OPINIÃO: gestores inconsequentes vendem sonhos e entregam pesadelos
Editorial: A volta da herança maldita
Em agosto de 2019 o jornal O Município publicou um editorial chamado “a herança maldita”. Ele falava dos valores milionários de processos que finalizaram na gestão de Jonas Paegle mas que foram herdados de outras gestões.
O editorial se baseou nas matérias publicadas naquele mês que trouxeram estes assuntos à tona. O primeiro deles falava sobre a execução de uma cobrança do Escritório Central de Arrecadação (Ecad), ajuizada em 1998 no valor de R$ 3 milhões.
Outra matéria falava de um processo de 1994 que funcionários da prefeitura ajuizaram sobre os direitos de FGTS que custaram R$ 2,8 milhões ao erário. Ainda na esfera trabalhista outros processos também foram perdidos e geraram uma dívida de quase R$ 20 milhões ao município de Brusque.
Naquela época esses valores milionários impactaram nas contas públicas e na capacidade de endividamento e pagamento do município, deixando de ser investido em áreas prioritárias para ser utilizado no pagamento destes passivos.
Esta semana uma nova herança maldita bateu à porta da prefeitura. Trata-se de uma ação de improbidade administrativa de mais de R$ 27 milhões relacionada ao processo licitatório, concorrência e contrato administrativo para execução de obras de prolongamento do canal extravasor do rio Itajaí-Mirim, ou seja, margem direita da avenida Beira Rio, no início dos anos 2000, conforme publicamos em nossa edição de quarta-feira.
Os malfeitos do passado aliados à lentidão da Justiça fazem com que estas heranças não recaiam sobre a gestão de quem as criou
Além da prefeitura, o ex-prefeito Ciro Roza e a Empresa Industrial Técnica (EIT) foram condenados a ressarcir ao erário o valor de R$ 6 milhões. Outras cinco pessoas também foram condenadas a pagar R$ 51 mil cada.
Para se ter uma ideia do tamanho deste rombo, basta dizer que daria para construir quase a totalidade da nova Beira Rio, na margem esquerda, que está em execução e deve custar R$ 30 milhões.
Em resumo, numa conta simplista, para construir uma Beira Rio em 2000, se gastou duas e se levarmos em conta os passivos de 2019, poderia ter sido três. São passivos de vultos que consomem os recursos de outras obras de vulto, que simplesmente não existirão.
São heranças malditas deixadas por gestores inconsequentes, que usaram de toda pirotecnia para vender um sonho, uma ilusão, que a decantação do tempo e da verdade mostraram ser pesadelos.
Como vimos, não é a primeira vez que isso acontece e não parece ser a última. Os malfeitos do passado aliados à lentidão da Justiça fazem com que estas heranças não recaiam sobre a gestão de quem as criou, mas postergue para os próximos gestores o ônus.
O que esperamos dos gestores atuais é que deixem um legado de trabalho e obras bem-feitas, que sirvam a comunidade, e não estas bombas relógios prontas para explodir nas próximas gerações, como infelizmente está acontecendo.