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Operadora de caixa relata desafios de atuar em serviço essencial na pandemia de Covid-19

Tânia do Nascimento Bueno perdeu filha para o H1N1 em 2009 e redobra cuidados no trabalho

Tânia Aparecida do Nascimento Bueno chega ao trabalho às 5h40, para preparar a loja de conveniência e o caixa do Autoposto Santa Luzia e então atuar como operadora de caixa, depois de acordar às 4h30 e levar, de carro, a filha de 9 anos e o filho de 1 para a casa da mãe, na rua Primeiro de Maio. A rotina mudou com a pandemia do coronavírus, que fez com que o marido tivesse jornada e salário reduzidos, e portanto, mais tempo para cuidar dos pequenos. De qualquer forma, Tânia trabalha no posto de combustíveis normalmente, porque é em um serviço essencial.

Normalmente, diga-se, no contexto de pandemia. Tânia precisa deixar o álcool em gel nos devidos lugares, um frasco para clientes, outro para funcionários e já porta a máscara. A loja de conveniência precisa ser aprontada. Ela teve a sorte de contar com a ajuda do patrão para cuidar do filho recém-nascido e voltar à ativa sem problemas, e retribui com dedicação.

“A gente fica apreensivo, mas eu gosto muito do meu trabalho, da minha área. Todo mundo precisa deste serviço, e fico feliz em poder ajudar. Desde o começo estamos bem orientados com as normas. Tenho que cuidar do próximo e da gente. Meus filhos e meu marido estão praticamente de quarentena, mas eu não.”

Aos 34 anos, a trabalhadora sabe exatamente do perigo da Covid-19. Perdeu uma filha em uma outra pandemia, a de H1N1, a chamada Gripe A, em 2009. Ela relata que foi o primeiro caso de Brusque. Os cuidados, portanto, estão presentes na família a todo instante.

“Tem muita gente que não acredita, diz que a pandemia não existe, e eu respondo, existe sim. Eu também não acreditava muito no H1N1, e de repente estava na minha casa. Não temos que pagar pra ver, temos que nos cuidar. Temos que nos proteger.”

Saindo para trabalhar, o contato com o público é inevitável, mas ela relata que há um rodízio e que, atualmente, a maior parte das pessoas fica mesmo na parte de fora, abastecendo. “Se tem mais pessoas na parte de dentro a gente orienta, sobre distância, não entrar enquanto outros não saírem… Tem gente que respeita, tem gente que não. Mas o movimento tem aumentado.”

O expediente termina às 14h, quando Tânia pode buscar os filhos. A primeira tarefa ao chegar em casa e separar a roupa utilizada no trabalho e tomar banho, para diminuir os riscos o quanto pode. Os filhos sentem por não poder mais sair. A menina ainda tem aulas online e tem compromissos escolares. “Tem o pátio da casa, tem televisão, brinquedos, se dá um jeito para eles se ocuparem.”

Sair de casa, se não for para trabalhar, é para fazer compras imprescindíveis. Os filhos não vão junto. Ou vai Tânia, ou vai o marido. O transporte ao trabalho é uma tarefa a menos. A família mora em um casa alugada no mesmo local do posto.

A responsabilidade de trabalhar em um serviço essencial expõe Tânia a um risco quase inevitável. Mas além de ter a sorte de fazer o que gosta, seu emprego não é ameaçado da mesma forma que os empregos de outras milhões de pessoas. Ela relata que familiares de São João Batista trabalhavam em uma mesma empresa, que fechou com a crise.

“Trabalhando com o público, a gente tem ouvido estas histórias. Às vezes vem um cliente dizer que perdeu o emprego, ou contar que um conhecido perdeu. Todo dia tem uma história nova.”

A operadora de caixa trabalha no Autoposto Santa Luzia desde 2014 substituindo a irmã, que precisou sair para cuidar do filho doente. Ela já tem vasta experiência em sua função, atuando em supermercados e cinemas. Mas afirma que há uma mistura: gostar de fazer o que faz, mas saber que não pode desistir ou parar agora, em meio à pandemia. Deixar o emprego e o local de trabalho de que tanto gosta agora significaria dificuldades financeiras graves. “Assim como os médicos, que não vão parar agora por causa da pandemia, da mesma forma funciona para nós. Temos que estar para o que der o vier.”