Os sessenta são os novos trinta?
Isabella Rossellini completou 64 anos de vida na semana passada. Ela foi uma das atrizes mais emblemáticas dos anos 80 – e não precisaria ter feito muitos papeis além do que viveu em Blue Velvet, Veludo Azul, de David Lynch. Filme que está comemorando 30 anos neste 2016 cheio de datas redondas e assustadoramente distantes.
Para quem não prestou atenção, atriz é filha do diretor Roberto Rossellini e da super mega musa Ingrid Bergman (sim, a de Casablanca), mas o sucesso de Isabella não foi injusto. Não foi mais um caso de “DNAcracia”. A beleza e o carisma a levaram a assumir o posto de primeiro rosto da Lancôme, em 1983. Foi uma das primeiras atrizes a ter uma ligação desse tipo com uma marca, normalmente um papel dado a modelos, profissão que ela exerceu por pouco tempo, no começo de sua carreira.
Aí começa a história que nos interessa… A marca de cosméticos não renovou contrato com Isabella, quando ela completou 40 anos. Nos anos 90, o foco do marketing da empresa, aparentemente, tinha um alvo mais jovem. O que é curioso, já que toda a indústria de beleza se baseia na ideia de combater o envelhecimento, não é? Talvez a estratégia mais fácil seja mesmo a negação. 40 anos é um marco complicado na vida de uma mulher. A mensagem que a Lancôme passou, na época, não poderia ser pior: uma mulher de 40 é uma mulher descartada.
Mas… não mais. Há alguns meses, Isabella Rossellini voltou a assinar com a Lancôme. Ela é novamente embaixadora da marca – só que agora passando uma mensagem muito mais inclusiva. Nas palavras de Françoise Lehmann, gerente geral da marca, “além dos valores Lancôme, que ela representa não magnificamente, Isabella representa a ideia de uma beleza completa, que é sinônimo de bem estar. Ela também mantém uma atitude muito positiva e serena em relação à idade, que ela vive de uma forma libertadora e auto-afirmativa”.
Várias grifes estão acordando para o potencial das mulheres mais velhas em suas campanhas. Há pouco tempo, vimos uma Joni Mitchell de longos cabelos brancos, aos 70 anos, posando para a Saint Laurent. Moda ou quebra de padrões? Difícil saber. Mas, de qualquer forma, ainda que passageira, esta é uma declaração importante, que pode mudar o olhar do mundo sobre a obrigatoriedade de ser jovem.
Claro que continuaremos vendo meninas novíssimas e magérrimas nas passarelas das semanas de moda ainda por muito tempo, claro que as campanhas que mostram rostos mais maduros ou formas fora dos arquétipos ainda serão tão poucas que poderemos fazer uma pequena lista com elas, mas é preciso começar por algum lugar. Resgatar uma Isabella Rossellini para o universo dos cosméticos pode soar hipócrita e até condescendente… mas tem um lado grandioso, verdadeiramente belo, que não devemos ignorar. Especialmente porque ela não parece ser uma vítima daqueles tratamentos cosméticos que transformam rostos em máscaras.
Que este seja um fato que contribua para que, cada vez mais, a beleza tenha muitas, muitas faces.
Claudia Bia – jornalista