OPINIÃO: Processos de impeachment foram teatros protagonizados por atores da política
Editorial: As idas e voltas de Moisés
Na sexta-feira passada o governador Carlos Moisés voltou ao cargo depois de ser inocentado pelo Tribunal de Julgamento e absolvido do segundo processo de impeachment, conforme publicamos aqui no jornal O Município.
É o fim de uma novela que começou com o primeiro afastamento em 27 de outubro de 2020 e teve como base o caso do aumento salarial dado aos procuradores de Santa Catarina. Na ocasião, Daniela Reinehr assumiu interinamente o poder Executivo por um mês, quando Moises foi absolvido e voltou ao cargo.
O segundo afastamento por impeachment foi no dia 26 de março e estava relacionado à compra dos 200 respiradores por R$ 33 milhões com dispensa de licitação. Estes episódios renderam o título de primeiro governador a ser afastado duas vezes do cargo desde a redemocratização do país.
Durante este período pudemos observar o quão frágil são nossas instituições e como, de fato, funcionam. A primeira surpresa foi o comportamento da vice-governadora, que na primeira oportunidade já operou mudanças no secretariado e mudou o discurso e as ações em relação ao enfrentamento da pandemia, mostrando um desalinhamento com o seu companheiro de chapa.
Na segunda vez que assumiu interinamente o governo, já fez uma aliança com velhos caciques de nossa política e teve uma postura clara de confronto em relação ao governador Carlos Moisés. Isso confunde o eleitor que vota em uma dupla entendendo que ela esteja alinhada e seja complementar e na prática vê um ato de traição na primeira oportunidade que surge.
Outro ponto importante é a constatação dos interesses pessoais de nossos deputados em relação aos interesses do eleitor. Quando foi aprovado o primeiro impeachment a ideia era o afastamento do governador e da vice, para que o então presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia, assumisse e a partir daí pavimentasse o caminho para as próximas eleições.
O espetáculo da nova política é tão sem graça e antiquado quanto o da velha
Mas o plano deu errado, Júlio Garcia chegou a ser preso pela operação Alcatraz e o tribunal deixou a vice no poder, mudando o cenário. Assim, boa parte dos deputados que conspiraram contra o governador, agora flertavam com ele e trabalharam para trazê-lo de volta ao poder.
Este movimento também deixou claro que não houve e não há um interesse genuíno em se fazer justiça, mas sim em se fazer política. O próprio discurso do governador mudou e sua postura arrogante e isolacionista se mostra agora mais flexível e diplomática.
Nesta semana, já tratou de conversar com os deputados e abrir um “novo canal de comunicação” e provavelmente de negociações para continuar sua travessia sem demais percalços.
Mais do que ninguém, o brusquense sabe o prejuízo que estas idas e voltas ao poder causam. Passamos por isso em 2015 quando Roberto Prudêncio assumiu a prefeitura no lugar de Paulo Eccel, que foi cassado (e em 2017 inocentado). Um ano depois, em junho de 2016, uma nova troca de governo, com Bóca Cunha assumindo a prefeitura numa eleição indireta.
Assim como em Brusque, Santa Catarina sofreu muito, com o agravante de estarmos numa pandemia. O estado teve prejuízos com as trocas de secretários, de políticas públicas, com visões diferentes em relação ao enfrentamento da pandemia, em relação à insegurança para novos investimentos.
Agora percebemos que foi tudo em grande teatro, protagonizado por atores dos mais altos escalões de nosso poder, que atraíram nossa atenção, nos distraindo a cada entrada e saída de cena para deixar tudo como está, mostrando que o espetáculo da nova política é tão sem graça e antiquado quanto o da velha.