês do Carlinhos Bar nos anos 60: