Onde está o emprego em Brusque: veja os setores que mais contrataram no município

Até julho, cidade registrou o maior número de contratações dos últimos 10 anos

Onde está o emprego em Brusque: veja os setores que mais contrataram no município

Até julho, cidade registrou o maior número de contratações dos últimos 10 anos

Até o mês de julho, a indústria foi o setor que mais gerou emprego em Brusque em 2021. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram quase 2 mil empregos formais gerados no setor nos últimos sete meses.

Logo atrás está o setor de serviços, com quase 1,5 mil vagas preenchidas até julho. O comércio e a construção civil completam o ranking da geração de empregos por setor em Brusque, mas em volume bem menor do que a indústria e serviços. Até julho, o comércio preencheu pouco mais de 470 vagas e a construção civil realizou cerca de 120 contratações.

Com isso, o saldo do município, até julho, é de 4.025 contratações. Este número, inclusive, é o melhor da última década para o período, de acordo com o Caged.

Levando em consideração até o mês de julho, de 2011 a 2020, o maior saldo de empregos da cidade foi em 2019, quando nos sete primeiros meses daquele ano, o município teve 2.760 admissões.

Sine de Brusque finaliza o mês de setembro com mais de 900 vagas disponíveis | Foto: Bárbara Sales/O Município

O número de contratações realizadas em Brusque até julho, neste ano, é 45,8% maior do que o registrado no mesmo período de 2019 – antes da pandemia da Covid-19. 

Se comparado com 2020 – ano de início da Covid-19 – o percentual é ainda maior. O número de contratações realizadas em todo o ano passado – de janeiro a dezembro – ficou em 1.029, ou seja, o número de admissões só nos últimos sete meses, já é 291% maior do que o de 2020 inteiro.

Os números evidenciam a retomada da economia após o período turbulento da pandemia. Muitas empresas, que realizaram demissões no ano passado devido à crise gerada pela Covid-19, estão recontratando e, a maioria, ainda ampliando seu quadro de colaboradores.

Com base nos números, pode-se dizer que a cidade vive pleno emprego. O Sistema Nacional do Emprego (Sine) de Brusque, por exemplo, é destaque no estado, com vagas abertas em todos os setores. O órgão já chegou a ter quase 1,3 mil vagas de emprego disponíveis neste ano. O mês de setembro finaliza com mais de 900 vagas.

Momento positivo para a indústria

A presidente da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), Rita Cássia Conti, afirma que o avanço da vacinação contra a Covid-19 em todo o país está favorecendo a retomada da economia, principalmente em Brusque, que é um pólo têxtil e fornecedor importante de grandes cidades do país.

“Tivemos um primeiro semestre muito positivo. Os grandes centros consumidores como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro abriram, o que impacta diretamente nas nossas empresas”, afirma.

Tivemos uma onda muito importante de frio e isso favoreceu muito a economia

A presidente da Acibr destaca ainda outro ponto importante que pode ter contribuído para os bons números, principalmente da indústria têxtil: o frio. “Tivemos uma onda muito importante de frio e isso favoreceu muito a economia. O pequeno estoque que as lojas tinham esgotou e foi preciso repor o estoque, repor as coleções, foram obrigados a comprar e a indústria a produzir. Embora tenhamos 14 milhões de desempregados no país, vivemos em pleno emprego em Brusque”.

Indústria é o setor que mais gera emprego em Brusque | Foto: CNI/Divulgação

Rita aponta ainda os altos custos com frete marítimo a nível internacional, que tem obrigado as grandes redes a comprarem no mercado nacional, um fator importante para o aquecimento das indústrias. “Isso inviabiliza muito a compra e o que vai acontecer é o favorecimento da indústria nacional, refletindo na geração de empregos”.

Dados do Caged mostram que este é o melhor momento da indústria em Brusque, na questão de contratações, na última década. Comparando o período de janeiro a julho, o melhor mês para o setor foi em 2012, quando teve saldo de 1.199, ainda assim, bem abaixo do registrado neste ano, que fechou em quase 2 mil contratações.

Temos potencial para fechar o segundo semestre com números muito bons, mas também é preciso planejamento

Já o pior ano para o setor industrial de Brusque foi em 2020 – ano de início da pandemia – quando fechou com saldo negativo de 1.409 no período de janeiro a julho.

Rita comemora o bom momento do setor, principalmente o têxtil, mas pondera que o momento é de cautela e planejamento. “Temos potencial para fechar o segundo semestre com números muito bons, mas também é preciso planejamento. Tivemos muitos aumentos no preço da matéria-prima que tiveram que ser repassados ao consumidor. Com isso, pode ser que o mercado se retraia, mas acredito que Santa Catarina e Brusque devem se manter”, analisa.

Refém dos reajustes das matérias-primas

A construção civil também vive um bom momento em Brusque. De acordo com o Caged, de janeiro a julho deste ano, o setor realizou 119 contratações.

O número está abaixo do saldo do mesmo período do ano passado, quando o setor fechou os sete meses com 223 vagas preenchidas, em pleno auge da pandemia da Covid-19.

Sucessivos aumentos da matéria-prima preocupam o setor da construção civil | Foto: José Paulo Lacerda/CNI

Mesmo assim, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção e do Mobiliário de Brusque (Sinduscon), Fernando José de Oliveira, avalia como positivo, pelo menos por enquanto, já que a falta de matéria-prima e os aumentos considerados abusivos dos insumos, podem puxar o setor para baixo nos próximos meses e impactar na geração de empregos.

Sem os lançamentos, não tem possibilidade nenhuma de novas contratações

“Os preços do aço, do cobre, do pvc, continuam aumentando absurdamente. Vemos isso com preocupação porque pode ter reflexo no emprego. Algumas construtoras já seguraram lançamentos que estavam previstos para este ano porque estão esperando uma estabilidade”.

Oliveira destaca que o setor vive um período de insegurança. “Sem os lançamentos, não tem possibilidade nenhuma de novas contratações. O que vai acontecer é terminar as obras em andamento e se não melhorar, pode gerar um saldo negativo, um desemprego no setor”.

Comércio e serviços disparam

O comércio e, principalmente, os serviços também contribuíram para o número recorde de contratações no período em Brusque. Juntos, os dois setores correspondem a 47% dos empregos gerados na cidade até o mês de julho.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Brusque (CDL), Fabrício Zen, avalia que o fato de Brusque ter mantido o comércio aberto, sem grandes restrições, durante o ano passado, refletiu nos números de 2021.

“Poucas cidades mantiveram as portas do comércio abertas durante 2020. Claro que teve aquele momento inicial de fechamento, mas logo conseguimos reabrir e manter durante todo o ano. Eu acredito que isso contribuiu para essa pujança. A cidade não parou”, diz.

Poucas cidades mantiveram as portas do comércio abertas durante 2020. Eu acredito que isso contribuiu para essa pujança

Zen observa ainda que os empresários do comércio conseguiram se adaptar durante a pandemia o que garantiu a manutenção dos empregos e novas contratações.

“O empresário foi dinâmico, soube tomar decisões rápidas e refazer seu negócio, trabalhando de forma online, via delivery, o que teve reflexo positivo nestes números do emprego”.

O presidente do Sindilojas, Marcelo Gevaerd, comemora os bons números do comércio e serviços. “Estamos numa fase de crescimento. Estamos saindo da pandemia, com número significativo de pessoas vacinadas, e Brusque foi beneficiada por ter uma indústria forte e, automaticamente, um comércio e serviços também forte. É um elo de várias coisas”.

De acordo com ele, a tendência é que os bons números se mantenham na cidade durante o segundo semestre. “Acredito que os números vão se manter, pois estamos em plena recuperação. Tenho certeza que se continuar neste ritmo, teremos um fim de ano muito bom na questão dos empregos. O que pode atrapalhar é a falta de insumo”.

Sobra vaga, falta qualificação

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Brusque, Ademir José Jorge, afirma que o número de vagas de emprego abertas na cidade é um sinal de recuperação da economia, entretanto, a dificuldade que as empresas têm na hora de contratar é um fator para ficar atento.

“Percebemos que as empresas estão com dificuldade de preencher as vagas. Faltam profissionais qualificados no mercado. Temos que ter um olhar atento a isso. É preocupante quando há vagas, mas não são preenchidas”.

É preocupante quando a há vagas, mas não são preenchidas

O secretário destaca que Brusque atrai muitas pessoas de fora que vem em busca de oportunidades devido aos bons índices de segurança e qualidade de vida. Porém, os novos moradores estão chegando sem a qualificação necessária para preencherem as vagas disponíveis no mercado.

“O imigrante é muito bem-vindo, mas a falta de qualificação é um problema e afeta todos os setores: indústria, construção civil, serviços”.

A presidente da Acibr, Rita Cássia Conti, afirma que a falta de qualificação é um grande desafio para a indústria, principalmente a têxtil. “A qualificação é muito necessária. No têxtil tem muitas coisas específicas, tem que ter no mínimo segundo grau completo. Percebo pela minha empresa. A gente abre uma vaga de emprego, recebemos um número expressivo de candidatos, mas não conseguimos contratar”.

O mesmo acontece na construção civil. O presidente do Sinduscon, Fernando José de Oliveira, afirma que a entidade tem realizado cursos em parceria com o Sintricomb, mas nem sempre é possível fechar turma.

“O pessoal vem de fora, chega aqui sem qualificação alguma, sem o básico. Hoje, para ser servente precisa ter os cursos de NR, ter qualificação para começar, mas percebemos que as pessoas chegam despreparadas e não vão atrás. Temos muita dificuldade de preencher vagas nos cursos que abrimos, aí fica difícil de contratar”.

Hoje, para ser servente precisa ter os cursos de NR, ter qualificação para começar, mas percebemos que as pessoas chegam despreparadas e não vão atrás

O secretário de Desenvolvimento Econômico ressalta que a pasta tenta buscar uma solução para este problema. A ideia é que junto com as entidades representativas de cada setor, sejam realizados cursos que possam dar o mínimo de capacitação para que estas vagas sejam preenchidas.

Ele cita como exemplo a Associação das Micro e Pequenas Empresas (Ampebr), que realiza o curso gratuito de costureira.

“Havia um problema muito grande de falta de costureiras e aí a Ampebr percebendo isso, realiza o curso para capacitar as pessoas que chegam aqui na nossa cidade em busca de emprego e está dando muito certo. Queremos fazer algo semelhante em parceria com as outras entidades aqui na prefeitura”.

Encaminhamentos são realizados pelo Sine diariamente | Foto: Bárbara Sales/O Município

Estabilidade

Além da falta de qualificação, o diretor da Céu RH, Graziano Andrade, cita também a questão da estabilidade como essencial para a contratação.

“Uma das coisas que mais está pegando, além da qualificação, é que está faltando estabilidade profissional. Aqui na nossa cidade, a estabilidade é muito valorizada. É fundamental para empresas tradicionais da região que a pessoa tenha um histórico estável, o que também está difícil”.

Andrade afirma que hoje a dificuldade em preencher vagas é geral: tanto para funções operacionais quanto administrativas. “Desde setembro do ano passado percebemos um aumento muito grande nas vagas, mas muita dificuldade em preencher. As empresas têm duas alternativas: contratar e qualificar ou trazer profissionais qualificados de fora”.

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