¡Olé!
Mas Clarice não dançava, então posso redigir algo do ponto de vista da cena (o que alguém já deve ter feito lindamente, e nem procurei, pra não desistir de vez).
Mais do que dança, flamenco é arte da escuta, de apurar os ouvidos para as batidas de cada palo (assim se chamam os ritmos) e deixar o corpo ir. Decodificar esses símbolos sonoros e dançar com eles, e não sobre eles, é algo que ainda me deixa tonta (eu tão acostumadinha a ensaiar, marcar, decorar).
Mais do que dança, flamenco é História, nos conta sobre antepassados ciganos que migraram de país a país tomando um instrumento aqui, um passo ali, um trejeito acolá. Até chegarem e se fortalecerem no sul da Espanha, onde ocorrem diversos eventos populares como a “Feria de Abril” em que todos desfilam exuberantes trajes, mulheres passam com seus abanicos, há muita música, dança, comida e bebida.
Mais do que dança, flamenco é atitude. Cabeça erguida, passos determinados, expressão, força e muita beleza. Quem dança não pode ter dúvidas, não pode intimidar-se, achar que não está bom o suficiente. O flamenco resgata valores femininos tão importantes, que chega a ser terapêutico. Ao sapatear expulsamos pequenos demônios cotidianos, inseguranças e rótulos sociais.
Mais do que tudo, flamenco é democrático. São mulheres de diferentes formações, idades, corpos. E todo mundo pode. Todo mundo encontra seu jeito de dançar, de se relacionar com a arte, com a História, com a música e consigo mesma.
Quem quiser assistir minha turma, nos apresentamos em Florianópolis dia 1º de dezembro, às 20:30h, no TAC.
Lieza Neves – produtora cultural e escritora