OPINIÃO: orçamento da União privilegia corporativismo político
Editorial: A farra de bilhões Virou comum falar mal de nossos representantes políticos. Muitos reclamam de seus salários, de privilégios, de seu corporativismo. Essa “persona” que se formou de nossos representantes deriva de percepções, de situações distorcidas e até delituosas, mas muito no campo teórico, hipotético, sem uma comprovação prática. Até decisões judiciais tidas como […]
Editorial: A farra de bilhões
Virou comum falar mal de nossos representantes políticos. Muitos reclamam de seus salários, de privilégios, de seu corporativismo. Essa “persona” que se formou de nossos representantes deriva de percepções, de situações distorcidas e até delituosas, mas muito no campo teórico, hipotético, sem uma comprovação prática. Até decisões judiciais tidas como absolutas são revertidas, criando um clima de insegurança e polarização.
Mas um assunto não pode entrar neste campo teórico: os números, e nada mais emblemático que analisarmos o orçamento de nosso país, aprovado em março deste ano. Nele estão os números financeiros de toda receita e despesa previstas para 2021 e dão uma ideia muito clara para onde estão nos levando com os recursos.
A primeira conclusão é que estamos gastando muito mais do que arrecadamos. Segundo a Agência Brasil, tivemos um déficit primário de 702,9 bilhões no ano passado. Foi o sétimo ano consecutivo de resultados negativos nas contas públicas, com alta de 641,078 bilhões em relação a 2019, quando o déficit primário foi de 61,872 bilhões. Neste ano, o déficit previsto é de 247,01 bilhões e a previsão é de que ainda vamos ter déficit nos próximos dez anos, segundo a Infomoney.
Se estamos levando o Brasil a um endividamento desastroso e continuamos a nos endividar há algo de muito errado em nossa gestão. É claro que tivemos despesas extraordinárias para combater a pandemia, mas muitas lições de casas que precisam ser feitas continuam num limbo.
Uma destas aberrações são as verbas para emendas parlamentares (dinheiro que deputados e senadores destinam às suas bases eleitorais) que a cada ano vem crescendo. No ano passado, foram pagos mais de R$ 16 bilhões em emendas e neste ano a previsão é de um recorde de R$ 48,8 bilhões.
O valor foi fruto de uma negociação que agradou a imensa maioria dos parlamentares e chegou a ser chamado por eles de “Festa de Emendas”. O grande problema é que não vimos as ideologias de esquerda e direita serem contra, muito menos as do centrão. Na hora de conseguir o butim, juntaram-se todos.
Somos um país que premia com bilhões os políticos, mesmo numa gestão ruim, e açoita o empresário
Só para se ter uma ideia, este valor daria para financiar mais de três Pronampes (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), que foi lançado no ano passado e liberou um montante de R$ 15,9 bilhões destinados a ajudar milhares de empresas.
Imagine, caro leitor, se ao invés de fazer esta festa de bilhões junto aos congressistas ele viesse em forma de crédito para todas as empresas que precisam a ainda querem empreender. Seria uma revolução.
Mas o empresário este ano continua na condição de espectador, assistindo à aprovação deste orçamento que não lhe favoreceu em nada, só confirmou o corporativismo político em proveito de interesses políticos.
Nem o Pronampe, que citamos acima, e que foi tão necessário para a economia no ano passado, este ano está na promessa, aguardando a sanção presidencial.
O orçamento aprovado mostra muito de como as coisas funcionam no Brasil. Ainda somos um país que premia com bilhões os políticos, mesmo numa gestão ruim, e açoita o empresário que tem que se desdobrar mais para sobreviver e ainda ajudar a pagar esta farra.