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OPINIÃO: Governo do estado quer pagar obras federais e deixa de lado as locais

Editorial: Prioridades, prioridades… A Assembleia Legislativa de Santa Catarina demonstrou, esta semana, que é possível produzir uma boa e uma má notícia com um único gesto. A derrubada dos vetos da governadora interina é, ao mesmo tempo, boa e má notícia. A parte boa é que Santa Catarina estava sendo sacrificada com o entra e […]

Editorial: Prioridades, prioridades…

A Assembleia Legislativa de Santa Catarina demonstrou, esta semana, que é possível produzir uma boa e uma má notícia com um único gesto. A derrubada dos vetos da governadora interina é, ao mesmo tempo, boa e má notícia.

A parte boa é que Santa Catarina estava sendo sacrificada com o entra e sai de governadores e com a insegurança das mudanças, de orientação e de secretariado. Com a volta do titular, a Alesc (em especial a base aliada) deu um sinal forte de lealdade ao governador. Um bom relacionamento com o legislativo tranquiliza as coisas e ajuda na famosa “governabilidade”.

A parte ruim é que essa demonstração de lealdade incluiu a derrubada do veto ao uso de R$ 350 milhões do dinheiro estadual em obras que o governo federal abandonou, esqueceu ou está fazendo de conta que toca, mas não toca. Não é pouco dinheiro: R$ 200 milhões para a BR-470, R$ 100 milhões para a BR-163 e R$ 50 milhões para a duplicação da BR-280, entre Joinville e São Francisco do Sul.

E por que isso, que aparentemente também é bom (afinal, resolve alguns gargalos cujos prazos razoáveis já se esgotaram faz tempo), pode ser considerada como uma má notícia? Ora, pelo simples fato de que o estado não tem dinheiro sobrando e, na fila esperando alguma verba para resolver, estão muitos problemas locais.

Sem fazer a fila local andar, o governo do estado decide assumir obras que o governo federal não parece ter interesse em tocar

Prefeitos e lideranças políticas e empresariais, principalmente na nossa região, ficaram espantados com o fato do governador deixar de atender reivindicações antigas e importantes que são de sua responsabilidade e encontrar espaço e caixa para resolver problemas alheios, de outro ente federativo, que tem mais recursos que o estado.

Existem pendências por todo lado. As desapropriações que permitirão fazer o entroncamento da rodovia Antonio Heil com a BR-101, por exemplo, estão esperando cerca de R$ 30 milhões do estado. Guabiruba tem projetos que aguardam dinheiro estadual, como a Escola João Boos, que há anos se deteriora enquanto há promessa de reforma. Botuverá precisa do dinheiro estadual para a barragem e assim por diante. 

Aí, de repente, sem fazer a fila local andar, o governo decide assumir obras que o governo federal (que teve votação expressiva no estado, e que conta com o apoio explícito do governador) não parece ter interesse em tocar. Certamente porque tem outras prioridades.

E aí voltamos ao problema principal, da má notícia dentro da boa notícia: o uso desses R$ 350 milhões nas obras federais significará exatamente o que, em relação às obras estaduais? Como ficam, na lista de prioridades, as demandas mais importantes para cada região? Terá Santa Catarina, ao mesmo tempo em que ajuda o governo federal de forma tão generosa, ainda algum fôlego para atender as várias obras locais cujos recursos estão na fila de espera há tanto tempo?